Setor aponta queda de até 1,8 milhão de litros de leite por dia no Estado; com carne em alta, abate de vacas subiu e reduziu volume de ordenha.
leite

Seja no pingado – diluído ao café -, junto do achocolatado, puro. Ou até mesmo quase que invisível em meio aos ingredientes de queijos, doces, bolachas, bolos e broas. Independente da forma, o leite é produto praticamente certo na mesa da maioria dos mineiros pelo menos em uma das refeições diárias. Mas manter os hábitos de consumo está cada vez mais difícil, já que o litro da bebida, que é fonte de cálcio e vitaminas, já chega a R$ 10 em alguns estabelecimentos comerciais em Belo Horizonte, obrigando a substituição do leite e derivados nos domicílios da capital.

O alto preço, elevado em quase 40% desde janeiro, é fruto de uma junção de fatores. Além da entressafra no período de seca, que anualmente reduz a ordenha das vacas, uma das principais causas é a elevação dos custos de manutenção do gado no campo. Consequentemente, despencou em quase 10% o volume de leite produzido em Minas no primeiro trimestre deste ano, conforme a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faemg).

Na prática, o percentual representa cerca de 1 milhão e 800 mil litros da bebida a menos, por dia, segundo cálculos do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados de Minas Gerais (Silemg). “Muita gente saiu do mercado e, em vez da produção do leite, mandava a vaca para o abate, porque o preço da arroba estava interessante. E com menos vacas produzindo, sazonalidade e custo de produção são fatores que pressionaram o preço”, explicou o gerente de agronegócio da Faemg, Caio Coimbra.
A inflação foi mais pesada para o milho – insumo base para alimentação animal. A saca de 60 kg do grão encareceu 30% desde o início da pandemia e saiu do patamar de R$ 50 para valores acima de R$ 80, conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). O diesel, combustível utilizado para o transporte do leite entre o campo, indústria e varejo, praticamente dobrou de preço, se considerado o primeiro semestre de 2021 e o segundo semestre de 2022.
A alta ocorreu em função do desequilíbrio sobre o custo do barril de petróleo no mercado internacional, que também impactou o preço das embalagens. Energia elétrica foi outro custo inserido na cadeia, desde o campo até o varejo, que também interferiu na situação atual. No mercado, há uma expectativa de que a partir de setembro, com a volta do período chuvoso que favorece a produção no campo, possa ocorrer um recuo nos preços.

“Pra gente começar a produzir mais leite de novo nós temos um tempo, que não se resolve de um dia para o outro. Resolve aumentando a produtividade do gado com a maior quantidade de comida disponível, principalmente nas pastagens”, complementa Caio Coimbra ao lembrar também a necessidade do processo reprodutivo das vacas para a geração do leite.

O representante da Faemg lembra que os laticínios aumentaram o valor pago aos produtores pelo leite cru. Os valores subiram de uma média de R$ 2,30 em maio e atualmente varia entre R$ 2,70 e R$ 2,90, segundo o Cepea, e podem contribuir nos gastos adicionais. “O produtor não está recebendo nem a metade do valor total pago pelo consumidor final. É mais prudente que o varejo reduza um pouco o preço para não correr o risco de deixar o produto empatado nos supermercados”, atesta Coimbra.

Na avaliação da pesquisadora da equipe de leite do Cepea, Natália Grigol, o período mais crítico em relação ao preço do leite já passou. A tendência, segundo ela, é uma redução nos próximos meses, ficando a dúvida apenas qual a velocidade do movimento de queda. “A expectativa é que os preços só venham a registrar queda abaixo da média com o avanço da primavera e retorno das chuvas em outubro”, diz.

Em agosto e setembro, Grigol prevê uma melhora no cenário de produção para os produtores. “São meses de transição em que a produção deve se recuperar mediante uma melhora na relação de troca do produtor frente ao milho, insumo que tem registrado quedas de preço. E lógico, diante dessas altas consideráveis no preço do leite, o produtor pode estar fazendo mais investimento na atividade, sobretudo no manejo alimentar dos animais”, complementa.

Alto custo afeta também a gastronomia

Para além do consumo no dia-dia, a alta registrada sobre o leite e derivados afeta diretamente quem depende da gastronomia para sobreviver. Proprietária do Buffet Fora do Comum, Camila Bitencourt calcula que 95% dos pratos inseridos no cardápio levam leites, queijos e demais derivados na composição. “Não tem como substituir. Pelo menos aqui é impossível. Não vejo outras alternativas de substituir sem que a gente perca a qualidade”, afirma.

Bitencourt explica que produtos lácteos, por exemplo, são mais baratos, mas demandam um uso em maior quantidade. “Para tentar chegar em um sabor ou consistência igual de um produto normal, pode ser que você gaste até mais e ainda corre o risco de ter um resultado infeliz”, exemplifica Camila. Dentre as receitas em que a substituição é mais complicada estão molho de queijos, salgados que acompanham catupiry e recheios que levam queijos.

Também há doces em que a alteração de ingredientes prejudica o resultado final. “Não adianta eu diminuir o custo de produção e ter uma qualidade do meu produto inferior”, acrescenta.

Consumidores brasileiros têm se surpreendido com a alteração do nome do queijo nas embalagens. Essa mudança foi definida em um acordo entre União Europeia e Mercosul.

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