Leite mais limpo, vacas mais calmas e produtividade em alta: a revolução robótica chegou ao campo gaúcho.
Em Carlos Barbosa, na Serra Gaúcha, o produtor Tiago Baldasso adotou a ordenha automatizada com foco em bem-estar animal e eficiência produtiva. O resultado é uma produção diária de até 5 mil litros de leite com menos estresse para os animais e mais controle para o produtor.
Cooperado da Santa Clara e terceira geração à frente do negócio familiar na localidade de Linha Doze, Tiago comanda a propriedade ao lado do primo Diego Carlos Baldasso.
Em 2022, depois de anos de pesquisa, eles investiram cerca de R$ 1,8 milhão em dois robôs de ordenha da marca holandesa Lely. O sistema funciona 24 horas por dia e atende 126 vacas holandesas, conhecidas pelo alto potencial leiteiro.
A tecnologia permite que as próprias vacas escolham o momento da ordenha, conforme seu bem-estar e necessidade fisiológica. Um colar com chip identifica cada animal e libera a ordenha no tempo adequado.
Caso contrário, o robô bloqueia o acesso. Cada vaca pode passar por até seis ordenhas diárias. O processo completo, que dura em média seis minutos, é acompanhado por um aplicativo no celular do produtor.
Durante a ordenha, os animais recebem uma ração peletizada, e, fora dela, são alimentados com silagem de milho, pasto pré-secado, polpa cítrica e bagaço de cevada.
Esse manejo nutricional, aliado ao ambiente com fluxo livre e menor intervenção humana, resulta em maior conforto para o rebanho, menor incidência de lesões e mais longevidade.
A qualidade do leite também é impactada positivamente. “O leite sai sempre refrigerado, com contagem bacteriana praticamente zero, porque não há contato humano no processo”, destaca Baldasso.
Se for detectado algum problema, como sangue no leite ou mastite, o próprio robô faz o descarte automático, sem riscos de contaminação do restante do volume coletado.
Apesar de dividir as tarefas com o primo, o pai e três tios, Tiago é quem monitora os dados no aplicativo e responde a eventuais emergências.
O sistema envia alertas diretamente ao celular, o que exige atenção constante, inclusive durante a noite. “Durmo com o celular debaixo do travesseiro”, conta, admitindo que pretende criar uma escala de plantão no futuro.
O pavilhão onde os robôs estão instalados já está preparado para a ampliação. O plano é dobrar a estrutura atual com mais dois equipamentos e aumentar o número de vacas ordenhadas.
A ideia é acomodar todo o plantel no sistema robótico, o que deve elevar a produção e reduzir ainda mais o desgaste físico dos animais.
A trajetória da família Baldasso na produção de leite remonta aos anos 1940. Em 1993, foram pioneiros na entrega do então chamado “leite B”, hoje “leite seleção” da Santa Clara.
Em 1997, adotaram o sistema de free stall, reforçando o compromisso com o bem-estar animal e a qualidade do produto. A introdução da robótica marca uma nova era, em que tradição e inovação caminham juntas.
A história de Tiago Baldasso é um exemplo claro de como a tecnologia no campo vai além da produtividade: ela se traduz em conforto animal, sustentabilidade e um produto final superior. Para os que ainda duvidam da automação na pecuária leiteira, o recado está dado — o futuro já começou.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Pioneiro