A Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) vai lançar, em breve, um programa de incentivo à contratação de seguro para produtores rurais de Minas Gerais. A proposta é ajudar o agronegócio a se preparar para situações inesperadas, como a seca de 2020, que arrasou lavouras de café nas regiões Sul e Sudoeste do Estado, segundo a titular da pasta, Ana Maria Valentini.

Outro projeto que está recebendo atenção especial do Estado é a regulamentação do queijo artesanal, uma atividade que agrega valor aos produtores da cadeia leiteira que devem enfrentar dificuldades neste ano com a alta de insumos.

Em entrevista ao Hoje em Dia, a secretária Valentini diz ainda que acredita que os preços dos alimentos, que aumentaram significativamente no ano passado, tendem a cair em 2021 com a entrada de dólares no país e investimentos no setor, apesar das incertezas em relação a pandemia da Covid-19.

Minas deve ter mais uma safra recorde de grãos em 2021, com 17 milhões de toneladas, entre milho e soja, pelo segundo ano consecutivo. Como a senhora analisa esse bom desempenho?

Primeiramente, o aumento da demanda e os preços remuneradores são os principais incentivos para que o produtor aumente as áreas de plantio e, claro, a adoção de novas tecnologias para compensar a seca no ano passado em algumas regiões do Estado. Mas a seca acabou castigando muito uma outra cultura da qual Minas é o maior produtor do país, que é o café. Alguns produtores perderam 100% das lavouras. Realmente, foi uma situação muito triste. A gente sempre fala que para o produtor não tem nada mais triste do que ver uma lavoura secando por falta de água, e muitos que produzem café no nosso Estado passaram por uma situação que eu, na minha vida toda, não me lembro de ter visto.

Mas no ano passado tivemos também safra recorde de café, certo?

Sim. Minas Gerais produziu 34 milhões de sacas de café em 2020. O café tem uma bienalidade, então já esperávamos uma redução significativa da safra, mas a seca vai fazer com que o Estado tenha uma queda maior do que nós estávamos prevendo. A expectativa era de uma colheita aproximada de 24 milhões de sacas de café e, agora, as previsões que foram feitas a campo pela Emater–MG e pela Faemg, através do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Administração Regional de Minas Gerais (Senar Minas), mostram algo em torno de 20,5 milhões de sacas, uma redução muito grande. Naturalmente o mercado já reagiu, porque Minas é o maior produtor do país. A gente responde por metade da produção nacional: se Minas fosse um país, nós seríamos o maior produtor de café do mundo. É uma cultura muito expressiva, mais de 400 municípios de Minas têm no café o seu principal produto de renda e da economia.

Quais foram as ações do Estado para socorrer esses cafeicultores que agora tiveram prejuízo?

Com a pandemia, não foi possível conseguir recursos junto ao governo federal para socorrer esses produtores. O governo do Estado conseguiu recurso do Funcafé para ser aplicado nas cooperativas para dar apoio aos produtores na aquisição de novos insumos para manutenção dessas lavouras; muitos recursos foram aplicados pelo BDMG e a Secretaria, através das nossas vinculadas, principalmente a Emater e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), dando apoio aos produtores com orientação de como recuperar essas lavouras, com orientação a novas variedades, mais resistentes à seca, haja visto que as lavouras também dependem da condição do solo. Todas essas ações técnicas são no sentido de ajudar o produtor a minimizar os efeitos da seca e recuperar as lavouras. Paralelamente nós estamos estruturando um programa de incentivo à contratação de seguro, porque em momentos como esse em que o Estado não consegue ajudar o produtor a enfrentar essas dificuldades, nós precisamos estruturar políticas para que isso não aconteça mais e esperamos implementar em breve. Neste momento de pandemia, todas as ações do governo, que já tinha uma condição fiscal muito ruim, se voltam para as questões de saúde. Mas estamos fazendo o possível para apoiar o setor produtivo do agro.

Como vai ser este programa?

Ele está sendo estruturado ainda. A ideia é buscar fundos para que vários órgãos do governo estadual possam ajudar os produtores a investir na contratação do seguro. O Estado também registrou queda na produção do algodão em caroço, do amendoim e do arroz, tudo por conta da redução de área plantada.

Por que isso aconteceu?

Porque o produtor migrou para outras culturas. Existia uma preocupação muito grande pelos produtores de algodão em relação a dificuldade de escoar a produção, exatamente porque houve uma redução muito grande em toda a indústria do vestuário. Era esperado que fosse ter uma redução da demanda do algodão, então o produtor migra para uma cultura que tem uma maior demanda.

Um outro problema é o leite. Minas Gerais é o maior produtor do país. Mas o preço do leite já caiu para o produtor, cerca de 4%, agora em 2021 e, com isso, o custo da produção subiu. Existe algum auxílio do Estado para os produtores?

O Estado não pode intervir nos preços. O que a Secretaria faz é, através das nossas vinculadas, dar todo apoio ao produtor em seus processos produtivos para que ele possa adequar a sua produção à condição do custo novo. Preocupa-me muito o setor de granjas no Estado, como avicultura, suinocultura, principalmente, porque estamos com preços altíssimos de milho, de soja, os insumos da ração. Quando chegar o inverno, o período mais seco da entressafra, no qual o gado de leite recebe complementação de ração, essa ração, possivelmente, vai subir mais ainda e colocando os produtores a fazer contas o tempo inteiro para ver o que que realmente compensa em termos de manter a rentabilidade. O que tem ajudado muito é o trabalho intenso que fazemos na Secretaria para regularização dos nossos queijos artesanais.

A senhora pode detalhar esse programa? 

Os nossos produtores de leite que produzem queijos artesanais têm tido uma agregação de valor. Ao invés de vender o leite barato, ele vende o queijo com um preço mais remunerador. No ano passado nós publicamos um decreto que abriu muitas possibilidades de regularizar esses queijos. Em março deste ano regulamentamos os queijos artesanais da região da Mantiqueira e da Alagoa, o que abre possibilidade para essa região que tem uma grande produção de queijo.

A Covid-19 afetou o nosso agronegócio?

A pandemia chegou em uma hora em que para o produtor estava tudo certo, tudo subindo, mas para o consumidor, a pandemia chegou em um momento onde todos os fatores que afetam a alta do preço dos alimentos estavam em andamento, uma dificuldade de produção, dificuldade de comercialização. Por mais que a produção de alimentos tenha sido considerada essencial, afeta toda a cadeia que apoia essa produção de alimentos, principalmente para que se tenha esses altos índices de produtividade que a gente vê no nosso país. Muitos países tiveram dificuldades em sua produção e é algo que vai continuar por algum tempo.

Qual a perspectiva para 2021?

A curva vai começar a descer porque começa a entrada novamente de dólares no país; o câmbio vai ceder, e com os preços mais altos aumenta o investimento em tecnologia, em correção de solo, a produção e, aí, o preço começa a cair. Agora, a pandemia é um fator que tira um pouco a previsibilidade, a gente não sabe quando que teremos um controle para que as atividades voltem ao normal.