Confortavelmente instalado em Bruxelas, na Bélgica, o Parlamento Europeu não percebeu que suas medidas atingiriam os produtores de alimentos da região europeia e que provariam de seu próprio veneno.
Europeia
A violência contra os produtores de alimentos é palpável.
“O pau dá em Chico dá em Francisco.” Nunca tal frase correspondeu tanto à verdade quando agora, quando os agricultores europeus promovem uma série de protestos.

Confortavelmente instalado em Bruxelas, na Bélgica, o Parlamento Europeu não percebeu que suas medidas atingiriam os produtores de alimentos do território europeu e que provariam de seu próprio veneno.

Quem cospe pra cima corre o risco de ter seu cuspe de volta no próprio rosto, e o velho continente, tão mal-acostumado com o colonialismo explorador e assassino, começa a sofrer as consequências das ações de suas lideranças, provocando uma reação em cadeia dos agricultores hoje liderados pela França.

As decisões emanadas da Bélgica e a reação dos franceses me fazem lembrar a frase, repetida muitas vezes, do fenomenal detetive Hercule Poirot, criação da ‘Rainha do crime’, a escritora Agatha Christie: “Não sou francês, sou belga”. Mas, leiamos trechos de reportagem de Rosie Frost, publicada no dia 25 de janeiro deste ano pela Euronews sob o título “UE forçada a apaziguar a raiva dos agricultores que protestavam em toda a Europa”:

“Os agricultores europeus, que já sofrem as consequências da crise climática, denunciam políticas contraditórias, injustas e preocupantes para o futuro. Estradas foram bloqueadas em toda a França, estrume e resíduos agrícolas foram despejados em frente a repartições públicas e fardos de feno foram espalhados em restaurantes de fast food. Tudo começou no ano passado, quando os agricultores começaram a desparafusar os sinais de trânsito e a colocá-los de cabeça para baixo. Às vezes acrescentavam o lema ‘on marche sur les têtes1, que significa “andamos de cabeça para baixo”, em referência à forma como o seu mundo virou de cabeça para baixo.

Desde então, os protestos tornaram-se cada vez mais conflituosos e a tragédia ocorreu na terça-feira, quando uma agricultora e a sua filha morreram e o seu marido ficou gravemente ferido devido a um acidente de viação numa barricada de protesto na região de Ariège, no sudoeste de França. O maior sindicato de agricultores de França, FNSEA, afirma que os protestos continuarão ‘esta semana e enquanto for necessário’. O sindicato está a considerar uma ação nacional à medida que o movimento avança.

Mas não se trata apenas da França. Os agricultores europeus, que já enfrentam perdas econômicas decorrentes da crise climática, manifestam-se contra as políticas ecológicas que consideram contraditórias, injustas e preocupantes para o futuro. Outra frustração ocorre quando se candidata aos 9 mil milhões de euros anuais em subsídios que a França recebe da UE. Segundo os agricultores, eles passam pelo menos um dia por semana preenchendo a documentação necessária. Segundo eles, políticas contraditórias obrigam o setor a tentar reduzir o impacto ambiental da agricultura e, ao mesmo tempo, aumentar a produção de alimentos. Com cada vez menos pessoas a trabalhar para produzir os alimentos necessários para alimentar a França, muitos estão preocupados com o futuro.

Os protestos dos agricultores franceses espalharam-se pelos Países Baixos e pela Alemanha. Todos partilham a mesma preocupação relativamente às decisões injustas e imprevisíveis dos governos em questões agrícolas. Sendo um dos maiores exportadores agrícolas do mundo, a indústria é responsável por cerca de metade das emissões totais de azoto dos Países Baixos. Em 2019, o mais alto tribunal administrativo decidiu que o sistema de licenças de azoto não conseguia evitar que estas emissões prejudicassem reservas naturais especialmente protegidas, conhecidas como rede Natura 2000. Foi então que o governo cedo disse que precisava de tomar ‘medidas drásticas’ para retificar a situação, incluindo a compra e encerramento de explorações pecuárias.

A raiva também cresceu na Alemanha relativamente aos planos de eliminação gradual dos subsídios aos combustíveis, que custam até 3.000 euros por ano para uma empresa média. O ressentimento de longa data relativamente à aplicação injusta de políticas ambientais apenas adicionou lenha na fogueira. Os agricultores têm saído às ruas desde dezembro e foram acompanhados em Berlim por ativistas ambientais na segunda-feira. As ruas estavam cheias de tratores. A exasperação também cresceu no leste da UE, com protestos na Polônia, Romênia, Eslováquia, Hungria e Bulgária, onde os agricultores se queixam da concorrência desleal dos cereais a preços reduzidos provenientes da Ucrânia.

Na Romênia e na Bulgária, as passagens fronteiriças foram bloqueadas por tratores e camiões. Em abril passado, a Polônia viu o seu ministro da Agricultura demitir-se devido ao conflito, embora novos subsídios tenham acalmado um pouco a situação. No entanto, muitos continuam preocupados com impostos excessivamente elevados e regulamentações cada vez mais rigorosas. À medida que os agricultores sofrem com o impacto das secas, inundações e incêndios florestais, dizem que as políticas verdes apenas os estão a pressionar ainda mais.

Os protestos poderão alastrar-se nas próximas semanas, com Espanha e Itália a juntarem-se também ao movimento. A Comissão Europeia iniciará conversações estratégicas com sindicatos de agricultores, empresas agrícolas e especialistas para acalmar a situação. No entanto, as tensões continuam a aumentar e a agricultura está a emergir como um dos principais temas de debate na UE antes das eleições para o Parlamento Europeu, em junho.”

A violência contra os produtores de alimentos é palpável.

“A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota.” Jean-Paul Sartre (1905-1980), filósofo e escritor francês.

 

*Consultor em Agronegócio

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