O Brasil está entre os cinco maiores países produtores de leite e a região sul do país tem se destacado. Segundo a Secretaria Estadual de Agricultura, o leite é o quarto produto do campo paranaense em geração de riqueza.
O estado produz 4 bilhões e 300 milhões de litros de leite por ano e a região sudoeste do Paraná é a que mais produz: são cerca de 1 bilhão de litros por ano.
De acordo com o Secretário da Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara, a produção de leite no Paraná é relevante.
“O sul do Brasil passou a ser a meca do leite. Essa grande região caracterizada pelo oeste e sudoeste do Paraná já são maiores que o sudeste brasileiro, que a Argentina e o Uruguai. Passamos a ser referência”, afirma o secretário.
Exportação
Entretanto, no Paraná a importação do leite e derivados ainda é maior do que a exportação. Segundo o Ministério da Agricultura, entre janeiro e novembro de 2021 o estado exportou 2.054.067 quilos de leite e derivados e importou quase o triplo, 5.778.097 quilos.
Desde março de 2021 o Paraná foi reconhecido como área livre da febre aftosa, sem vacinação, pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). O reconhecimento foi importante para que o leite produzido no Paraná seja exportado.
Segundo o Secretário da Agricultura do estado, isso incentiva ainda mais a cadeia produtiva a se preparar para disputar o mercado internacional.
“Felizmente, com essa passagem do fim da aftosa, nós temos bons investimentos acontecendo, aqui no estado do Paraná. No sudoeste mesmo, a maior fábrica de queijo mozarela do Brasil está em construção, em São Jorge do Oeste. Há ainda a de manteiga e leite em pó, em Francisco Beltrão. É uma fábrica moderna que já está habilitada pra exportação. Nós estamos num processo de percepção de oportunidades pela própria indústria dizendo olha, o leite evoluiu, o status sanitário melhorou, é possível nós beliscarmos um pedacinho do mercado mundial e estamos nos preparando”, explica o secretário.
A veterinária Nicole Wilseck, analista técnica da FAEP, afirma que este é o resultado de um longo trabalho.
”O Brasil e, consequentemente, o Paraná vêm se preparando para isso. Além de volume de produção, temos que pensar em qualidade. O consumidor está cada vez mais exigente. É preciso pensar em técnicas. O Paraná está livre da febre aftosa, situação que abre novas barreiras sanitárias para mercados que antes não eram alcançados. É preciso, portanto, pensar na biosseguridade e também no bem estar dos animais”, reitera.
Desenvolvimento de novas técnicas
Maurício Dolinsk é filho de produtores rurais em Francisco Beltrão. Ele cursou medicina veterinária e, depois de formado, voltou para a propriedade dos pais, onde implantou novas técnicas.
“Faz 11 anos que eu estou aqui na propriedade e a gente evoluiu muito. A gente até brinca que o sonho nosso, há 10 anos, era chegar a mil litros e hoje já estamos com 3 mil. Passamos nossas expectativas”, conta o veterinário.
O produtor conta que a fim de melhorar a qualidade do leite para a exportação ser possível, foi necessário muito investimento em tecnologia, bem estar animal e, principalmente, cuidados sanitários.
“Foi o primeiro passo pra gente poder exportar o leite e, como a gente busca ser cada vez mais ser eficiente, mais produtivo, e a margem parece que está cada vez mais esmagada, essa é uma forma de poder aumentar nossa margem. Vender em dólar é muito melhor que vender em real, porque mercado externo paga bem. Ele agrega muito mais valor ao preço do leite”, explica Dolinsk.
Nicole Wilseck, analista da FAEP, diz que a exportação do leite brasileiro também passa por investimentos em tecnologia.
“A questão do leite hoje, no estado do Paraná, tem muita evolução a se passar. O estado é considerado um dos maiores produtores nacionais de leite, mas a exportação vem engatinhando. Não só no Paraná, mas no Brasil como um todo. Então, a gente precisa ainda estruturar muito a produção pra conseguir abastecer o mercado doméstico e, com esse excedente, começar fazer volume e valor pra poder exportar. Sabe-se que a exportação de leite em pó faz com que o preço local, o preço doméstico para os produtores, melhore. Então, o caminho do leite para melhora na remuneração do litro para o produtor é a exportação”, afirma a analista.
Uma das maiores indústrias de lácteos do Paraná, que fica em Marechal Cândido Rondon, no oeste do estado, já exporta queijo, leite condensado e manteiga para o Paraguai e para a Bolívia. Cerca de 8% do volume diário de produção vai para esses países. De acordo com o diretor executivo da empresa, Elias Zydek, o que dificulta exportar mais é o custo da produção.
“Um acordo que o Brasil tem com a China já liberou a entrada de lácteos e derivados no país. Hoje, não há mais um bloqueio, nem sanitário, porque foi eliminada a febre aftosa, e nem aduaneiro. É possível vender mais para lá, mas o que está limitando os negócios é a viabilidade dos preços. Eu não vou vender para a China para ter prejuízo. Se a Austrália vende por um preço melhor, eu tenho que me recolher. Eu não vou vender pra ter prejuízo”, explica Zydek.
Enquanto exportadores como Nova Zelândia, Argentina e Uruguai conseguem produzir leite de qualidade por 28 a 30 centavos de dólar o litro, no Brasil, o custo gira em torno de 40 centavos de dólar. Para piorar, nos últimos anos, ainda houve aumentos consideráveis nos preços do milho, da energia elétrica e dos combustíveis.
Para se tornar mais competitivo, o setor vem passando por uma transformação. O leite, que já foi símbolo da economia familiar, renda mensal para os pequenos produtores, está se concentrando na mão de médios e grandes produtores, como explica o secretário da agricultura do Paraná.
“Quando se tenta baixar o curso, acaba-se por expulsar gente do setor. É o mesmo problema enfrentado pela suinocultura nos últimos quarenta anos”, afirma.