Em pouco mais de três meses, a ministra precisou administrar crises e reafirmar a importância da agropecuária dentro do governo

Indicada pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a então deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS) assumiu a missão de comandar o Ministério da Agricultura no governo de Jair Bolsonaro. Além das antigas atribuições, a pasta incorporou várias outras, como Agricultura Familiar, Pesca e o Serviço Florestal Brasileiro, além de temas como a demarcação de terras indígenas.

O setor produtivo aprovou o nome da parlamentar sul-mato-grossense, mas as cobranças começaram pouco tempo depois de ela sentar na cadeira do gabinete principal, no oitavo andar do bloco D da Esplanada dos Ministérios. Tensão com a possibilidade de falta de crédito, mercados internacionais fechados, dívidas e a importação de leite foram algumas crises enfrentadas nos 100 primeiros dias de gestão da segunda mulher à frente da pasta — a primeira foi a agora senadora Kátia Abreu (PDT-TO).

A preocupação dos produtores começou com a possibilidade de corte drástico nos subsídios ao crédito rural. Em quase todas as aparições públicas, a ministra teve que dar declarações e demonstrar alinhamento e tranquilidade com o ministro da Economia, Paulo Guedes. O alívio veio com a garantia de que os recursos para o seguro rural, antiga e intensa demanda do setor, vão aumentar para a casa de R$ 1 bilhão.

Tereza Cristina também teve que administrar algumas crises pontuais nos 100 primeiros dias de gestão. A primeira delas foi o fim da taxa antidumping para importação de leite em pó da União Europeia e da Nova Zelândia. A forte reação do setor fez até mesmo o presidente Jair Bolsonaro entrar no jogo e se pronunciar nas redes sociais. Ministérios das Relações Exteriores, da Economia e da Agricultura agiram juntos para tentar reverter a medida, assinada por um técnico comandado por Paulo Guedes. O Brasil demonstrou formalmente à Organização Mundial do Comércio (OMC) que pretende sobretaxar a UE, mas até agora nenhuma medida efetiva foi tomada. No entanto, nenhuma importação foi registrada no período, o que ajudou a acalmar os ânimos.

A aproximação diplomática de Brasil e Israel, com a viagem de Jair Bolsonaro até lá, gerou expectativas de retaliações por parte de países árabes, grandes compradores de carnes brasileiras. A ministra precisou organizar um jantar para receber os diplomatas e estreitar relações.

Outra missão de Tereza Cristina é reabrir o mercado americano para a carne bovina in natura do Brasil. Depois de viagem para os EUA, uma visita técnica será feita em junho para inspecionar os frigoríficos brasileiros.

A ministra também precisou agir em relação a enchentes e perdas de produção no Rio Grande do Sul, aos atoleiros na BR-163, que dificultaram o escoamento da safra de grãos de Mato Grosso por alguns dias entre fevereiro e março, e à tragédia de Brumadinho (MG), que também atingiu produtores rurais.

Quanto à meta estipulada para a pasta no documento do governo federal para os 100 dias de governo, a ministra alterou o prazo de validade da Declaração de Aptidão (DAP) ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), passando de um para dois anos. Segundo ela, a medida dá previsibilidade e garante acesso ao crédito para os pequenos produtores do país. O documento foi assinado no dia 30 de janeiro.

CRONOLOGIA

1º de janeiro – Posse de Tereza Cristina como ministra da Agricultura

Segunda mulher a comandar o Ministério da Agricultura, Tereza Cristina foi indicada pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), entidade que presidiu em 2018. Com uma estrutura mais inflada, absorveu Agricultura Familiar, Pesca, Incra, demarcações indígenas e o Serviço Florestal Brasileiro.

2 de janeiro – Posse dos secretários do Ministério da Agricultura

Com dois secretários com postos de vice-ministros, Marcos Montes (Secretaria-Executiva) e Nabhan Garcia (Secretaria de Assuntos Fundiários), a ministra deu posse à equipe escolhida para ajudá-la na missão de comandar um superministério. Em discurso, enfatizou que “um só ministério olhará com igual destaque para todos os produtores”.

Tomaram posse Eduardo Sampaio Marques (Política Agrícola), José Guilherme Leal (Defesa Agropecuária), Jorge Seif Júnior (Aquicultura e Pesca), Fernando Schwanke (Agricultura Familiar e Cooperativismo) e Orlando Leite Ribeiro (Comércio e Relações Internacionais do Agronegócio). Fernando Silveira Camargo, secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação, só foi nomeado depois.

14 de janeiro – Ministra critica Gisele Bündchen por fala sobre preservação

O posicionamento de alguns artistas brasileiros sobre o agronegócio gerou uma crítica severa por parte de Tereza Cristina. Nesta segunda-feira, dia 14, em entrevista à Rádio Jovem Pan, ela disse que “é um absurdo o que fazem hoje com a imagem do Brasil”. No centro de seus comentários esteve a modelo Gisele Bündchen.

Em novembro, enquanto se discutia a estrutura ministerial do governo de Jair Bolsonaro e a possível fusão entre as pastas da Agricultura e Meio Ambiente, Gisele publicou em suas redes sociais uma carta aberta ao então presidente eleito. Nele, a famosa pedia que não fosse permitido “um retrocesso de décadas de luta pelas florestas brasileiras”.

“Você deveria ser nossa embaixadora e dizer que seu país preserva, está na vanguarda do mundo na preservação, e não meter o pau no Brasil sem conhecimento de causa”, disse. No Twitter, a ministra chegou a ironizar dizendo que Gisele receberia um convite da pasta.

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