Com restaurantes, lanchonetes e bares funcionando com restrições a demanda por queijo coalho caiu, fazendo com que sobre leite no mercado e prejudique produtores que chegam a jogar o produto fora
As restrições à venda de alimentos e o fechamento parcial de restaurantes, bares, e lanchonetes, além do cancelamento de algumas feiras por prefeituras do interior do Estado, começam a refletir na produção de leite em Pernambuco. Os produtores reclamam de queda nos preços em até 40%, por conta do excesso de produto no mercado e a principal razão seria o pouco espaço para comercialização do queijo de coalho após a determinação da quarentena.
Segundo o presidente do Sindicato de Produtores de leite de Pernambuco (Sinproleite) Saulo Malta, cerca de 100 mil produtores de leite atuam no Estado. A categoria produz atualmente 1,9 milhão de litros de leite por dia, sendo cerca de 60% destinados a fabricação de queijo. “Com a diminuição das vendas de queijo no Recife e o cancelamento de algumas feiras do interior, como a feira do queijo de Cachoeirinha que será suspensa esta semana por conta do coronavírus, muitas queijarias pequenas estão fechando e deixam de comprar o leite ao produtor. O resultado, é que o leite sobra e o preço cai “, explica Saulo.
PREÇO
O produto chegou a ser vendido por até R$ 1,40 o litro, há três meses, hoje é oferecido a até R$ 0,80 o litro, diz o presidente do Sinproleite. Ele estima que, com o consumo normal, o volume de produção de queijo coalho em Pernambuco chegue a 3 mil toneladas por mês. “Quem ainda vende leite para a indústria está conseguindo se manter. Pernambuco tem três grandes laticínios na Bacia Leiteira do Agreste que produz, principalmente, leite UHT, em caixa. Mas os milhares de pequenos produtores que forneciam leite exclusivamente para as queijarias artesanais estão sem ter para quem vender, ou então oferecem às industrias à preços abaixo do custo até”, afirmou.
A categoria agora pede ajuda ao governo do Estado no sentido de reduzir os custos do produtor e promover o consumo do queijo de coalho. Os produtores querem, por exemplo, a prorrogação do recolhimento do ICMS, apoio na renegociação de empréstimos tomados nos bancos oficiais e aumento das compras de produtos lácteos pelo governo do Estado e prefeituras para o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos). “Algumas prefeituras estão distribuindo cestas básicas e kits de merendas para alunos da rede pública. Por que não incluir derivados do leite produzidos em Pernambuco nesses programas?”, questiona.
AÇÕES
Por meio de nota, a secretaria estadual de Desenvolvimento Agrário informou que o Governo do Estado lançou, na última terça-feira (14), um programa específico, com investimento inicial de R$ 1 milhão, para a compra de alimentos produzidos pelos produtores rurais do Estado, incluindo queijo de coalho, leite de cabra, ovos de galinha e de codorna e mel de abelha, além de outros itens hortifrutigranjeiros.
A secretaria estadual divulgou ainda ações junto ao governo federal pedindo a criação de linhas de crédito específica para produtores rurais, além de requerer a prorrogação dos vencimentos dos financiamentos do Banco do Brasil, Banco do Nordeste e BNDES, além da ampliação do Programa Nacional de Aquisição de Alimentos. Em relação ao pedido dos produtores de prorrogação dos vencimentos do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), a Secretaria de Desenvolvimento Agrário informou que o governo do Estado está “avaliando internamente”.
O produtor de leite Washington Azevedo, de Bom Conselho, agreste pernambucano, diz que a situação está difícil e que chegou a ver leite sendo dado de graça à população ou mesmo despejado na rua por alguns produtores inconformados com o preço. “Aqui no agreste ainda temos os grandes laticínios, Nestlé, Lactalis, e Betânia, que compram nossa produção. O problema é que as pequenas fabriquetas de queijo coalho e derivados de leite como iogurtes, achocolatados e coalhada, que também eram nossos clientes, estão fechando porque o maior mercado consumidor, que é o Recife, está restrito. Só em Bom Conselho fecharam umas três fabriquetas nos últimos meses”, diz o produtor. Washington afirmou ainda que pequenos produtores do Sertão, não contam com industrias leiteiras por perto e ficam dependentes da venda para as fábricas artesanais de queijo e derivados. “Como esse pessoal não está produzindo, alguns produtores do Sertão mandam o leite para os laticínios do agreste, derrubando ainda mais o preço do produto”, lamentou Washigton.