Os preços do leite no Brasil enfrentam um cenário de pressão diante da combinação de uma produção recorde e da valorização do real.
De acordo com relatório do RaboResearch, o setor lácteo brasileiro apresentou um crescimento expressivo no primeiro semestre de 2025, o mais rápido em mais de uma década, impulsionado por condições climáticas favoráveis e pela queda nos custos de alimentação animal.
Segundo dados preliminares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de leite aumentou 6,8% no período, com expectativa de crescimento anualizado de 6,5% para 2025.
O ritmo, no entanto, deve se moderar no segundo semestre, refletindo a alta base comparativa do segundo trimestre. Grandes produtores, com rebanhos acima de 1.000 vacas, ampliaram investimentos e vêm registrando taxas de expansão de dois dígitos, o que contribuiu para acelerar a oferta nacional.
Ao mesmo tempo, o real se fortaleceu cerca de 12% frente ao dólar desde janeiro, sustentado por juros elevados e expectativas de inflação mais controladas. Esse movimento favoreceu as importações de produtos lácteos, em especial de parceiros do Mercosul.
Entre janeiro e julho, o volume importado caiu 6% em comparação ao mesmo período de 2024, mas ainda se mantém elevado, com destaque para leite em pó integral, leite em pó desnatado e queijos.
As exportações também recuaram 6% no acumulado do ano, reforçando uma dinâmica comercial mista: importações firmes e embarques limitados.
No mercado interno, a demanda se manteve relativamente sólida, sustentada por um mercado de trabalho aquecido e taxa de desemprego historicamente baixa, abaixo de 7%. Ainda que o crescimento do rendimento real tenha perdido fôlego, o consumo de alimentos, incluindo os lácteos, não apresentou queda significativa.
Mesmo assim, a oferta abundante já começou a se refletir nos preços. Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), o valor médio pago ao produtor em julho foi de R$ 2,65 por litro (cerca de US$ 0,549/litro), abaixo dos R$ 2,82 por litro registrados em abril, já ajustados pela inflação.
Embora a retração seja considerada moderada, analistas alertam que os preços do leite podem cair ainda mais no quarto trimestre, período em que a produção sazonal cresce e tende a pressionar o mercado.
Para o setor, há sinais mistos. De um lado, os custos de produção recuaram com a queda dos preços do milho e do farelo de soja, melhorando as margens dos produtores e estimulando o crescimento da atividade. De outro, o excesso de oferta combinado com importações constantes limita o espaço para valorização no mercado doméstico.
Apesar desses desafios, o RaboResearch avalia que as perspectivas são mais otimistas em comparação com relatórios anteriores.
A maioria das empresas do setor projeta crescimento estável a moderado nas vendas no segundo semestre de 2025, apoiado por uma demanda interna mais firme do que o previsto. Essa tendência pode ajudar a suavizar a queda dos preços no curto prazo.
No cenário macroeconômico, o Banco Central do Brasil revisou em agosto a expectativa de crescimento do PIB para 2025, agora em 2,18%, abaixo dos 3,4% de 2024, mas ainda considerado positivo diante da política monetária restritiva. As projeções de inflação também se moderaram, passando de 5,68% em março para 4,86% em agosto.
A combinação entre estabilidade econômica, renda em crescimento moderado e maior competitividade do setor pode contribuir para manter o consumo de lácteos relativamente estável até o final do ano.
Entretanto, se a produção continuar avançando acima das expectativas, os analistas não descartam uma queda mais acentuada nos preços no quarto trimestre.
O balanço final para 2025 dependerá do comportamento da oferta no auge da safra e da capacidade do mercado em absorver os volumes adicionais.
Por enquanto, o Brasil segue consolidando sua posição como um dos principais produtores de leite do mundo, com desafios pontuais de preços, mas também com oportunidades de crescimento de longo prazo.

*Adaptado para eDairyNews, com informações de seu Content Partner Fedeleche