Um relatório do Observatório da Cadeia Láctea Argentina (OCLA) deixa clara a situação dramática pela qual passa o setor lácteo argentino, que se reflete no fechamento contínuo de estabelecimentos produtivos.
Com base no relatório “Distribuição de Estoques de Gado em Estabelecimentos com atividade leiteira por categoria”, elaborado anualmente pelo Senasa até 31 de março, o OCLA determinou que o número de fazendas leiteiras caiu 4,5% no ano passado.
No total, há – de acordo com esses dados – 9.735 unidades de produção registradas no país, em comparação com 10.197 no ano anterior.
Assim, pela primeira vez em pelo menos 40 anos, o número de fazendas leiteiras rompeu a barreira dos 10.000 e uma comparação de uma longa linha histórica mostra que há 5.000 a menos do que no início do século e 20.000 a menos do que em 1998, quando havia mais de 30.000.
MENOS FAZENDAS LEITEIRAS E MENOS VACAS
Paralelamente, o relatório também destaca que há 1.486.248 vacas em ordenha, o valor mais baixo em uma série que começou em 2005.
“Como resultado da seca que as diferentes regiões atravessaram em 2023, somada à situação econômica desfavorável (inflação-desvalorização) e aos problemas financeiros gerados pela necessidade de comprar ração para o rebanho fora dos estabelecimentos acima do normal, muitas fazendas leiteiras fecharam, e isso gerou uma taxa de êxodo bem acima da tendência usual (-4,5%)”, explicou a OCLA.
E acrescentaram: “Por sua vez, muitas fazendas leiteiras que continuaram na atividade, devido à situação descrita de baixa produção de alimentos em quantidade e qualidade, aos efeitos econômicos e financeiros e que coincidiram com um valor razoável para a venda de vacas, o que levou à venda de vacas bem acima do descarte normal, produzindo uma taxa de queda de 6,5% no rebanho total das fazendas leiteiras”.
VISÃO GERAL NACIONAL
Enquanto isso, o relatório também divide todos esses dados por províncias, o que nos permite ver quais ainda são as líderes nessa área: Santa Fé e Córdoba.
Especificamente, as informações obtidas do Senasa mostram que Santa Fé tem 3.357 fazendas leiteiras; Córdoba vem em seguida, com 2.799; e Buenos Aires, com 1.962. Essas três, junto com Entre Ríos, representam 92% dos estabelecimentos argentinos.
“Um fato relevante é que Misiones é a principal região leiteira não tradicional, com 264 unidades produtivas, geralmente de pequeno porte e representando 2,7% das fazendas leiteiras”, afirma o relatório.
Em termos de número de vacas em produção, a preponderância de Santa Fé é reduzida, com Córdoba e Buenos Aires chegando muito perto em termos de participação. A Região Central (Santa Fé, Córdoba, Buenos Aires e Entre Rios) concentra 95,5% do total do rebanho leiteiro nacional.
Em média, em nível nacional, cada fazenda de gado leiteiro tem cerca de 153 vacas, embora o quadro seja muito diferente dependendo de cada província.
UMA CRISE QUE NÃO É APENAS ARGENTINA
De qualquer forma, além dos fatores locais que complicam os produtores argentinos, a OCLA enfatiza que a crise do leite é um fenômeno global.
De fato, a taxa de redução do número de fazendas leiteiras é menor em nosso país do que na média dos principais países produtores de leite do mundo.
O que está acontecendo, entretanto, é que a produção de leite não está caindo e, em alguns países, está até crescendo, porque as fazendas leiteiras remanescentes são maiores e mais produtivas.
Fechamento de laticínios em todo o mundo
“Com os dados do World Dairy Situation 2023 da International Dairy Federation (IDF/IDF), podemos ver como, com menos unidades de produção e/ou menos vacas, muitos países continuam com um processo de crescimento da produção em unidades de produção maiores e apelando para o aproveitamento do potencial genético disponível, maximizando os níveis de produção individual (litros de leite/vaca ordenhada/dia)”, explica OCLA.
E acrescenta: “Logicamente, essa situação leva a um limite produtivo e/ou econômico que só pode ser modificado com a incorporação de mais animais ao sistema”.