Essa é uma preocupação genuína com o meio ambiente ou faz parte de uma agenda obscura para ameaçar a produção e a segurança alimentar? Embora o discurso ambiental em fóruns internacionais se concentre na urgência de reduzir as emissões, parece que a verdadeira urgência é encontrar um inimigo.
O metano, produzido pela digestão de ruminantes, faz parte do ciclo biogênico do carbono e não permanece na atmosfera por mais de 10 anos quando reciclado, mas é apontado como um dos principais contribuintes para o aquecimento global.
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Países com sistemas de produção mais intensivos, como a Argentina e o Uruguai, enfrentam aumentos que podem afetar seus mercados domésticos e suas exportações. O Brasil e o México, onde predominam os pequenos e médios produtores, também precisam encontrar soluções para se adaptar sem perder a competitividade.
Na Argentina, o impacto da implementação de tecnologias para reduzir as emissões poderia aumentar os custos em 10% a 15%, com base em relatórios do Observatorio de la Cadena Láctea Argentina (OCLA).
No Uruguai, onde as fazendas leiteiras são altamente especializadas, o custo adicional da adoção dessas tecnologias pode ficar entre 7% e 12%. O Instituto Nacional do Leite (INALE) publicou estudos sobre esses custos, em especial para a produção de leite em pó, que representa uma parte significativa de suas exportações.
No Brasil, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e estudos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a implementação de tecnologias para mitigar as emissões pode aumentar os custos em 12 a 17%.
As grandes fazendas estão mais bem posicionadas para absorver esses custos, enquanto os pequenos e médios produtores, que respondem por uma grande parte da produção nacional, podem ter dificuldade para se adaptar.
No México, relatórios do Conselho Nacional do Leite (Conalac) e do Instituto Nacional de Pesquisas Florestais, Agrícolas e Pecuárias (INIFAP) sugerem que a conformidade com as regulamentações pode aumentar os custos em 10% a 13%, devido aos investimentos necessários em infraestrutura e às mudanças nas dietas dos animais.
No Chile, de acordo com dados da Odepa (Oficina de Estudios y Políticas Agrarias) e do Consorcio Lechero, o aumento dos custos pode ser de 8% a 14%.
Na América Latina, os produtores são forçados a competir em um cenário internacional em que as regras nem sempre são justas. Dizem que estamos salvando o planeta ao reduzir as emissões de metano do gado (?). Mas a que custo?
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A Terra tem passado por ciclos climáticos desde o início dos tempos e, embora os seres humanos certamente deixem sua marca, culpar o aquecimento global por eles é uma simplificação conveniente.
O metano como uma ferramenta de controle econômico
A redução do metano tornou-se a bandeira de um movimento global que, em vez de proteger o planeta, parece estar interessado em concentrar o poder produtivo nas mãos de poucos.
As grandes corporações são apresentadas como heroínas da sustentabilidade, enquanto os pequenos produtores, desde os pampas argentinos até as colinas do México, são empurrados para a beira do abismo.
A imposição dessas regulamentações ambientais veio com a clara intenção de remodelar a produção de alimentos em escala global, favorecendo aqueles que já têm os recursos para atender às exigências.
Mesmo em países onde a eficiência da produção é alta, como o Uruguai, o custo de cumprir essas normas pode ser insustentável a longo prazo.
Devemos nos perguntar se estamos dispostos a sacrificar a viabilidade econômica de nossos produtores em nome de uma agenda que responde a muitas outras coisas além do meio ambiente.
Desde as fazendas de leite da Argentina até as fazendas do Brasil, passando pelos pequenos agricultores do México e do Chile, todos compartilham um destino comum: a necessidade de defender seu direito de produzir alimentos sem serem rotulados como inimigos do clima.
É hora de repensar se a redução do metano entérico realmente resolverá os problemas do mundo, porque se continuarmos nesse caminho, não só perderemos a capacidade de alimentar nossas populações, mas também estaremos abrindo mão de nossa soberania alimentar. E isso definitivamente não tem nada a ver com o cuidado com o meio ambiente.