Sem paralisar suas atividades por causa da pandemia do coronavírus e ainda se beneficiando pelo câmbio alto e a alta dos valores das commodities como soja e milho,

Sem paralisar suas atividades por causa da pandemia do coronavírus e ainda se beneficiando pelo câmbio alto e a alta dos valores das commodities como soja e milho, a agropecuária foi um dos setores da economia paranaense menos impactado pelas medidas de prevenção à Covid-19 adotadas pelo estado e prefeituras, como o isolamento social e o fechamento do comércio. A exceção foi a pecuária do leite. Com grande parte da produção destinada à fabricação de queijo, destinada ao fornecimento para restaurantes e pizzarias locais e de São Paulo, estado que adotou medidas mais severas de isolamento, o setor viu a venda de muçarela cair até 33% em abril, precisou alterar o destino da produção e, com isso, sofreu com a queda no preço do litro do leite.

 

“Tivemos, no início da pandemia, logo nos primeiros decretos fechando comércio, uma corrida aos supermercados, com as pessoas estocando leite longa vida, com medo de não conseguir comprar no futuro. Isso aumentou, de início, a demanda e o preço pago pelo litro de leite. Mas, logo depois, com o fechamento dos restaurantes, das pizzarias e lanchonetes, a comercialização da muçarela caiu drasticamente, chegou a 33%, em relação a março. Com o leite que ia para o queijo ‘sobrando’, o preço começou a cair para o produtor”, comenta o superintendente da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa, Altair Valotto. “Estamos nos esforçando e orientando os produtores a não deixar de captar esse leite, ao menos por enquanto. Produzindo a mesma quantidade e procurando outras formas de comercializar. Se não aumentar o consumo e o preço, regulando a oferta e a procura, vai ter produtor reduzindo a alimentação das vacas, para economizar com ração e produzir menos leite”, acrescentou.

Valotto citou que, hoje, os 80 mil produtores de leite do Paraná entregam aproximadamente, 4,5 bilhões de litros de leite por mês. “Quase 40% disso vai para fora do estado, principalmente na forma de queijo e, especialmente, para São Paulo. Para termos reação aqui, precisaremos de reação no mercado de São Paulo, e lá é onde está tendo a maior incidência do coronavírus, é onde o mercado está mais fechado”.

Produtor de leite e presidente da Cooperativa de Leite Witmasum, Artur Savaski, cita que a cooperativa teve uma redução de 35% na venda de queijos. Com isso, o leite excedente passou a ser vendido cru para a indústria, a um preço até R$ 0,25 menor por litro. “O produtor ligado à cooperativa teve perda pequena, de R$ 0,01 por litro, por conta dos outros negócios da cooperativa, que amenizaram o problema. Quem está organizado em cooperativa está mais amparado, mas o produtor diretamente ligado a um queijeiro específico, esse foi muito prejudicado”, registra. “Estávamos num momento de crescimento, mas veio a pandemia. Março e abril tivemos esse problema. Maio não sinaliza recuperação e pensar para frente é pura especulação. Mas um ano que era para apresentarmos resultados ao cooperado, já está sendo considerado perdido”, lamenta.

Engenheiro agrônomo e consultor em produção e leite em Cascavel, José Manuel Mendonça, critica o preço praticado pela indústria. “Houve sim quebra na venda de muçarela, que é o queijo da pizza, o queijo do sanduíche, mas houve uma corrida aos supermercados para estocar leite longa vida, no início das medidas de restrição, e o preço ao consumidor subiu, sem ter aumentado o preço pago ao produtor. Pelo contrário, a indústria que, em março, pagava até R$ 1,53 pelo litro de leite ao produtor, hoje, está pagando R$ 1,35”, relata. “O custo da produção está alto, com insumo e rações, e o preço está baixo, o impacto disso pode ser bem maior do que dois ou três meses, porque quem sai deste mercado do leite, não volta. E cada litro de leite produzido significa emprego, no campo e na indústria”, alerta.

Secretário executivo do Conseleite Paraná – conselho paritário entre produtores e indústria do leite, o zootecnista Guilherme Souza Dias reconhece que o cenário atípico levou a indústria do leite a não conseguir pagar o valor de referência de R$ 1,39 por litro estabelecido pelo conselho. “Como houve, no final de março uma explosão de consumo, com as famílias se preparando para enfrentar o isolamento social, houve aumento da demanda, o que leva à elevação do preço, houve uma elevação de 7%. Contudo, as notícias do campo dão conta de que as indústria não estão seguindo esse valor, muitas indústrias estão pagando ao produtor um valor menor do que o estabelecido”, disse.

Dias cita que a muçarela chega a representar 45% do mix de produtos comercializados pela indústria do leite. “Com o fechamento de restaurantes e pizzarias, essa participação caiu em sete pontos percentuais e muitos laticínios que produzem especificamente queijo acabaram vendendo leite cru para empresas que fazem outros produtos”, conta, lembrando ainda, que o setor tem muita preocupação com o poder aquisitivo da população, abalado neste período de pandemia. “Produtos lácteos são extremamente sensíveis à renda da população. Baixa o poder aquisitivo, além de queijos, produtos como iogurtes, sorvetes, doce de leite deixam de ser comprados”, comenta.

Segundo o Conseleite, as vendas totais do setor caíram 18% de março para abril. “Temos um índice sazonal que mostrava um crescimento acumulado de 42%, comparando março deste ano com março de 2018. Acrescentando abril, esse crescimento acumulado caiu para 19%”, registra Dias.

 

A partir de segunda-feira, 18 de novembro, agricultores se mobilizam contra o acordo de livre-comércio entre a Europa e cinco países da América Latina, rejeitado pela França. François-Xavier Huard, CEO da Federação Nacional da Indústria de Laticínios (FNIL), explica a Capital as razões pelas quais o projeto enfrenta obstáculos.

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