A crise do leite em Santa Catarina tem preocupado produtores rurais e entidades do setor, diante da combinação de preços baixos pagos ao produtor e custos crescentes de produção.
Ração, energia e insumos estão mais caros, enquanto os valores recebidos pelo litro de leite muitas vezes não cobrem as despesas. Esse cenário tem levado agricultores ao desânimo e ameaça a sustentabilidade da atividade leiteira em um dos estados que mais contribuem para a produção nacional.
Segundo Enori Barbieiri, diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC), a situação é crítica: “O leite não consegue se balancear com exportações e mercado interno. É um produto basicamente interno e não compete com países que têm custos muito mais baixos.
As indústrias enfrentam estoques altos de lácteos, que são perecíveis, e isso derruba os preços. Mais uma vez, pequenos e médios produtores acabam eliminados do setor”, avaliou.
Políticas públicas para conter a crise
Diante desse quadro, o governo estadual tem adotado medidas para tentar equilibrar a cadeia produtiva e proteger milhares de famílias que dependem da atividade. Uma das ações mais relevantes foi a prorrogação da suspensão de incentivos fiscais para importação de leite e derivados, em vigor desde 2024 e agora estendida até julho de 2026.
Na prática, isso significa que produtos importados continuam pagando a alíquota cheia de ICMS, que varia entre 7% e 17%, em vez da taxa reduzida de 1,4% que vigorava anteriormente. O governador Jorginho Mello destacou que a decisão busca valorizar o esforço dos produtores locais, trazendo mais equilíbrio ao mercado.
Sem essa proteção, a indústria catarinense enfrentaria concorrência desleal, já que países vizinhos como Argentina e Uruguai subsidiam fortemente sua produção, reduzindo custos e pressionando o mercado interno brasileiro.
Resultados já são visíveis
De acordo com a Secretaria da Fazenda de Santa Catarina (SEF/SC), os efeitos foram imediatos. No primeiro semestre de 2025, as importações de leite e derivados caíram quase 75% em relação ao mesmo período de 2024, passando de R$ 512,5 milhões para R$ 135,2 milhões.
Enquanto isso, a produção local apresentou crescimento expressivo: o valor gerado pela indústria leiteira catarinense subiu 26%, de R$ 5,4 bilhões em 2024 para R$ 6,8 bilhões apenas nos seis primeiros meses de 2025. Para o secretário da Fazenda, Cleverson Siewert, esses números comprovam que a medida trouxe resultados concretos ao setor.
Programa Leite Bom: fôlego para empresas e produtores
Outra iniciativa de destaque é o Programa Leite Bom, aprovado pela Assembleia Legislativa em 2024, que concede benefícios fiscais à agroindústria do leite e garante condições mais justas frente à concorrência de outros estados. O programa beneficia mais de 100 empresas e cerca de 7,3 mil trabalhadores diretos, além de 80 mil produtores rurais.
Entre os principais mecanismos estão créditos presumidos para leite UHT, queijos e derivados, com previsão de aporte de R$ 150 milhões em três anos. O recurso é distribuído em três etapas: R$ 75 milhões no primeiro ano, R$ 50 milhões no segundo e R$ 25 milhões no terceiro.
Segundo o secretário da Agricultura e Pecuária, Carlos Chiodini, a estratégia busca garantir que o produtor permaneça no campo, estimule investimentos e aumente a renda das famílias ligadas à atividade.
Linhas de crédito e financiamento
O governo estadual também criou programas de crédito específicos, como o Pronampe Leite SC e o Financia Leite SC, ambos ligados ao Fundo Estadual de Desenvolvimento Rural. Juntos, eles disponibilizam mais R$ 150 milhões em três anos, destinados a subsidiar juros de empréstimos e financiar melhorias sem custos adicionais.
Com esse apoio, produtores têm condições de investir em tecnologia, infraestrutura e manejo, aumentando qualidade e produtividade. Trata-se de um ciclo positivo: o produtor se fortalece, a indústria ganha competitividade e o consumidor tem acesso a produtos locais com maior equilíbrio de preços.
Entre desafios e oportunidades
Mesmo com os avanços, o setor leiteiro de Santa Catarina ainda enfrenta incertezas. A queda no preço pago ao produtor continua sendo um obstáculo grave, como apontado pela FAESC. Ao mesmo tempo, políticas de proteção e incentivos fiscais abrem espaço para que a indústria leiteira estadual mantenha sua relevância.
Com produção anual de 3,2 bilhões de litros, Santa Catarina ocupa a quarta posição nacional, atrás apenas de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.
Para que o Estado siga competitivo, o desafio está em equilibrar custos, garantir renda ao produtor e assegurar que o consumidor continue tendo acesso a um alimento fundamental na mesa do brasileiro: o leite.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de CPG e RCO