Os produtores de leite e de carne da ilha Terceira, nos Açores, vão fazer uma marcha lenta, com tratores e carrinhas, em Angra do Heroísmo, na sexta-feira, em protesto pelo preço pago pela indústria, anunciaram esta terça-feira.
“A manifestação é para mostrar a indignação dos produtores e para perceberem que não é só o presidente da associação que manifesta o descontentamento. Há um descontentamento geral, quer dos produtores de leite, quer dos produtores de carne da ilha Terceira”, adiantou, em declarações à Lusa, o presidente da Associação Agrícola da Ilha Terceira (AAIT), José António Azevedo.
Segundo o dirigente, a ideia partiu de um grupo de produtores, que pediu apoio à associação na organização de uma manifestação, em que esperam uma adesão elevada. “Neste momento já temos a garantia de mais 100 tratores com reboques”, avançou José António Azevedo.
A manifestação surge na sequência do anúncio do aumento de um cêntimo no preço do litro de leite pago aos produtores das ilhas Terceira e Graciosa, pela União das Cooperativas de Laticínios Terceirense (Unicol).
É ridículo. Um aumento de um cêntimo por litro de leite representa 3,7% de aumento, quando em média os fatores de produção já manifestam um aumento de 25%. Ninguém tem margem de lucro de 20% para poder absorver o remanescente dos aumentos que se estão a verificar”, apontou o presidente da AAIT.
O preço base pago ao produtor por litro de leite na ilha Terceira é de 25 cêntimos (já depois do aumento), valor que, segundo os produtores, não acompanha a inflação registada nos fatores de produção.
“Foi-nos anunciado um aumento e não há perspetiva de evolução do preço. Para que se possa acompanhar a evolução de todos os fatores de produção, o leite também tem de aumentar, pelo menos 20 a 25%, o que representa cinco a seis cêntimos”, salientou José António Azevedo.
Segundo o dirigente da AAIT, o problema, que “é transversal às outras ilhas e até mesmo ao continente português”, tem levado muitos produtores a pensar “em abandonar o setor”.
“Portugal está na cauda da Europa, em termos de preço pago ao produtor, no leite. Não se compreende, quando outros países, que têm uma produção idêntica a Portugal, já há muito que subiram o preço do leite ao produtor“, afirmou.
Os produtores querem também apelar, com esta manifestação, ao Governo Regional dos Açores para que crie mecanismos de salvaguarda no programa comunitário POSEI, para que “não fiquem obrigados a produzir leite barato para alimentar as indústrias, que não fazem o pagamento devido ao produtor”.
“Têm de se criar mecanismos de salvaguarda, pelo menos para que os produtores não tenham de pegar no dinheiro dos apoios que vêm de Bruxelas, produzir leite barato para entregar às indústrias e as indústrias levarem a mais-valia desse leite transformado para fora da região. É o que está a acontecer neste momento”, acusou o presidente da AAIT.
O protesto dos produtores de carne e de leite da ilha Terceira está marcado para as 10h de sexta-feira (11h em Lisboa), com saída da zona industrial de Angra do Heroísmo, com “tratores agrícolas, carrinhas e tanques de leite”, numa marcha lenta em direção à cidade.
José António Azevedo disse que a ação pode ser apenas “o início de uma batalha que vai ter de ser feita”.