As proteínas lácteas bioativas estão ganhando destaque como ingrediente-chave para o envelhecimento saudável, especialmente no combate à sarcopenia — perda de massa e força muscular comum após os 60 anos.
Com a expectativa da OMS de que a população mundial acima dessa idade dobre até 2050, superando 2 bilhões de pessoas, cresce a necessidade de soluções nutricionais que mantenham a funcionalidade, a independência e a qualidade de vida.
Reconhecidas como padrão ouro em nutrição proteica, as proteínas lácteas oferecem alto valor biológico, excelente digestibilidade e um perfil de aminoácidos que atende ou excede as necessidades humanas.
A composição inclui caseínas (80% do total proteico do leite bovino), que liberam aminoácidos de forma lenta, e proteínas do soro (whey protein), de digestão rápida e ricas em leucina — aminoácido que ativa a via mTORC1, essencial para estimular a síntese de proteínas musculares, cuja eficiência tende a diminuir com a idade.
Além de fornecerem todos os aminoácidos essenciais, as proteínas lácteas apresentam peptídeos bioativos com propriedades fisiológicas específicas.
Entre eles, compostos derivados da caseína, como IPP e VPP, demonstraram efeito anti-hipertensivo ao inibir a enzima conversora de angiotensina. Já peptídeos antioxidantes ajudam a neutralizar radicais livres, reduzindo danos oxidativos associados à perda muscular e ao envelhecimento precoce.
Outros, como lactoferrina e lactoperoxidase, exibem ação imunomoduladora, fundamental para idosos que sofrem com a imunossenescência.
Essa combinação de benefícios é particularmente relevante diante do fenômeno chamado inflammaging, caracterizado por inflamação crônica de baixo grau que acelera a perda de massa magra e aumenta a resistência à insulina.
Estudos indicam que certos peptídeos lácteos podem reduzir citocinas pró-inflamatórias como IL-6 e TNF-α, ajudando a frear esse processo.
No contexto da sarcopenia, a whey protein se destaca pela rapidez de absorção e alta concentração de leucina, que ajudam a superar a resistência anabólica típica do envelhecimento.
A ingestão adequada de proteína — especialmente de alta qualidade — é apontada pelo European Working Group on Sarcopenia in Older People como um dos fatores de risco modificáveis mais importantes.
Para a indústria de alimentos, o potencial dessas proteínas impulsiona o desenvolvimento de iogurtes proteicos, bebidas lácteas enriquecidas, sobremesas funcionais e suplementos em pó direcionados a públicos sênior e esportivo.
Cresce também o uso de whey protein hidrolisada, com melhor digestibilidade, solubilidade e liberação controlada de peptídeos bioativos — solução ideal para bebidas ready-to-drink.
Blends que combinam proteínas lácteas, fibras prebióticas e micronutrientes como cálcio, vitamina D e magnésio vêm se consolidando como formulações completas para suporte ao envelhecimento saudável, aproximando o conceito de “alimento como medicina”.
No entanto, ainda existem desafios tecnológicos, como manter estabilidade em pH ácido, evitar sabor residual e preservar a bioatividade durante a pasteurização.
Do lado regulatório, alegações funcionais como “auxilia na manutenção da massa muscular” exigem comprovação científica robusta, e o reconhecimento dessas claims varia conforme a jurisdição.
O mercado está aquecido: segundo a Grand View Research, o setor global de whey protein superou US$ 10 bilhões em 2023, impulsionado não apenas pelo consumo esportivo, mas também pela demanda crescente do público idoso.
Europa e Japão já registram forte penetração de bebidas e suplementos voltados a essa faixa etária, enquanto políticas públicas incentivam dietas que previnam a sarcopenia, reduzindo custos com saúde.
Diante desse cenário, as proteínas lácteas bioativas não apenas alimentam, mas também atuam como ferramenta estratégica para preservar a autonomia e a vitalidade de uma população que envelhece mais — e quer envelhecer melhor.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Ciência do Leite