A equação da alta o preço do queijo é simples. O momento é azedo para os produtores, que acenderam o alerta em razão da alta no valor do leite. Na última divulgação do IBGE, referente à inflação de julho, o leite UHT registrou alta de 25,5% nos supermercados.
“Estamos num período bem complicado na produção de queijo aqui em Minas Gerais. Ou até mesmo falta de queijo no mercado”, diz Leandro Batista, economista e produtor de Itanhandu, no Sul de Minas. No famoso Mercado Central de Belo Horizonte, segundo comerciantes, a venda caiu ao menos 30%.
A produção de leite registrou queda de 9% no primeiro semestre de 2022 em relação ao mesmo semestre do ano passado, prejudicada pelo incremento de custos e recuo das margens. Com pouco leite no campo, houve forte competição entre os laticínios na compra do produto, elevando o preço da matéria-prima.
Foi também o momento de forçar repasses no mercado atacadista, aproveitando o momento de escassez para recuperar margens. O período entre maio e agosto deste ano foi o melhor para a rentabilidade no setor. O nível de incertezas e a preocupação com os preços, entretanto, vêm ganhando espaço nos últimos dias.
Para Leandro Batista, o cenário global afeta diretamente a produção de leite no país. “Com a valorização da carne nos mercados externos, está muito mais viável financeiramente criar gado de corte, logo alguns pequenos pecuaristas de leite deixaram de produzir e viraram seu gado para corte. 90% da produção nacional são de pequenos produtores (500litros/dia).”
Para piorar, segundo ele, a seca do período de outono e inverno reduziu as pastagens, obrigando os produtores a aumentarem a ração concentrada – mais cara – que ajuda as vacas na produção de leite.
Uma saída encontrada por produtores é a “dobradinha” de produção, na qual são fabricados queijos mais elaborados e outros mais simples, que possuem volume de venda e margem de lucros diferentes. Além dos queijos tradicionais, entram em cena os autorais, peculiares e exclusivos.
Consumidores também deixaram de comprar o queijo inteiro e passaram a comprar em pedaços. “A estratégia de fracionar os queijos também funciona, pois talvez para alguns de classe C e D ainda seja inviável comprar um queijo Brie inteiro, mas ele pode levar uma pequena fração por um preço que cabe no bolso e saborear um bom produto, mesmo que em pouca quantidade”, explica Leandro Batista.
Um estudo divulgado pela Abiq (Associação Brasileira das Indústrias de Queijo) aponta que o consumo das classes C e D é o que vem garantindo fôlego ao setor. Isso acontece, segundo o produtor de Itanhandu, por conta do fortalecimento da classe média na última década.
“Houve uma explosão no consumo de queijos nas classes C e D, devido ao fortalecimento da classe média no Brasil. Antes essas classes comiam apenas os queijos frescos nacionais. Hoje, têm acesso a todo portfólio de queijos, desde os mais frescos e simples até os mais maturados e refinados, nacionais ou importados.”
Cenários
No mercado internacional, o cenário de crescimento econômico piorou, de acordo com o boletim da Embrapa. O risco de recessão dos Estados Unidos aumentou, as previsões de crescimento europeu são piores e a China vem mostrando sinais de desaceleração do crescimento.
Os grandes fundos de hedge estão reduzindo suas exposições em commodities, contribuindo para o recuo nas cotações, sejam elas metálicas, energéticas ou agrícolas. O milho teve os preços recuando do patamar de 8 dólares/bushel para cerca de 6 dólares/bushel no mercado norte-americano entre maio e agosto.
Os lácteos também recuaram nos últimos leilões da plataforma GDT, com o leite em pó integral sendo cotado em US$3.544/tonelada em 2 de agosto, o menor preço desde 17 de agosto de 2021.
Segundo a Embrapa, o mercado segue pouco ofertado e ainda no período de entressafra no Sudeste e Centro Oeste, mas observa-se um ajuste nos preços com tendência baixista.
De acordo com o levantamento, a aproximação da safra, o crescimento do volume de leite ofertado na região Sul do Brasil, o aumento das importações e a fraca demanda interna por lácteos são as bases do cenário atual.
Vale destacar que os custos seguem elevados e, caso haja quedas mais intensas nos preços ao produtor nos próximos meses, novo desequilíbrio de oferta poderá ocorrer em 2023, seguindo com um mercado de alta volatilidade e de difícil gestão de risco.