A Reforma Tributária brasileira, que começará a ser implementada a partir de 2026, promete simplificar o sistema de impostos e trazer mais transparência à economia.
No entanto, o setor alimentício — especialmente o de lácteos e produtos da cesta básica — deverá enfrentar um período de ajustes e volatilidade nos preços antes de colher os benefícios da mudança.
Com o novo modelo de IVA Dual, composto pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), tributos como PIS, Cofins, ICMS, ISS e IPI serão substituídos. A expectativa do governo é reduzir a cumulatividade e eliminar distorções históricas que há décadas encarecem o consumo no país.
Mas entre a promessa e o resultado há um caminho de transição que exigirá atenção do varejo e do consumidor.
💰 Preço do leite e dos alimentos: o que esperar
Segundo o advogado tributarista Ivson Coêlho, o impacto da reforma sobre o bolso do consumidor dependerá das alíquotas aplicadas a cada categoria. “No curto prazo, a tendência é que o consumidor sinta oscilações, especialmente em produtos de primeira necessidade. O novo modelo eliminará distorções, mas exigirá ajustes de margens e reposicionamentos de preços”, explica.
Os itens da cesta básica — como arroz, feijão, carnes, frutas, verduras e leite — devem ter tratamento diferenciado, com isenção ou alíquotas reduzidas. “A ideia é preservar o poder de compra da população e evitar que o consumidor pague mais caro por itens essenciais”, reforça Coêlho.
Já produtos considerados supérfluos — como bebidas alcoólicas e refrigerantes — poderão ter alíquotas mais altas, afetados pelo novo Imposto Seletivo (IS).
Para o consumidor, isso pode significar um alívio relativo em alimentos de base e aumento pontual em produtos industrializados ou ultraprocessados.
🏪 Supermercados e indústrias: desafios da transição
A adaptação ao novo sistema exigirá investimentos em tecnologia, treinamento e revisão de processos internos. “Haverá um custo inicial para adequação de sistemas e revisão de contratos. Esses gastos tendem a ser repassados, ao menos parcialmente, ao consumidor”, afirma Coêlho.
No entanto, após essa fase, as empresas poderão se beneficiar da redução de custos de conformidade e de um melhor aproveitamento dos créditos tributários, favorecendo a estabilidade dos preços no médio prazo.
Para Guilherme Martins, membro do conselho deliberativo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial e E-commerce (ABIACOM), as grandes redes devem adaptar-se com mais facilidade. “Elas possuem sistemas robustos e consultorias especializadas, o que facilita a transição. Já os pequenos mercados podem ter mais dificuldade em compreender e aplicar as novas regras”, alerta.
Essas diferenças podem gerar volatilidade nos preços regionais, especialmente entre mercados de bairro e grandes supermercados.
💳 Split payment e fluxo de caixa
Um dos pontos mais sensíveis para o varejo é o modelo de split payment, que prevê o recolhimento automático do imposto no momento da liquidação financeira. “Isso pode reduzir a disponibilidade de capital de giro, sobretudo para pequenos varejistas. O impacto inicial pode gerar ajustes temporários de preços”, explica Martins.
📊 Risco inflacionário e perspectivas
Embora o governo prometa neutralidade tributária, especialistas alertam que o primeiro ano de vigência da reforma pode vir acompanhado de pressão inflacionária temporária.
“Nos primeiros meses, as empresas estarão se ajustando às novas regras de crédito e apuração. É possível que haja repasses pontuais de custos”, comenta Coêlho. Já Martins considera que o risco é limitado, uma vez que “os alimentos da cesta básica serão desonerados”.
Os efeitos mais visíveis devem aparecer a partir de 2027, quando a CBS substituirá integralmente o PIS e a Cofins.
🌱 Um sistema mais justo e previsível
A médio e longo prazo, a reforma deverá beneficiar o mercado e o consumidor. “O grande ganho é permitir o aproveitamento integral de créditos ao longo da cadeia produtiva, reduzindo o imposto embutido no preço final”, conclui Coêlho.
Martins reforça que o novo modelo trará mais transparência e previsibilidade, fatores essenciais para um ambiente de negócios estável e competitivo.
Para os produtores de lácteos e alimentos essenciais, a mensagem é clara: o curto prazo trará desafios, mas a consolidação do novo sistema promete um mercado mais justo, equilibrado e eficiente.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de SuperVarejo