A base produtora do leite, representada pelo Movimento Construindo Leite Brasil, por exemplo, enviou ao governo federal suas propostas para atravessar este momento de perdas na atividade, também impactada pelos altos custos de produção, em consequência da política cambial, e pelas constantes quedas do preço da matéria-primeira.
Entre os pedidos feitos à ministra pelo Construindo Leite Brasil, estão a criação de linha de crédito emergencial, com taxas e prazos compatíveis, para socorrer os produtores atingidos pela estiagem; a redução dos juros do financiamento rural já contratado e a prorrogação das prestações dessas operações. Além disso, os pecuaristas de leite pleiteiam que sejam desconsideradas as recomendações do zoneamento agrícola de risco climático para a safra 2021/22 no RS e que as seguradoras revisem os critérios para as culturas ainda não implantadas e lavouras com necessidade de replantio.
“Muitos agricultores não conseguiram implantar as lavouras por causa da estiagem e em inúmeros casos há necessidade de replantio”, diz Rafael Hermann, uma das lideranças do Construindo Leite Brasil, movimento que reúne milhares de produtores gaúchos e de outros estados nas mídias sociais.
O Mapa já avisou que é impossível alterar o zoneamento. “Entendemos a posição do Mapa, mas o pessoal não sabe o que fazer, porque pode ficar sem a cobertura do seguro rural. Temos orientado aqueles que não implantaram as culturas que chamem as seguradoras para ver a situação”, diz Hermann.
Suspensão temporária das importações
Outra proposta dos pecuaristas leiteiros é o uso dos recursos do Plano Safra 2021/22 para cultivares adaptáveis ao estado, devido ao estresse hídrico, com orientação das instituições de pesquisa”, informa Hermann, produtor em Boa Vista do Cadeado, no noroeste do RS.
O Construindo Leite Brasil propõe ainda a criação de projetos de irrigação subsidiados, com opção de energia solar, e de poços artesianos, barragens, poços, açudes para captação de água de chuva, com uso de geomembranas. Também defende a suspensão temporária da importação de leite, a fim equilibrar o mercado interno, possibilitando a recuperação de preço ao produtor.
A base produtora quer ainda que o Ministério da
Agricultura reavalie todas as formas de incentivo ao setor, para que beneficiem de fato o pecuarista de leite, sem intermediações. “Temos programas governamentais que passam pelas indústrias e não chegam aos produtores de leite adequadamente”, observa.
Hermann acrescenta que os pequenos e médios produtores estão praticamente pagando para trabalhar. “Com o modelo adotado pelas grandes indústrias lácteas, a remuneração não cobre os custos de produção e reduz cada vez mais as margens da atividade. Com as catástrofes climáticas e sem recursos financeiros, as famílias produtoras estão sem condições de quitar as dívidas.”
Renegociação de débitos e subsídios
Para Hermann, só há uma saída: renegociar os débitos e conceder subsídios para apoiar os pequenos e médios produtores de leite, por meio de um plano emergencial. “A agricultura está comprometida com a falta de água e de alimentação para os animais. Isso está agravando os problemas socioeconômicos dos municípios.”
Ainda de acordo com Hermann, a ministra Tereza Cristina e a equipe técnica do Mapa têm dialogado com a base produtora de leite gaúcha, mas “o momento exige que as ações do governo federal, assim como as do governo estadual e das prefeituras, tenham efeito prático na atividade leiteira, até mesmo porque a quebra da produção acabará atingindo o consumidor”.
Até o momento, mais de 115 municípios gaúchos já decretaram estado de emergência. Segundo a Emater-RS-Ascar, 1,6 milhão de litros de leite estão deixando de ser captados por dia no estado, o que tem reduzido a renda dos pecuaristas. Ao mesmo tempo, conforme a Fecoagro/RS, a estiagem causou a perda de quase 60% do milho sequeiro e de 13,5% das lavouras irrigadas do cereal.
Os produtores de leite de Santa Catarina, do Paraná e Mato Grosso do Sul igualmente estão tendo prejuízos por causa de problemas climáticos. “E agora ainda temos mais problemas no setor com as fortes chuvas na Bahia, Minas Gerais e Tocantins. Por isso, apostamos todas as nossas fichas nos governos federal e estaduais e nas prefeituras para que nos socorram”, pontua Hermann.