Produtores avaliam perdas e projetam dificuldades ainda maiores para o próximo ano. Entidades destacam melhora no mês de junho

Produtores avaliam perdas e projetam dificuldades ainda maiores para o próximo ano. Entidades destacam melhora no mês de junho

 Créditos: Ed Moreira, Mônica da Cruz 
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Com a estiagem e a pandemia do novo coronavírus, a propriedade registrou uma queda de 45% na comercialização do leite – Lidiane Mallmann

VALE DO TAQUARI | Diferentes de outros anos, o Dia Internacional do Leite, comemorado hoje, não será tão celebrado pelos produtores. Em um ano marcado por uma estiagem intensa, que já causou diversos prejuízos, e a pandemia do novo coronavírus, os produtores leiteiros buscam alternativas para manter a produção e planejar, com muito esforço, os próximos anos. A data, instituída pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO), em 2001, tem como objetivo mostrar à sociedade a importância dos lácteos, visando uma alimentação saudável e equilibrada.

De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS), Alexandre Guerra, além dos benefícios para a saúde, o leite tem papel fundamental na economia de milhares de famílias de pequenos produtores gaúchos. “Queremos homenagear todas as pessoas envolvidas neste setor, responsáveis pelo trabalho diferenciado que se inicia na casa dos produtores, passando pelos cuidados e inovação da indústria, até chegar diariamente na mesa dos consumidores”, destaca.

Ano de preocupação

Para o secretário de Agricultura de Estrela, José Braun, a produção leiteira tem uma importância fundamental para os produtores da região, especialmente para os de Estrela, que fazem a maior do Vale do Taquari. Porém, Braun salienta que o setor tem enfrentado prejuízos expressivos, especialmente com a estiagem, que baixou de forma considerável a produtividade. Segundo o secretário, em função do estresse térmico dos animais, pelo excesso de calor e falta de umidade, a produção de alimentos, como milho para silagem e pastagens, também foi reduzida. “A pandemia também traz reflexos negativos para o setor, assim como para toda a economia”, ressalta.

Quem tem buscado alternativas para driblar a estiagem e os efeitos da pandemia, é a família de Roberto de Oliveira (39). Ao lado da esposa, Eliana de Oliveira, e dos sogros, Pedro e Irma Lenhard, ele mantem a propriedade rural, localizada em Linha Santa Rita, em Estrela, e conta que a maior dificuldade está relacionada a silagem, que teve uma quebra de 60%.

Ele diz que precisou se adaptar e, para isso, abriu um novo silo para as novilhas. “Como elas estavam bem, começamos a dar o silo sem grãos para elas, e para as vacas, para não baixar a produção, a gente continuou dando o silo bom. A desvantagem é que um pouco da silagem sempre apodrece por ter dois silos abertos. Por isso, temos que estar monitorando a cada dois dias para ver como está a situação”, explica.

Além disso, Oliveira explica que novas despesas surgiram. Apesar da família ter uma produção própria de feno, houve cerca de 70% de quebra, o que levou a necessidade de adquirir o produto. “Eu queria comprar feno, porque está faltando, mas o preço do fardo que antes estava em torno de R$ 7,50, agora passou para R$ 15. É uma despesa extra, que não tinha como calcular”, salienta.

Outro acréscimo foi na compra do mix para alimentação animal, que aumentou em torno de 35%. Oliveira destaca que o maior problema dos insumos, como sal mineral e farelo de soja, é que eles, em sua maioria, são adquiridos fora do país. E com as restrições por causa do coronavírus, ficou difícil de adquirir e o preço também foi elevando.

A família, que produz leite e o vende em saquinhos, também registrou uma queda de 45% na comercialização do produto. Conforme Roberto de Oliveira, isso ocorreu porque a propriedade atende muitas escolas, padarias e restaurantes e com as restrições e decretos de fechamentos não houve procura.

Perspectivas

O produtor ressalta que não foi possível driblar a situação e suas diversas consequências. Mas que, no momento, vem buscando parcerias para, a partir do próximo mês, projetar avanços e um possível crescimento. “A gente fica muito preocupado, porque começa a ver que as reservas estão acabando e que a situação fica cada vez mais difícil. O bom é que conseguimos manter a produção, em torno de 33 litros”, frisa.

Para conseguir poupar, Oliveira e os familiares planejam comprar os insumos do próximo plantio com bastante antecedência. Para ele, essa é uma boa forma de conseguir economizar, uma vez que os preços estagnaram. “O nosso jogo vai ser comprar agora, porque na safra vai aumentar, e assim tentar poupar pelo menos uns 10%. Além disso, vamos tentar jogar com os fornecedores para o início do ano, para tentar baratear custos”, explica.

Conforme Oliveira, o leite é um produto essencial, que tem diversos benefícios, como o cálcio. “O leite e seus derivados sustentam, e se tu olhar o preço de um litro de leite, é um valor muito baixo para ter todos esses benefícios”, ressalta. Outro ponto importante, segundo o produtor, é que a produção leiteira envolve uma cadeira de famílias, que dependem da produção e comercialização do produto. “A valorização do produtor deveria ser maior e melhor. Estamos falando tanto em pandemia, mas tu não vê uma política pública específica para o leite e para a agricultura em geral”, desabafa.

A família estava projetando novos investimentos para os próximos meses, mas que precisaram ser colocados de lado. Oliveira diz que o momento é de cautela e muita avaliação. “Não podemos dar um passo maior que a perna, porque o início do próximo ano vai ser muito difícil para o produtor de leite”, frisa.

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Produtor leiteiro, Roberto de Oliveira diz que uma das maiores preocupações é com a aquisição de mix para alimentação dos animais, que teve um aumento por causa da pandemia

Valor do leite tem recuperação no RS

O Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado do Rio Grande do Sul (Conseleite/RS) indicou recuperação no valor de referência do leite em junho. A projeção da entidade para o litro, considerando os primeiros dez dias do mês, é de R$ 1,3721. Ou seja, 8,63% acima do consolidado de maio. Responsável pelo estudo, Marco Antônio Montoya, destaca que a variação percentual reflete a recuperação de parte da queda atípica, registrada em função da pandemia do coronavírus. O levantamento também constatou que o valor real do litro, descontada a inflação, em junho de 2020 está acima da média histórica para o período.

O vice-presidente do Conseleite e presidente do Sindilat, Alexandre Guerra, ressalta que junho vem tendo oscilação menor e uma certa recuperação. “O desempenho do setor lácteo também depende agora da manutenção dos programas sociais do governo e da recuperação da economia”, afirma.

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Emater destaca “importância social” do produto

De acordo com dados divulgados em 2019, baseado no Relatório Socioeconômico da Emater, há em torno de 11.800 famílias produtoras de leite nas regiões do Vale do Taquari e do Caí. Destes produtores, cerca de 5.100 produzem apenas para consumo próprio. Para o assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar, Martin Schmachtenberg, a estatística demonstra a importância da produção como um todo. “O produto tem uma importância social muito significativa, é um alimento completo para todas as faixas etárias. Sua produção para utilização própria evidencia isso, assim como para os produtores que comercializam, pois é uma das atividades com maior giro de moeda”, destaca.

O profissional destaca que a região é a terceira bacia que mais produz leite no território estadual, representando quase 10% da produção do Rio Grande do Sul. Neste ano, simultaneamente à pandemia do coronavírus, os produtores enfrentaram dificuldades com a estiagem. Entretanto, na visão de Schmachtenberg, o cenário está melhorando. “A situação deu uma boa melhorada a partir de meados de maio, com a chegada das temperaturas amenas e das chuvas. Inclusive, as pastagens estão muito bonitas e isso aumentou a produção de leite. O preço deu uma melhorada, e a expectativa é que tenha um aumento para o produtor. O panorama está positivo”, avalia.

Schmachtenberg explica que os efeitos da pandemia foram pouco sentidos nas famílias produtoras, sendo a estiagem o grande dificultador desta primeira metade do ano. “Na questão produtiva, a pandemia não teve uma influência tão grande para o setor. A estiagem atrapalhou com a questão de falta de água em alguns lugares, mas agora recuperou. Essas últimas semanas foram importante, bem como esta época atual do ano proporciona uma reação da atividade, pelo aumento do consumo do leite e de produtos oriundos do mesmo, como o queijo. Ainda, o dólar está alto, diminuindo a importação e proporcionando maior produção”, ressalta.

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Martin Schmachtenberg, assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar

Sindilat valoriza passagem da data

Secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat), Darlan Palharini, destaca a importância do alimento para as pessoas e, também, em termos de produção, na economia. “O leite é um alimento rico em nutrientes, muito importante para as crianças, bem como na juventude e, posteriormente, para os idosos, devido a reposição de cálcio. A produção leiteira é uma atividade de fundamental importância na economia do Rio Grande do Sul”, afirma.

Segundo Palharini, mais de 50 mil famílias gaúchas dependem da atividade de produção leiteira, que acontece diariamente _ com duas safras. “Esta data é uma boa lembrança para valorizar o trabalho da produção leiteira, que começa a ser feita desde cedo, e por muitos sem o processo automatizado”, salienta.

Conforme o secretário-executivo, a produção leiteira, em algumas regiões, sofreu muito com a estiagem e a queda de preço. “Então, foi um início de ano bastante tumultuado, ainda mais com o agravante da pandemia, que trouxe um nervosismo para todas cadeias produtivas, mas já vislumbramos um horizonte melhor na produção de leite. Nós estamos vivendo um período, a partir de maio, onde o mercado está bastante atraente para o produtor e para as indústrias de laticínios em geral, até porque o consumidor está sentido a necessidade e valorizando a importância dos produtos derivados do leite”, explica.

Consumidores brasileiros têm se surpreendido com a alteração do nome do queijo nas embalagens. Essa mudança foi definida em um acordo entre União Europeia e Mercosul.

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