A alta dos preços dos derivados lácteos pode estar com os dias contados. O novo relatório trimestral do Rabobank, intitulado “Global Dairy Quarterly Q2 2025: Too good to be true?”, traz um alerta importante para o segundo semestre: ventos econômicos contrários, tensões comerciais e mudanças na dinâmica da oferta e demanda devem levar a uma readequação gradual do mercado global de lácteos.
Embora o cenário pareça distante, o Brasil — que avança como player no mercado internacional — precisa ficar atento. As mudanças nos fluxos globais têm potencial direto sobre preços internos, competitividade e projeções de exportação.
O epicentro da incerteza: EUA, China e Europa
A recente trégua na disputa comercial entre Estados Unidos e China, com a redução temporária das tarifas sobre produtos lácteos americanos (de 125% para 10% por 90 dias), trouxe alívio para exportadores dos EUA — mas também pressionou os preços internos chineses, gerando volatilidade e incerteza para os demais competidores globais.
Enquanto isso, a União Europeia enfrenta o risco do fim de um acordo tarifário com os EUA, com prazo até 9 de julho. Sem novo pacto, produtos europeus podem buscar novos destinos e aumentar a competição em mercados onde o Brasil também atua, como África, América Latina e Ásia.
Oferta cresce, demanda patina
A produção global dá sinais de expansão: os sete maiores exportadores mundiais — incluindo EUA, Nova Zelândia e Argentina — devem crescer 1% em 2025, o maior avanço desde 2020. O Rabobank também projeta crescimento modesto de 0,4% na produção da União Europeia, apesar da queda no rebanho (-2,6%) e dos impactos da doença BTV e do clima seco.
Em contrapartida, a demanda global segue frágil, especialmente para leite em pó. A procura segue baixa na Europa, EUA e China, e depende, em parte, da recuperação do preço do petróleo para reativar a demanda da Argélia — um dos principais compradores globais.
Alta da gordura, estabilidade da proteína
Enquanto os preços de leite em pó permanecem estagnados, os derivados ricos em gordura, como manteiga e creme, seguem valorizados — impulsionados pela forte demanda por queijo e pela corrida para exportar à frente de tarifas nos EUA. A Europa investe em ampliar sua capacidade de produção de queijos, o que aumenta a competição pelo leite.
No entanto, incertezas pairam sobre a Irlanda, que pode perder sua derrogação de nitrato até o fim do ano — cenário que obrigaria uma redução de até 18% no rebanho leiteiro, com efeitos diretos na produção europeia.
O que isso significa para o Brasil?
Para o setor lácteo brasileiro, o momento exige vigilância e preparo estratégico. A possível queda de preços globais pode limitar margens de exportação e aumentar a concorrência com produtos subsidiados de outras regiões. Além disso, uma reorganização na geopolítica do leite — especialmente com a movimentação de blocos como EUA-China e UE-EUA — pode redefinir destinos tradicionais das exportações brasileiras.
Por outro lado, a demanda crescente no Sudeste Asiático pode abrir oportunidades para lácteos brasileiros, desde que o país invista em acesso a mercados, acordos sanitários e competitividade logística.
Cautela, mas também agilidade
O Rabobank recomenda que todos os agentes da cadeia — produtores, indústrias, traders e formuladores de políticas — mantenham práticas sólidas de gestão de risco e se preparem para uma possível recalibração do mercado.
O segundo semestre de 2025 poderá não ser tão promissor quanto os últimos meses, mas com estratégia e adaptação, o Brasil pode transformar desafios em oportunidades.
Redação eDairyNews, com informações de AHDB