O pavilhão da Agricultura Familiar se consagra na Expodireto como uma das maiores atrações da feira de Não-Me-Toque, no norte de Estado. Neste ano, são mais de 200 bancas expondo no local, 45 delas participando do evento pela primeira vez.
O sucesso já se confirma em vendas. Na quarta-feira (8), a comercialização no espaço somou R$ 622,4 mil. Na terça (7), um marco foi anotado: o faturamento no pavilhão quase dobrou em relação ao mesmo dia de feira no ano passado, superando R$ 413,5 mil em vendas — em 2022, haviam sido R$ 233 mil. O valor acumulado nos três primeiros dias passa de R$ 1,2 milhão.
Na manhã desta quinta (9), desde as primeiras horas o local tinha corredores lotados de pessoas querendo provar as delícias da agricultura familiar. O espaço conta uma área de mesas e cadeiras ao fundo do pavilhão, opção de almoço para muita gente que visita o parque.
Entre as estreias, salame de búfalo, queijo de lavanda e geleia de alho negro são as grandes novidades da edição, já com aceitação de público.
De Passo do Sobrado, município que pleiteia reconhecimento como “a capital do búfalo” (o título ainda não foi registrado oficialmente, mas já tem até festa alusiva na cidade), saem as peças que estão fazendo o maior sucesso logo na entrada do pavilhão.
Vanessa Ferreira, hoje à frente da agroindústria Ferreira, era bancária há 10 anos e montou a empresa em plena pandemia. Ela conta que pegou gosto pelas feiras depois da estreia na última Expointer, quando ainda não fabricava salame, e então resolveu apostar na atividade e testar novos produtos. Foi aí que surgiu a ideia do salame de búfalo, que levou quatro meses para ser desenvolvido.
— É a oportunidade de falar da nossa história, de divulgar o município e de falar das vantagens que a carne de búfalo traz — diz Vanessa, que focou nos estudos para tal e fez uma pós-graduação em Engenharia de Alimentos para se aperfeiçoar.
Os benefícios para a saúde são vários, lista a produtora: a carne é rica em ômega 3, tem menos colesterol, menos gordura e mais proteína do que um salame tradicional. E a propaganda tem surtido efeito. O salame é o produto mais vendido da banca e tem embalagens de três tamanhos, de 250 gramas, meio quilo e um quilo. Os preços vão de R$ 18 a R$ 65.
Os clientes que experimentam uma prova gostam do sabor, e acham o salame mais leve.
— Muito bom! Já estamos levando. É bem temperado, mas não é forte. Tem diferença (do salame tradicional), mas para melhor — atestam Pedro e Clarice Florão, criadores de ovelhas e peixes em Nicolau Vergueiro.
O sucesso já motiva a criação de novos produtos com a carne de búfalo, como salsichão para assar e hambúrguer, que devem ser lançados futuramente.
No corredor ao lado, Jackson Jacobs, de Teutônia, é um verdadeiro caçador de inovações, e com esse espírito apresenta na Expodireto o queijo de lavanda.
À frente da Dorf Queijaria, Jacobs já produzia queijo tradicional e demais tipos temperados, mas foi incentivado a investir em um novo sabor por um produtor de lavandas de Morro Reuter, que sugeriu uma harmonização do laticínio com a planta.
— É um projeto inovador e já estamos desenvolvendo outros dois temperados especiais. A ideia é trabalhar um produto diferente. Se tem a possibilidade, por que não? Vamos testar! Isso desperta curiosidade e é o que motiva não fazer mais do mesmo — diz Jacobs.
O caminho de desenvolvimento foi desafiador. No Brasil, a lavanda não é reconhecida pela Anvisa para consumo humano, então a maior dificuldade foi o registro do produto, que precisou se basear em uma normativa dos Estados Unidos, já que lá o uso é reconhecido, conta o produtor. As comprovações e análises microbiológicas foram todas aprovadas e a Anvisa deu o aval. No mundo, Alemanha e Suíça são países que já fabricam queijos semelhantes.
O queijo é feito com as folhas e as flores desidratadas da planta. De início, muita gente estranha e acha a combinação exótica, mas, depois, aprova.
— Antes de provar, alguns associam que é para limpar a casa. A gente já brinca que é para fazer uma limpeza interna, mas não tem nada disso — diverte-se Jacobs.
— É bom! Bem a florzinha, né! Mas gostoso. É um pouquinho mais doce. Está aprovado — garante Tainara Daumling, assessora empresarial, que passeava pela feira.
Novidade em produto e em feiras, a geleia de alho negro da agroindústria De Costa Cogumelos e Alho Negro, de Monte Belo do Sul, é outro estande disputado. Com menos de um ano, a empresa faz estreia na Expodireto apresentando outra iguaria que se destaca pelo inusitado.
Felipe Lazzarotto de Costa, sócio proprietário, conta que a geleia é resultado de um processo captado do alho. O vegetal é colocado em uma sala com altas temperaturas, como se fosse uma estufa. Fica três meses reservado ali, em etapa que retira o odor forte e dá a coloração negra, adquirindo textura semelhante a de uma geleia.
O produtor diz que as propriedades benéficas do alho para a saúde se potencializam nesse formato. A iguaria é usada em pratos como massa ao alho e óleo, risotos, carnes, ou para harmonizar queijos. O vidro de 200 gramas de geleia custa R$ 22 na feira.
— É uma novidade fora da curva pela diversidade do produto. Inicialmente, muita gente fica com receio pelo mau hálito, mas prova, sente o aroma e o sabor que agrega, e vê que é totalmente diferente — diz Costa.
A agroindústria também produz caponata à base de cogumelos e alho negro e caponata tradicional de cogumelo e berinjela. Uma terceira opção oriental remete ao sabor de yakisoba.
Antes da criação da empresa, a família trabalhava há mais de 20 anos com produção de cogumelo shimeji e atendia restaurantes. Um cliente provocou-os a fazer um produto diferente e falou do alho negro. Começaram a produzir em parceria com um produtor vizinho, até que a ideia cresceu e foi amadurecida também para resolver uma sazonalidade dos cogumelos. Deu certo, e a prova de fogo será na Expointer, em agosto.
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