As projeções da Emmi para 2025 voltaram ao centro das atenções nesta semana, quando a CEO Ricarda Demarmels reafirmou o cenário esperado para a gigante suíça de lácteos diante de investidores globais.
A decisão de manter um guidance considerado conservador, mesmo com sinais de avanço orgânico robusto em alguns mercados, acabou pesando no humor da Bolsa: as ações recuaram 1,2% logo após a apresentação, refletindo a cautela de curto prazo que parte do mercado mantém em relação ao setor.
Durante o encontro, Demarmels reforçou que a Emmi trabalha com crescimento orgânico de vendas entre 2% e 3%, sustentado principalmente por incremento de volume em linhas ligadas à saudabilidade — um movimento observado tanto na Europa quanto nas Américas.
A executiva também reiterou que o EBIT deverá permanecer no limite inferior da projeção de CHF 330 a 350 milhões, uma indicação que, para analistas, sugere disciplina financeira em meio a um ambiente macro que ainda cobra eficiência.
Mesmo assim, investidores parecem dividir leituras. De um lado, a reafirmação das metas demonstra confiança no planejamento traçado para 2025.
De outro, o mercado buscava sinais mais ousados depois do desempenho superior registrado no primeiro semestre, especialmente fora da Europa. Essa combinação explica, segundo agentes ouvidos no setor, o recuo imediato das ações — mais ligado ao “timing” das expectativas do que a dúvidas estruturais sobre o negócio.
A Emmi tem se beneficiado de forma consistente de transformações globais no consumo de lácteos. Entre os motores de crescimento, a empresa cita o avanço dos produtos proteicos, uma tendência que ganhou fôlego com a busca dos consumidores por alimentos funcionais, praticidade e recomposição nutricional.
Além disso, segmentos ligados a saúde intestinal, naturalidade e bem-estar seguem registrando expansão, especialmente nos EUA e na América Latina, regiões nas quais a companhia reforçou presença nos últimos anos.
Esse movimento em direção a lácteos de maior valor agregado caminha em paralelo ao fortalecimento do portfólio de indulgência premium — área estratégica para a empresa e que continua entregando resultados sólidos.
Na terça-feira, a Emmi anunciou a compra da The English Cheesecake Company, fabricante britânica de cheesecakes premium voltada ao varejo, com vendas anuais de cerca de GBP 23 milhões. Para fontes do mercado de sobremesas, a aquisição reforça um posicionamento que combina escala com especialização, mirando consumidores dispostos a pagar mais por qualidade e experiência sensorial.
A operação se soma à aquisição anterior da Mademoiselle Desserts, que consolidou uma posição relevante no segmento de food service do Reino Unido. Com isso, a Emmi passa a controlar duas plataformas complementares em um mercado que valoriza produtos artesanais, indulgentes e com diferenciação.
Segundo analistas europeus, trata-se de um tabuleiro estratégico que posiciona a companhia com vantagem competitiva para capturar valor em nichos premium à medida que o varejo britânico mantém demanda resiliente por sobremesas de alto padrão.
Outro ponto destacado pela administração é a expectativa de redução da alavancagem para 1,5x até o fim de 2026, à medida que as integrações avancem e os efeitos sinérgicos comecem a aparecer.
Para o mercado financeiro, esse é um sinal relevante de equilíbrio entre expansão e prudência — especialmente em um ano marcado por volatilidade cambial e pressões tarifárias sobre parte das exportações europeias.
A consultoria Kepler, em nota enviada a clientes, avaliou como “tranquilizadores” os comentários da CEO. Os analistas destacaram que, apesar de ventos contrários vindos do câmbio, a empresa demonstra clareza estratégica e disciplina para sustentar margens.
No entendimento deles, a resposta da Bolsa não reflete necessariamente fragilidade operacional, mas um ajuste típico de momentos em que expectativas se descolam da comunicação corporativa.
Para o setor lácteo, o caso Emmi reforça um ponto-chave: empresas que combinam escala global, diversificação geográfica e portfólios premium tendem a se mover com mais agilidade em cenários de consumo fragmentado.
O avanço na América Latina, o reforço em linhas proteicas e o crescimento de sobremesas indulgentes no Reino Unido formam um tripé que pode manter a empresa bem posicionada em 2025 — desde que as projeções se cumpram e a integração das aquisições ocorra dentro do planejado.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Investing.com






