A ressaca é uma velha conhecida de quem exagera na bebida, especialmente em fins de semana, feriados ou celebrações prolongadas.
Dor de cabeça, náuseas, cansaço extremo e sensação de desidratação costumam aparecer horas depois do consumo excessivo de álcool. Agora, uma recomendação curiosa ganhou espaço nas redes sociais e reacendeu o debate: comer queijo antes de beber pode ajudar a reduzir os efeitos da ressaca.
A ideia foi apresentada pela médica pneumologista e intensivista Neena Chandrasekaran, que atua na Flórida, nos Estados Unidos. Com mais de 150 mil seguidores em uma rede social de vídeos curtos, a especialista chamou atenção ao sugerir que o consumo de queijo antes da ingestão de bebidas alcoólicas pode ter um efeito protetor sobre o organismo.
Segundo a médica, o queijo reúne características nutricionais que podem influenciar a forma como o álcool é absorvido pelo corpo. Em sua explicação, ela destaca que a combinação de proteína, gordura e carboidratos complexos ajuda a “revestir” o estômago, retardando a passagem do álcool para a corrente sanguínea. “Isso pode diminuir a velocidade de absorção e reduzir a intensidade da ressaca”, afirma.
Chandrasekaran também aponta possíveis benefícios metabólicos. De acordo com ela, o queijo pode contribuir para que o corpo processe o álcool de maneira mais eficiente, além de auxiliar na reposição de nutrientes perdidos durante o consumo de bebidas alcoólicas. Vitaminas do complexo B e cálcio, presentes em diferentes tipos de queijo, tendem a ser eliminados em maior quantidade quando o organismo metaboliza o álcool.
Apesar da popularidade da dica, a própria comunidade científica adota um tom mais cauteloso. Pesquisas sobre alimentos específicos capazes de prevenir a ressaca ainda são limitadas, e não há consenso definitivo. Parte dos estudos existentes foi realizada em modelos animais, o que restringe a extrapolação direta dos resultados para humanos.
Uma dessas pesquisas, publicada no Journal of Functional Foods, analisou a relação entre determinados alimentos e o metabolismo do álcool. Os resultados sugeriram que o consumo de queijo poderia estar associado a menores níveis de álcool e acetaldeído no sangue — substância tóxica produzida durante a metabolização do álcool e relacionada aos sintomas da ressaca. No entanto, tratou-se de um estudo de pequena escala, conduzido com animais de laboratório.
Outro trabalho científico, divulgado em 2023, também utilizou modelos animais para investigar os efeitos de um queijo probiótico específico. Esse produto continha bactérias como Lactococcus lactis e Lactiplantibacillus plantarum, que demonstraram potencial para melhorar o metabolismo do álcool e reduzir danos hepáticos. Os pesquisadores apontaram possíveis mecanismos biológicos que poderiam, indiretamente, influenciar a intensidade da ressaca.
Especialistas em nutrição e metabolismo reforçam que, até o momento, nenhum alimento isolado mostrou evidência robusta capaz de prevenir completamente a ressaca. O que a ciência sustenta com maior segurança é a recomendação de não beber de estômago vazio. Comer antes de consumir álcool ajuda a retardar sua absorção, contribui para níveis mais estáveis de glicose no sangue e pode reduzir alguns sintomas posteriores.
Nesse contexto, o queijo se encaixa como uma opção plausível, mas não milagrosa. Por ser rico em gordura e proteína, ele cumpre parte desse papel de “amortecedor” metabólico. Ainda assim, os efeitos variam conforme o tipo de queijo, a quantidade ingerida, o volume de álcool consumido e as características individuais de cada pessoa.
Para o público em geral, a mensagem central permanece a mesma: moderação é o fator mais decisivo para evitar a ressaca. Intercalar bebidas alcoólicas com água, alimentar-se adequadamente antes e durante o consumo e respeitar os limites do próprio corpo continuam sendo as estratégias mais eficazes.
A sugestão do queijo, portanto, entra mais como um complemento curioso — e saboroso — do que como uma solução garantida. Para quem aprecia um bom queijo antes do brinde, a prática pode até ajudar. Mas a ciência deixa claro que não existe atalho nutricional capaz de neutralizar totalmente os efeitos do excesso de álcool.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Tribuna do Sertão






