O queijo de manteiga produzido no sertão da Paraíba tem sido o principal vetor de crescimento e reconhecimento da Queijeira 504, empreendimento familiar localizado na zona rural de São José de Espinharas, no interior do estado.
Fundada em 1943, a empresa atravessou três gerações mantendo métodos tradicionais de produção, ao mesmo tempo em que incorporou gestão, qualificação e estratégia comercial para ampliar sua presença no mercado regional e nacional.
A história do negócio começou com Antônio Paulino de Morais, avô da atual gestora, Verlândia Morais. Segundo a empresária, a produção de queijo sempre esteve ligada à identidade da família e à cultura do território. Ao longo das décadas, o conhecimento foi sendo transmitido de pais para filhos, consolidando uma operação artesanal que hoje busca escala sem abrir mão da origem.
Verlândia divide a gestão com os pais, Geraldo Morais e Maria da Glória, e lembra que a continuidade do negócio não foi automática. Há cerca de oito anos, a queijeira enfrentou um momento crítico, quando a possibilidade de encerrar as atividades se tornou real. A decisão de reorganizar processos, profissionalizar a gestão e investir na qualificação da produção marcou um ponto de inflexão para a marca.
De acordo com a empresária, a reestruturação envolveu treinamento da equipe, melhorias operacionais e maior atenção aos padrões exigidos pelos órgãos de controle sanitário. O foco passou a ser não apenas preservar o modo tradicional de fazer o queijo de manteiga, mas também garantir regularidade, rendimento e segurança alimentar, fatores essenciais para competir em mercados mais exigentes.
Atualmente, a Queijeira 504 conta com cinco colaboradores diretamente envolvidos na etapa de transformação do leite. Nesse processo, o leite é convertido em coalhada, separado do soro e trabalhado até atingir o ponto ideal da massa, seguindo práticas recomendadas pelas normas técnicas vigentes. Além do queijo de manteiga e do queijo coalho, a empresa também produz manteiga da terra, outro item de forte apelo regional.
Um dos principais desafios relatados por Verlândia é a manutenção de mão de obra qualificada no meio rural. Segundo ela, a dificuldade em reter trabalhadores impacta a produtividade e exige constantes ajustes na organização do trabalho. Para enfrentar esse cenário, a empresa tem buscado soluções que aumentem eficiência e reduzam gargalos operacionais.
Nesse contexto, parcerias institucionais têm desempenhado papel estratégico. A empresária destaca o apoio do Sebrae da Paraíba e da gestão pública municipal, especialmente no avanço de certificações e na modernização do negócio. Para ela, a obtenção desses registros é decisiva para ampliar canais de comercialização e consolidar a marca fora do município de origem.
A produção semanal da queijeira gira em torno de 500 quilos de queijo de manteiga e queijo coalho, além da manteiga da terra. Esses volumes abastecem duas lojas próprias da família, localizadas em João Pessoa, na Paraíba, e em Natal, no Rio Grande do Norte. Cada unidade conta com cinco colaboradores dedicados ao atendimento ao consumidor final, fortalecendo o vínculo direto entre marca e mercado.
Apesar dos investimentos em gestão e estrutura, Verlândia faz questão de manter presença ativa na produção. Segundo ela, compreender cada etapa do processo é parte essencial da identidade do negócio. Mesmo com ajustes pontuais, a base do preparo do queijo segue os mesmos princípios adotados na época de seu avô, preservando sabor e características artesanais.
Para a gerente da agência regional do Sebrae/PB em Patos, Anna Stefania Rodrigues, a trajetória da Queijeira 504 ilustra a importância do planejamento sucessório em empresas familiares. Ela observa que a transição bem-sucedida de gestão é um dos principais fatores de sobrevivência e crescimento de marcas tradicionais no ambiente competitivo atual.
A executiva ressalta que o tema da sucessão ainda é negligenciado por muitos empreendedores, apesar de seu impacto direto na longevidade dos negócios. Segundo ela, capacitação, planejamento e inovação contínua são elementos indispensáveis para que empresas familiares mantenham relevância no mercado.
O reconhecimento nacional reforçou essa estratégia. Em 2024, a Queijeira 504 conquistou a medalha de ouro como melhor queijo de manteiga do Brasil na oitava edição do Prêmio Queijo Brasil. Desde 2017, a empresa acumula medalhas de ouro, prata e bronze, além de certificações obtidas em concursos regionais, nacionais e internacionais, consolidando sua posição entre os destaques do segmento artesanal brasileiro.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Paraíba On Line






