O mercado de lácteos entra em 2026 com um cenário que exige atenção estratégica de produtores e investidores. Segundo a consultoria StoneX, a combinação de produção global elevada, preços internacionais baixos e margens reduzidas coloca o setor sob pressão, tanto no Brasil quanto nos principais exportadores mundiais.
“Estamos projetando um início de ano com oferta global acima da demanda, o que mantém os preços internacionais do leite sob controle”, afirma Marianne Tufani, consultora de Gestão de Riscos em Laticínios da StoneX.
Países como Estados Unidos, União Europeia e Argentina concentram excesso de produção, que se traduz em preços baixos e margens apertadas para pecuaristas em todo o mundo.
No Brasil, o efeito é sentido mesmo com importações representando apenas cerca de 13% do consumo interno. Tufani explica: “Quando os preços internacionais caem, aumenta-se a compra de importados, pressionando os preços internos para baixo e limitando a rentabilidade do produtor nacional.”
Esse efeito é intensificado pela baixa elasticidade do mercado lácteo, em que pequenas variações na demanda interna provocam grandes oscilações nos preços.
A relação de troca entre o litro de leite e a arroba da vaca gorda está desfavorável, especialmente em estados como São Paulo e Goiás, tornando a atividade menos atrativa para muitos produtores. Alguns já avaliam a possibilidade de diversificação, migrando para culturas alternativas ou ajustes na escala de produção para reduzir riscos.
Apesar do quadro desafiador, há sinais de recuperação parcial das margens, mas principalmente por redução de custos, e não por valorização do leite.
A colheita recorde de milho em 2025 e a comercialização mais lenta contribuem para manter os custos de nutrição animal em níveis mais equilibrados, criando uma margem de respiro para o setor.
Ainda assim, o risco climático permanece no radar: a intensificação do fenômeno La Niña poderia gerar estiagens no Sul, alterando completamente o cenário de custos e produção.
O consumo doméstico apresenta nuances: a inflação de alimentos acumula quatro meses de recuo, favorecendo o gasto das famílias, mas o alto endividamento — que chega a 60% em algumas regiões — limita a expansão da demanda, sobretudo por produtos de maior valor agregado, como queijos especiais e bebidas lácteas premium.
Segundo Tufani, o impulso natural do fim do ano, com o 13º salário e festividades, gera aumento temporário do consumo, mas a sustentabilidade depende de confiança e cenário macroeconômico estável.
StoneX projeta que o viés de baixa deve prevalecer até o primeiro trimestre de 2026, mesmo considerando fatores que poderiam dar suporte, como redução das margens dos produtores argentinos ou aumento da paridade de importação.
A oferta global elevada segue sendo o fator determinante para preços internacionais baixos e margens apertadas.
Exemplos locais ilustram o impacto: produtores do Paraná enfrentaram chuvas intensas que prejudicaram lavouras de milho, elevando a preocupação com custos de alimentação do rebanho.
“Cada decisão sobre produção e insumos pesa muito no resultado final. 2026 exigirá gestão estratégica para atravessar o período sem comprometer a sustentabilidade da propriedade”, comenta Aldino Iargas, produtor regional.
O cenário global e brasileiro evidencia contrastes marcantes: tradição e raízes familiares do setor lácteo caminham lado a lado com a necessidade de planejamento, tecnologia e monitoramento do mercado internacional.
Produtores que conseguirem equilibrar custos, eficiência e gestão de riscos estarão melhor posicionados para enfrentar um período de margens apertadas e oferta elevada.
Em resumo, 2026 começa como um ano de pronóstico cauteloso para o setor lácteo: produção recorde, preços internacionais baixos, margens pressionadas e risco climático como variável crítica.
StoneX reforça que, diante desses fatores, a capacidade de adaptação e planejamento estratégico será decisiva para a sobrevivência e competitividade do leite brasileiro no mercado global.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Globo Rural
