O whey, antes restrito às academias, suplemento de proteína está em todo lugar, agora até nas gôndolas de supermercado.
Whey
Gabriel Ferreira, CEO da Bold, dona dos Bold Snacks, diz que até seis anos atrás, as barrinhas vistas em lojas de suplementos ainda eram consideradas coisa de "marombado".
Basta uma ida a um supermercado para constatar: whey não é mais exclusividade de marombado. Está em barrinhas, em cookies, em iogurtes, em achocolatados, em cappuccinos… Ele pode ser utilizado em receitas de muffins, bolos e panquecas também.

A proteína em pó extraída do soro do leite é uma das melhores amigas dos praticantes de musculação porque auxilia na regeneração das fibras musculares, reduz o nível de gordura corporal e colabora com o ganho de força e massa muscular.

Fora daqueles tradicionais potes arredondados, o whey ganhado popularidade sobretudo na forma de barrinhas de proteína, como se fossem uma espécie de sobremesa, um tipo de snack indulgente que acena à busca pela saúde. Mas será que eles são assim inofensivas?

Daniela Canella, professora do Instituto de Nutrição da Uerj e pesquisadora de ultraprocessados, diz que esses produtos contêm emulsificantes, usados para tornar a sua textura agradável; aromatizantes, para instigar o consumo; além de edulcorantes, um substituto do açúcar cujo consumo foi desestimulado pela OMS, Organização Mundial da Saúde em um relatório recente.

“O que me preocupa com esse tipo de ultraprocessado é quando ele se vende como fundamental para uma dieta saudável”, diz. “Na média da população brasileira, nosso consumo de proteína segue adequado, a não ser entre as pessoas de renda muito baixa. A indústria pode criar narrativas de que a gente precisa de determinados produtos, mas a gente não precisa de mais ultraprocessados.”

Ela não sugere banir esses snacks doces e proteicos, mas um consumo moderado deles. O próprio Guia Alimentar para a População Brasileira, ela afirma, tampouco recomenda que os industrializados sejam banidos da alimentação —eles só não devem ser a base de uma dieta.

Essas barrinhas ficaram mais populares no país porque surfaram na onda da mudança de hábitos alimentares dos brasileiros no período pós-pandemia de Covid-19. É o diagnóstico de Danielle Almeida, executiva de marketing da MindMiners, empresa especializada em pesquisas sobre consumo.

É que, se para muitos, durante o distanciamento social, as guloseimas foram a tábua de salvação daquele longo momento de incerteza, agora as pessoas voltam à vida normal influenciadas por aqueles tempos.

“Durante a pandemia, o consumidor passou por todas aquelas fases —viveu de delivery, fez o pão caseiro, cozinhou em casa”, diz. “Mas agora ele está retomando a vida dele e quer ser saudável sem abrir mão de coisas que gosta de comer.”

A indústria alimentícia tem se mobilizado para entender o que os brasileiros querem consumir na hora do lanche da tarde, uma vez que já são bem conhecidas as escolhas para o café da manhã, o almoço e o jantar. As barrinhas aparecem nesse cenário.

Otto Guarnieri, cofundador da Mais Mu, diz que a empresa surgiu com o objetivo de acabar com a ideia que “whey é bomba”. Após vender o pó em garrafinhas, a marca hoje oferece as tais barrinhas indulgentes —em sabores como cookies n’ cream e chocolate duo— entre outros produtos.

“Nós percebemos que a melhor maneira de mostrar isso seria transformando o whey ou qualquer outra proteína em algo parecido com o snack”, diz. “Chegamos ao conceito do ‘supple-snack’, que traz a parte nutritiva e funcional dos suplementos e a parte dos snacks, no preço, na distribuição, na marca e, principalmente, no sabor.”

Gabriel Ferreira, CEO da Bold, dona dos Bold Snacks, diz que até seis anos atrás, as barrinhas vistas em lojas de suplementos ainda eram consideradas coisa de “marombado”. Mas uma viagem aos Estados Unidos, na qual ele observou produtos como os da marca dele sendo vendidos, o fez notar a oportunidade de empreender no Brasil.

“Esses produtos tinham embalagens pretas, com caveiras e correntes —remetendo à cultura ‘bodybuilder’— ou você os encontrava em farmácias junto com os dietéticos, tendo cara de remédio”, afirma.

Ele optou então por reposicionar a marca tirando os suplementos do portfólio e apostando em embalagens coloridas. A Bold trabalha com uma mistura composta por whey, caseinato de cálcio e proteína de leite, para dar ao produto sua consistência específica, em barras de banoffee, leite e avelã e torta de limão, além de tubinhos recheados.

“É uma barra de proteína com cara de barra chocolate, vendida em lojas de doces, supermercados, no caixa de lojas de conveniência ou farmácias. Aos poucos, a gente foi se colocando no mundo dos chocolates”, diz.

Os dois empresários afirmam ter números positivos. A Mais Mu faturou R$ 47 milhões em 2022 e recentemente entrou em uma bolsa de empresas emergentes, segundo Guarnieri. A Bold Snacks, por sua vez, faturou no mesmo ano cerca de R$ 80 milhões e deseja alcançar o dobro em 2023, de acordo com Ferreira.

A Havanna, conhecida pelo doce de leite e pelos alfajores argentinos, fechou uma parceria com a marca de suplementos Nutrata para iniciar a linha com whey, dois anos atrás. Em 2022 lançaram mais seis. As barrinhas hoje representam 35% das vendas do portfólio da Nutrata, diz Letícia Zanutto, analista de produtos da Havanna.

“É uma tendência que vai permanecer por muito tempo. Nossos clientes têm buscado as barrinhas com doce de leite como um complemento à alimentação e pelo prazer pessoal”, diz.

Barrinha de proteína da marca Havanna – Divulgação

Samuel Ma, diretor da NH Foods, que detém a marca Belive, afirma ter registrado um aumento de 68% das vendas em 2022. No primeiro semestre deste ano, o crescimento foi de 67%. O brownie proteico —que, assim como o pão de mel, é feito de proteínas vegetais e não contém glúten e lactose— é o principal produto da marca hoje, afirma. O portfólio ainda conta com cookies e bolinhos.

“Se você comer uma barrinha ou um iogurte todo dia, você vai enjoar. Existe gordura boa e ruim, mas isso não se aplica à proteína”, diz.

De acordo com Ma, o consumidor da Belive fica no meio termo —não é atleta e nem está fugindo dos industrializados. “São pessoas que estão buscando alternativas convenientes para consumir proteína.”

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