Os sólidos lácteos desnatados estão no centro de um debate que pode redefinir o mercado global de suplementos alimentares.
Estes ingredientes, fundamentais em categorias como proteínas de soro de leite, probióticos e colostro, enfrentam pressões crescentes devido a mudanças regulatórias, acordos comerciais e controles de exportação.
As informações foram apresentadas pela Natural Products Association (NPA) em comentários oficiais submetidos no último mês à United States International Trade Commission (USITC), durante audiência sobre a competitividade dos sólidos de leite desnatado dos Estados Unidos e de outros grandes fornecedores mundiais.
A pedido do U.S. Trade Representative, a USITC iniciou uma investigação sob a seção 332(g) do Tariff Act of 1930, com o objetivo de elaborar um relatório sobre a competitividade global da indústria norte-americana de sólidos lácteos desnatados.
Segundo a NPA, alterações regulatórias recentes, como aquelas associadas ao United States-Mexico-Canada Agreement (USMCA) na América do Norte, impactam diretamente a capacidade das empresas de suplementos de manter um fornecimento estável de ingredientes, o que é crucial para a continuidade tanto das linhas domésticas quanto das exportações.
Além disso, a crescente demanda dos consumidores por transparência, sustentabilidade e segurança reforçada em suplementos impõe maior pressão sobre os fornecedores para garantir sólidos lácteos desnatados de alta qualidade, rastreáveis e adequados a um mercado cada vez mais orientado para a saúde.
O que são sólidos lácteos desnatados?
O leite é composto por cerca de 87% de água e 13% de sólidos. De acordo com pesquisa da Universidade de Maryland, a fração sólida contém aproximadamente 3,7% de gordura e 9% de sólidos não gordurosos, compostos por proteínas (principalmente caseína e lactoalbumina), carboidratos (principalmente lactose) e minerais como cálcio e fósforo.
O mercado global de sólidos lácteos desnatados foi estimado entre US$ 10,5 bilhões e US$ 12,5 bilhões em 2024 e deverá crescer para uma faixa entre US$ 15,2 bilhões e US$ 18,7 bilhões até 2033, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 4,8% a 6,59%.
Segundo a NPA, essa expansão é impulsionada principalmente pelo aumento da demanda do setor de suplementos dietéticos, especialmente em nutrição esportiva, que tem elevado o consumo de concentrados e isolados de proteína de soro.
Cadeia de suprimentos sob pressão
Além do uso em suplementos de proteína, os sólidos lácteos desnatados são componentes-chave em probióticos à base de lácteos, atuando como substratos de fermentação e veículos para bactérias benéficas.
Embora a demanda seja mais intensa no segmento de proteínas de soro, a confiabilidade da cadeia de suprimentos também é essencial para o mercado de probióticos.
A NPA destacou que a competitividade da indústria global de suplementos está intimamente ligada à capacidade de garantir sólidos lácteos com qualidade consistente, desempenho funcional e cadeias de fornecimento rastreáveis.
No entanto, custos elevados de insumos e regulamentações, volatilidade periódica de preços e interrupções logísticas podem restringir essa competitividade, especialmente frente a fornecedores da Oceania.
Na União Europeia, há ampla disponibilidade de ingredientes, mas as regulações complexas e os custos mais altos afetam a agilidade e a rentabilidade.
Outro segmento em alerta é o de suplementos de colostro, o primeiro leite produzido por mamíferos após o parto, rico em imunoglobulinas e fatores de crescimento que não podem ser replicados sinteticamente.
Dados da consultoria SPINS indicam que o mercado VMS (vitaminas, minerais e suplementos) registrou crescimento geral, alcançando US$ 1,70 bilhão nos segmentos de proteína de soro, probióticos e colostro, representando um aumento de 5,73% nas vendas em dólares e 7,32% no volume de unidades vendidas em relação ao ano anterior.
Reshoring: a estratégia americana
Para a NPA, apoiar a manufatura nos Estados Unidos, seja para sólidos lácteos desnatados ou outros ingredientes de suplementos, pode trazer maior estabilidade às cadeias de suprimentos.
A entidade argumenta que essa estratégia reduziria prazos, otimizaria estoques, aumentaria a preparação para crises e criaria de dois a três empregos adicionais em setores correlatos.
Kyle Turk, vice-presidente de assuntos governamentais da NPA, afirmou ao portal NutraIngredients que esses empregos abrangem logística, embalagem, controle de qualidade, serviços de equipamentos, processamento de ingredientes, conformidade regulatória, marketing e pesquisa e desenvolvimento.
Com o aumento da capacidade produtiva nos EUA, cresce também a demanda por profissionais qualificados em segurança alimentar, engenharia de manufatura e gestão de cadeia de suprimentos.
Entretanto, Turk ressaltou que o investimento de capital necessário para esse “reshoring” é significativo. Construir ou modernizar instalações que atendam aos padrões da FDA e GMP, instalar secadores por spray, evaporadores e salas limpas controladas pode demandar dezenas de milhões de dólares.
Ainda assim, ele afirmou que os incentivos de relocalização oferecem uma oportunidade estratégica para impulsionar a manufatura doméstica, prioridade da atual administração norte-americana.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Dairy Reporter
