O desfecho para a histórica cooperativa argentina SanCor era previsível. Depois de anos de má gestão, promessas não cumpridas e soluções improvisadas, a empresa anunciou oficialmente sua entrada em concurso preventivo de credores.
O processo foi designado ao Juizado de Primeira Instância em Matéria Civil e Comercial da Quarta Nomeação da cidade de Rafaela, província de Santa Fe, e representa o último cartucho antes de um colapso definitivo.
Uma tragédia anunciada
Fundada por produtores e administrada por produtores, SanCor afundou por decisões equivocadas de seus próprios dirigentes. Muitos tentaram atribuir sua crise a fatores externos, como a relação comercial com a Venezuela, o governo Kirchner ou o sindicato ATILRA.
No entanto, a verdade é que diversas lácteas argentinas enfrentaram os mesmos desafios e seguem operando. Algumas com dificuldades, é verdade, mas nenhuma no estado de colapso em que SanCor se encontra.
Atualmente, a cooperativa recebe menos de 150.000 litros de leite por dia, fornecidos por um punhado de produtores que ainda insistem em acreditar em uma recuperação. No auge de sua produção, SanCor processava mais de 4,5 milhões de litros diários. A sangria de fornecedores é um reflexo da falta de confiança na gestão.
A falácia do fideicomisso
Nos últimos anos, SanCor tentou atrair investidores para um fideicomisso que ajudaria na recuperação da empresa. O plano nunca saiu do papel. Houve também tentativas de obter crédito governamental e o interesse de fundos de investimento como BAF e IIG, mas nada se concretizou. O tempo passou e a crise se aprofundou.
Entre 2023 e 2024, a operação foi drasticamente reduzida. A cooperativa vendeu e fechou diversas unidades produtivas, comerciais e administrativas na esperança de reverter o cenário, mas sem sucesso. Sem matéria-prima suficiente, com uma estrutura pesada e sem um plano sólido, a situação se tornou insustentável.
O concurso: uma solução tardia?
Em um comunicado oficial, SanCor argumentou que o concurso é uma tentativa de buscar uma solução definitiva para seus problemas financeiros. A empresa assegura que continuará negociando com potenciais investidores e tentando consolidar uma saída para a crise.
Porém, a dura realidade é que poucos enxergam um futuro para SanCor como cooperativa. O mais provável é que suas plantas sejam desmembradas e vendidas a outros players do setor lácteo. O fim parece inevitável.
A indústria láctea argentina observa de perto este desfecho. Afinal, SanCor foi um dos grandes nomes do setor e sua queda simboliza o que a má gestão pode fazer com uma empresa que, em outros tempos, dominava o mercado.
O concurso preventivo pode ser o último respiro de SanCor, mas dificilmente evitará o desmembramento e a liquidação de seus ativos. Sem confiança dos produtores, sem investidores dispostos a apostar e sem um plano de recuperação viável, o destino da cooperativa parece selado.
O que resta agora é observar quem levará os pedaços dessa história de grandeza e decadência da indústria láctea argentina.
EDAIRYNEWS