A tecnologia TruActive, recém-aprovada pela FDA, está reposicionando a pasteurização ao oferecer segurança microbiológica sem recorrer ao calor — uma ruptura que preserva nutrientes essenciais e reacende o debate sobre o verdadeiro potencial do leite cru.
Para Bob Comstock, CEO da Tamarack Biotics, esse marco regulatório consolida mais de uma década de pesquisa iniciada em 2011, quando a companhia decidiu explorar como a secagem em baixa temperatura poderia manter intactos os componentes mais sensíveis do leite.
Comstock lembra que a virada científica surgiu logo nos primeiros testes. “Enviamos a UC Davis uma amostra de leite cru seco em baixíssimas temperaturas.
Eles ficaram surpreendidos ao ver que elementos normalmente destruídos pelo spray dryer permaneciam ativos”, relatou. A constatação abriu caminho para um programa tecnológico focado não apenas na secagem, mas em todas as etapas capazes de resguardar o valor biológico do leite.
A aproximação com a BioSafeLight nasceu ainda naquele período. Segundo Comstock, o engenheiro-chefe da BSL já havia trabalhado na SurePure, empresa com a qual Tamarack tivera seu primeiro contato com processos UV. “A tecnologia da BioSafeLight oferecia algo raro: alta eficácia de dose UV sem prejudicar o sabor.
Depois fizemos nosso próprio estudo de dinâmica dos fluxos (CFD) para otimizar o uso especificamente no leite”, explicou.
O princípio do TruActive é direto: a luz UV inativa componentes de DNA e RNA, impedindo que bactérias e vírus se multipliquem. Como o leite permanece frio durante todo o tratamento, os compostos bioativos — altamente sensíveis ao calor — não sofrem degradação.
Comstock reforça a diferença: “O calor destrói a maior parte dessas proteínas. Curiosamente, o leite é o único alimento cujas regulamentações chegam a exigir evidência de dano térmico para comprovar segurança.”
Os resultados chamam atenção. Testes internos e estudos independentes indicam que o processo mantém mais de 93% das proteínas imunoativas, enquanto pasteurizações térmicas tradicionais preservam cerca de 8%.
Em pesquisa conduzida pela UC Davis, observou-se melhora na resposta imune de idosos, fenômeno que Comstock associa à lógica biológica que permite a uma mãe transmitir imunidade ao bebê: “Se funciona na infância, faz sentido que também auxilie o sistema imune de quem envelhece.”
Com a aprovação da FDA em junho de 2025, o TruActive tornou-se oficialmente uma alternativa legal à pasteurização térmica para leite desnatado cru — a primeira de sua categoria.
Para Comstock, o impacto é estrutural: “Nossa tecnologia mata melhor os patógenos, reduz o consumo de energia, diminui o uso de químicos e de água para limpeza, e preserva nutrientes que antes eram perdidos. Acreditamos que toda a indústria migrará para a pasteurização UV.”
A Tamarack já produziu diversos ingredientes em escala-piloto com a nova tecnologia. Segundo o executivo, as primeiras adoções devem ocorrer em categorias de maior valor, como lactoferrina, imunoglobulinas, whey protein concentrates e milk protein concentrates.
A companhia também avança em parcerias para aplicar o processo em leite líquido, iogurte, queijos, kefir e colostro, aguardando apenas a última etapa regulatória para operar comercialmente.
A relevância cresce à medida que o mercado de laticínios funcionais se expande. Tamarack conduz estudos clínicos sobre prevenção de alergias infantis, saúde intestinal, modulação do microbioma e desempenho esportivo. “O leite é incrivelmente bioativo.
Não acreditamos em um ‘composto mágico’, mas na sinergia de centenas de proteínas sensíveis ao calor que modulam o sistema imune”, comenta Comstock.
A sustentabilidade também pesa na equação. A pasteurização térmica exige aquecer o leite a 72ºC e depois resfriá-lo a 4ºC, o que demanda grandes volumes de vapor e eletricidade.
Além disso, como o aquecimento favorece incrustações, as plantas precisam parar regularmente para limpeza e processos anti-fouling. “Com UV, não há aquecimento e simplesmente não ocorre incrustação”, resume o CEO.
A empresa agora mira a aprovação na União Europeia e negocia com grandes produtores de ingredientes do bloco. Para Comstock, o interesse europeu reforça que a pasteurização por UV não é apenas um avanço técnico, mas uma possível mudança de paradigma.
No fechamento, o executivo aponta onde vê o maior potencial para os próximos cinco anos: ingredientes funcionais de alto valor agregado.
Lactoferrina, imunoglobulinas, osteopontina e concentrados proteicos usados em vários produtos lácteos devem liderar essa expansão — uma ponte natural com o enfoque 2, onde a bioatividade preservada pelo TruActive abre espaço para uma nova geração de produtos premium, com aplicação em saúde, nutrição e desempenho.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de FoodBev Media






