Os EUA voltaram a mirar no prato europeu — e, desta vez, o alvo foi direto na tábua de queijos. O Parmigiano Reggiano, símbolo da excelência italiana e protegido por uma Denominação de Origem (DOP), agora paga 25% de tarifa para entrar no mercado americano.
Resultado: o preço médio saltou de 42 para 49 dólares por quilo. E pode passar de 55 $/kg até o início de 2026, segundo projeções do próprio Consórcio que regula o produto.
Enquanto isso, o Brasil assiste de camarote. Mas será que deveria?
Um vácuo caro — e tentador
Mesmo com preços altos, os EUA continuam sendo o principal destino do Parmigiano Reggiano, representando 22,5% das exportações do consórcio. Mas a nova política tarifária de Donald Trump já gerou uma queda no ritmo de compras e um alerta estratégico: quem vai ocupar o espaço deixado por um queijo premium que ficou ainda mais caro?
Com a União Europeia tentando renegociar, o Consórcio aposta em fidelidade de marca, experiência sensorial e marketing de impacto. Criou uma academia internacional de embaixadores do Parmigiano, já treinou mais de 700 profissionais, firmou uma sede própria em Nova York e fechou parceria com o time de futebol americano New York Jets.
Enquanto isso, países do Mercosul — com seus queijos duros, curados e artesanais — começam a enxergar uma janela de oportunidade nos EUA e em outros mercados premium.
Brasil, você está pronto?
O mercado americano de queijos duros é gigantesco e tem espaço para todo tipo de consumidor: do que compra parmesão ralado a granel ao que paga 50 dólares por um pedaço curado 24 meses com história, origem e reputação.
O Brasil tem produtos incríveis, como o Canastra, o Serrano, o Coalho curado, o Manteiga artesanal — mas ainda falta estrutura comercial, certificações reconhecidas internacionalmente e estratégia de posicionamento.
Aprender com o caso do Parmigiano pode ser um atalho. Eis o que ele ensina:
- Denominação de origem não é só papel — é plataforma de valor. O Consórcio italiano investe em capacitação, rastreabilidade e branding com consistência.
- O storytelling importa. O consumidor premium quer mais que sabor — quer propósito, tradição, diferencial.
- A briga não é só na gôndola, é nos bastidores. Diplomacia comercial, acordos bilaterais e estratégias de influência são tão importantes quanto o queijo em si.
- Marketing cultural dá resultado. Estar no MetLife Stadium ou no Miami Open não é acaso — é saber onde seu público-alvo está.
O que o setor brasileiro pode fazer agora?
- Formalizar e fortalecer DOPs e IGs já existentes
Sem burocracia inútil, mas com rigor e propósito. O mundo precisa conhecer (e confiar) nos queijos brasileiros. - Olhar para o mercado externo com foco e inteligência
Não é sobre volume — é sobre entrar em nichos de valor com argumentos fortes, como qualidade, origem, sustentabilidade e inovação. - Investir em capacitação e embaixadores da marca Brasil
Não basta produzir bem — é preciso saber vender. Falta gente treinada para contar essa história nos idiomas certos, com autoridade e paixão. - Aproveitar o timing político global
Quando gigantes se enfrentam, os ágeis vencem. Enquanto Europa e EUA disputam tarifas, o Brasil pode ocupar espaços com flexibilidade e carisma.
Se até o Parmigiano Reggiano precisou colocar chuteira para jogar no campo do marketing esportivo, talvez seja hora de o queijo brasileiro entrar em campo também. Não com complexos — mas com inteligência, ousadia e um plano de jogo.
E você, produtor, exportador ou varejista: está preparado para vender o seu queijo a 40 dólares o quilo… com orgulho?