Os queijos premium ganharam protagonismo dentro da Tirolez e passaram a orientar a estratégia da companhia em uma fase de forte expansão.
Desde que Marcel de Barros assumiu como o primeiro CEO profissional da empresa, em janeiro de 2024, a fabricante acelerou movimentos de governança, ampliou seu portfólio e concluiu a primeira aquisição de sua história, marcando uma mudança estrutural para sustentar crescimento de dois dígitos no mercado brasileiro.
Barros assumiu a missão de preparar a Tirolez para uma nova etapa corporativa. Em entrevistas recentes, o executivo destacou que a migração de LTDA para Sociedade Anônima, prevista para janeiro, reforçará processos internos, aumentará a transparência e abrirá oportunidades de captação ou entrada de futuros sócios estratégicos. Segundo ele, a estrutura de SA também facilita movimentos que antes eram mais complexos, como operações de investimento ou eventual IPO, caso o mercado ofereça uma janela favorável.
Ao mesmo tempo, a empresa intensificou sua aposta em categorias de maior valor agregado. A compra da Levitare — marca especializada em queijos de búfala e considerada referência nesse nicho — foi concluída em outubro e representa, segundo Barros, uma complementaridade estratégica. Ele afirma que a Levitare atua em um segmento que combina diferenciação, margem e uma demanda crescente por produtos artesanais e especiais, alinhados à proposta de sofisticar o portfólio.
No avanço de inovação, a Tirolez identificou tendências claras entre consumidores. Uma das mais fortes é o interesse por alimentos proteicos e soluções práticas de preparo, o que impulsionou lançamentos como sticks de mussarela — inclusive na versão zero lactose — e a ampliação da oferta de queijo coalho, agora adaptado ao preparo na air fryer, em sintonia com o comportamento de consumo doméstico.
Essa estratégia busca capturar um espaço ainda amplo para crescimento. O consumo de queijo no Brasil gira em torno de 7 quilos per capita por ano, nível que a Associação Brasileira das Indústrias de Queijo projeta elevar para 10 quilos até 2030. Para Barros, esse ponto de partida mais baixo do que o de países concorrentes representa um potencial natural à medida que a renda do consumidor avança e a cultura de consumo se diversifica.
Outro desafio estrutural citado pelo CEO é o teor de sólidos do leite brasileiro, ainda abaixo de padrões internacionais, o que reduz a competitividade industrial. Segundo ele, há uma diferença de “10%, 15% até 20%” em relação a mercados com maior eficiência produtiva, o que demanda investimento em genética, nutrição e manejo para elevar o desempenho no campo.
O portfólio extenso é uma alavanca importante nessa expansão. A Tirolez está presente em 28 categorias e reúne cerca de 130 SKUs, que vão dos produtos mais populares — como muçarela, requeijão, creme de leite e ricota — até variedades finas, como brie, gouda e camembert. A estratégia de lançamentos é semestral, concentrada em março e setembro, garantindo ritmo constante de renovação nas gôndolas.
O movimento de profissionalização não altera a presença dos fundadores. Os irmãos Cícero e Carlos Hegg permanecem como controladores, integram o conselho consultivo e acompanham diretamente a evolução da empresa que criaram em 1980, quando adquiriram uma pequena fábrica da marca Franco, em Tiros (MG). Foi dessa origem que nasceu o nome Tirolez, que hoje soma 45 anos de atuação.
O crescimento recente também se apoia na expansão industrial. Em 2024, a capacidade anual atingiu 50 mil toneladas; para 2025, a projeção é subir para 52,5 mil toneladas. A unidade de Caxambu do Sul (SC) passou por ampliação e reforçou a produção de muçarela e requeijão, enquanto as demais plantas — em Tiros, Arapuá, Lins e Monte Aprazível — seguem especializadas em categorias específicas, de queijos frescos a maturados.
No mercado externo, a companhia avança de forma gradual. Já exporta para Estados Unidos, Paraguai e Argentina, e mira novos mercados, como Angola, Moçambique, Oriente Médio, Chile e Equador. O foco está em produtos tipicamente brasileiros, como o requeijão e o queijo coalho, que vêm ganhando espaço em nichos étnicos e food service internacional.
Com faturamento de R$ 1,5 bilhão em 2024, a Tirolez projeta chegar a R$ 2 bilhões em 2025, ritmo sustentado por inovação, governança e a aposta contínua nos queijos premium como vetor de diferenciação e valor.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Bloomberg






