Enquanto a Suíça carrega há séculos o prestígio dos queijos finos, o Brasil começa a escrever um novo capítulo — e o protagonista vem do interior de São Paulo. Em Pardinho, cidade com pouco mais de 7 mil habitantes, a arte de fazer queijo transformou-se em um movimento que une tradição, terroir e inovação.
Os premiados queijos Mandala e Cuesta, produzidos por queijeiros locais, conquistaram medalhas de ouro na França em 2021, superando rótulos consagrados de países com séculos de tradição. O feito colocou Pardinho no radar mundial e desafiou o estigma de que qualidade artesanal é privilégio europeu.
“Cada peça conta uma história de dedicação, paciência e respeito ao leite”, descrevem os produtores locais, que hoje veem turistas e chefs disputando vagas para conhecer a origem desses sabores.
🌿 O terroir paulista em forma de queijo
O segredo, dizem os especialistas, está no terroir: o solo, o clima e o manejo do rebanho criam um leite com identidade única, capaz de expressar o sabor da Cuesta, região de altitudes médias e pastagens naturais.
Pardinho consolidou-se como um microecossistema da produção artesanal de leite e queijo, valorizando o trabalho do produtor e o vínculo entre campo e mesa. A transformação começou com pequenas fazendas familiares, que investiram em maturação controlada, boas práticas de ordenha e fermentos naturais.
Essa aposta no artesanal de excelência virou um caso de estudo: o consumidor brasileiro, cada vez mais exigente, passou a buscar autenticidade, rastreabilidade e sabor real — e Pardinho soube atender essa demanda.
🇧🇷 O interior paulista no mapa gourmet mundial
Não é apenas uma história de sucesso gastronômico, mas também de reposicionamento do Brasil no cenário global dos queijos finos. O país, historicamente focado em commodities lácteas, começa a enxergar valor no produto artesanal de alto padrão.
A projeção internacional de Pardinho inspirou produtores de Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que agora trocam experiências e buscam certificações de origem e premiações internacionais.
Para os queijeiros da Cuesta, o reconhecimento veio acompanhado de desafios:
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o custo elevado da produção artesanal,
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a burocracia sanitária, que ainda dificulta o comércio interestadual,
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e a falta de apoio logístico e de crédito específico para maturação e estocagem.
Ainda assim, a cidade avança. Com apoio de cooperativas e do Sebrae, Pardinho tornou-se um laboratório vivo da economia do queijo artesanal, reunindo cursos, visitas técnicas e experiências gastronômicas que unem turismo e agronegócio.
🧗 Aventuras, cultura e sabor: o turismo do queijo
Além de seus queijos premiados, Pardinho aposta na integração entre gastronomia e turismo rural. A região, cercada por vales e cachoeiras, oferece trilhas, tirolesas e roteiros de cicloturismo — todos com parada obrigatória nas queijarias e nas cervejarias locais.
O Gigante Adormecido, formação rochosa símbolo da cidade, virou ponto de encontro entre natureza e sabor. Já o Centro Max Feffer reforça a dimensão cultural, com exposições, música e eventos gratuitos que celebram o talento local.
Essa combinação de natureza, cultura e queijo faz de Pardinho um destino sensorial: um lugar onde o tempo desacelera, o sabor se intensifica e o campo mostra sua força criativa.
💬 Reflexão final
Pardinho ensina ao Brasil que o futuro do queijo artesanal não está apenas na receita, mas no respeito ao produtor e à origem. O sucesso dos queijos Mandala e Cuesta é símbolo de uma revolução silenciosa: a do interior que inova, compete e conquista o mundo sem abrir mão da autenticidade.
Em tempos de padronização e produção em massa, o pequeno município paulista mostra que há outro caminho — o do valor agregado, do terroir e da paixão pelo leite bem tratado.
O melhor queijo do mundo pode até nascer na Suíça. Mas, neste momento, o sabor que mais encanta vem mesmo do coração do Brasil.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Tribuna de Minas






