Os irmãos Bruno e Juliano Mendes, fundadores da cervejaria Eisenbahn, voltam a apostar em simplicidade e qualidade para transformar outro setor bilionário: o mercado lácteo brasileiro, estimado em R$ 20 bilhões.
Depois de venderem a Eisenbahn em 2008 para o grupo que hoje é a Heineken, os empreendedores decidiram aplicar a mesma filosofia de pureza que guiou sua cerveja à produção de queijos artesanais e iogurtes naturais.
Em 2013, adquiriram a Queijos Pomerode, em Santa Catarina, e lançaram a marca Vermont, produzindo queijos com apenas quatro ingredientes: leite, fermento, coagulante e sal. A empresa processa cerca de 5 mil litros de leite por dia, transformando-os em 500 quilos de queijo a cada 24 horas — todos feitos manualmente por uma equipe de 40 funcionários, cercada pela Mata Atlântica.
“A perfeição não existe, mas existe a busca constante por ela”, afirma Juliano Mendes. “Contaminamos nosso ambiente positivamente com esse pensamento.”
Essa busca por qualidade rendeu à Vermont mais de 100 prêmios nacionais e internacionais, incluindo o de melhor queijo do mundo. A marca se consolidou no nicho de queijos especiais, que representa cerca de 6% do mercado nacional.
Mas esse sucesso também trouxe um desafio: o crescimento limitado do segmento premium. Como explica Juliano, “os queijos são para momentos especiais. O brasileiro ainda não consome brie todos os dias, como na França”.
O passo seguinte: o iogurte com dois ingredientes
Para continuar crescendo, os irmãos Mendes decidiram expandir seu portfólio. A Vermont lançou recentemente um iogurte natural com apenas dois ingredientes: leite e fermento — sem espessantes, corantes, conservantes ou aromatizantes.
A venda começou na rede St Marche, referência em produtos premium. “Quando soube do lançamento, a própria rede nos procurou e pediu exclusividade”, conta Juliano. A simplicidade do produto reflete a mesma essência que fez sucesso na Eisenbahn e nos queijos Vermont: menos é mais.
O novo produto posiciona a empresa num segmento em crescimento, o de iogurtes especiais, que vêm ganhando espaço entre consumidores preocupados com a saúde e a origem dos alimentos.
Além disso, a Vermont prepara o lançamento de um iogurte com colágeno, desenvolvido em parceria com a Genu-in, empresa do grupo JBS. A inovação visa atender à demanda crescente por alimentos com alto teor proteico, impulsionada por tendências de consumo ligadas a dietas e ao uso de medicamentos como o Ozempic, que reduzem o apetite.
“Estamos vendo uma forte movimentação em produtos com adição de proteína. Acreditamos que podemos oferecer algo que atenda essa demanda”, explica Juliano Mendes.
Rentabilidade e propósito: o novo equilíbrio do leite
O investimento em iogurtes não apenas amplia o alcance da marca, mas também melhora as margens de produção. Enquanto na fabricação de queijos apenas 10% do leite é aproveitado, no iogurte a taxa ultrapassa 90%.
Esse dado revela uma mudança estratégica importante: a transição de um produto de consumo ocasional, como o queijo especial, para outro presente diariamente nas mesas brasileiras.
O mercado de iogurtes no Brasil movimenta mais de R$ 20 bilhões por ano, segundo dados setoriais, e oferece oportunidades para marcas que valorizam ingredientes naturais e processos transparentes — tendências que os irmãos Mendes conhecem bem.
A combinação de raiz artesanal com visão empreendedora global faz dos fundadores da Eisenbahn um exemplo de como tradição e inovação podem andar lado a lado.
Assim como a cerveja puro malte abriu caminho para uma nova geração de consumidores exigentes, o iogurte puro leite da Vermont pode ser o início de uma nova revolução no setor lácteo brasileiro.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Exame