Com queda no consumo interno e aumento dos custos, muitos produtores de leite no Brasil, especialmente os de menor porte, enfrentam um cenário desafiador.
No entanto, iniciativas de gestão eficiente e adaptação tecnológica vêm permitindo que muitos deles resistam à pressão e reinventem seus modelos produtivos, como ocorre no norte de Minas Gerais.
Atualmente, cerca de 90% dos produtores de leite brasileiros produzem menos de mil litros por dia, segundo dados do setor. Embora sua participação no volume total venha diminuindo, esses produtores ainda representam a base da pecuária leiteira no país.
No entanto, o desequilíbrio entre oferta e demanda, agravado pela estagnação da economia e pelos altos custos de produção, tem levado muitos a abandonar a atividade.
Em momentos de queda de preços — como os registrados após o pico de R$ 3,57 por litro em julho de 2022, seguido de uma baixa para R$ 1,97 em outubro de 2023 — a pressão sobre o pequeno produtor aumenta. Ainda assim, no ano seguinte, com a recuperação da demanda, o litro voltou a subir para R$ 2,87 em setembro de 2024, mostrando o caráter cíclico da atividade.
Esses movimentos reforçam a necessidade de uma gestão estratégica e de longo prazo, como defende Leonardo Peres, médico veterinário e gerente regional da Chemitec Agro-Veterinária: “A boa gestão não é momentânea. Ela é a garantia de um negócio duradouro e rentável”.
Segundo Peres, abandonar a produção não deve ser a primeira opção. Ele destaca que, mesmo com margens reduzidas, há espaço para melhorias na rentabilidade por meio da eficiência.
Isso passa por reduzir custos sem perder qualidade, investir em tecnologias acessíveis e buscar alternativas que mantenham a produtividade com sustentabilidade.
Entre os principais custos do produtor estão a alimentação dos animais, medicamentos e vacinas, manutenção das instalações, higiene, transporte e energia.
Em muitos casos, a adoção de tecnologias simples, como sensores de energia ou o uso racional de insumos, pode gerar economia e melhorar os resultados.
Outro exemplo é o uso de sensoriamento remoto por satélites, que já apoia produtores na medição do crescimento do capim com mais precisão, otimizando o uso do pasto e reduzindo desperdícios.
Essa prática vem sendo adotada em diversas regiões do Brasil, incluindo o norte mineiro, como uma ferramenta para tornar a pecuária mais sustentável.
Peres ressalta que, embora o Brasil não seja um exportador relevante de leite, o mercado interno segue sendo estratégico. Portanto, manter o equilíbrio entre produção e consumo é vital para garantir preços minimamente sustentáveis.
“A oferta maior que a demanda impacta diretamente no preço. Quando o consumo recua, como aconteceu no início de 2025, e os custos continuam subindo, o produtor sente no bolso”, afirma.
Nestes momentos, o segredo está em gerenciar custos, monitorar os indicadores da fazenda e se preparar para as oscilações naturais do setor.
A experiência de produtores no norte de Minas Gerais mostra que é possível enfrentar essas adversidades com inovação e resiliência. A saída passa por profissionalizar a gestão, capacitar-se continuamente e apostar em soluções adaptadas à realidade de cada propriedade.
No fim das contas, o ciclo do leite continuará a oscilar. Mas os produtores que mantêm o foco na eficiência e na gestão integrada estarão sempre um passo à frente, prontos para aproveitar as oportunidades quando os ventos voltarem a soprar a favor.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Compre Rural