A agricultura mundial vai olhar para 2025 como um marco difícil de ser repetido.
A avaliação é de Allan Barber, analista do setor agropecuário, que classifica o ano como “estelar” para produtores rurais, cooperativas e cadeias de valor ligadas ao campo, especialmente na Oceania.
Segundo Barber, poucos anos reuniram tantos fatores positivos ao mesmo tempo. O setor leiteiro registrou pagamento recorde aos produtores, enquanto os preços da carne bovina e ovina atingiram os níveis mais altos já observados. A rentabilidade das fazendas foi considerada a melhor em muitos anos, sustentada por um ambiente comercial favorável e decisões políticas que aliviaram pressões regulatórias.
Entre os destaques de 2025, o analista cita a assinatura de acordos de livre comércio com os Emirados Árabes Unidos e o avanço das negociações com a Índia. Ao mesmo tempo, houve flexibilização das metas de redução de metano e, após anos de debate, um endurecimento nas regras de conversão de terras agrícolas em florestas, ponto sensível para produtores da Nova Zelândia.
A lista de acontecimentos relevantes inclui ainda grandes movimentos corporativos. A venda de 65% da Alliance para a Dawn Meats e a alienação do negócio de marcas de consumo da Fonterra para a Lactalis foram aprovadas por 88% dos acionistas em ambos os casos, sinalizando confiança e consenso em decisões estratégicas de longo prazo.
Apesar do cenário positivo, Barber alerta que já surgem sinais de acomodação em alguns mercados. No leite, o aumento da produção combinado com uma demanda global mais fraca começa a pressionar os preços. A Fonterra, por exemplo, revisou para baixo o ponto médio do pagamento previsto para o próximo ciclo, embora sua gestão mantenha uma visão otimista. Os cooperados, por sua vez, ainda devem se beneficiar dos recursos obtidos com a venda da operação Mainland.
No mercado de carne ovina, começam a aparecer resistências aos preços elevados do cordeiro. Ainda assim, o analista avalia que a oferta reduzida deve limitar quedas mais acentuadas no curto prazo. Economias fragilizadas nos principais mercados importadores representam um risco para a sustentação desses valores históricos, enquanto a tarifa de 15% aplicada pelos Estados Unidos já provocou impactos adversos.
Mesmo assim, a demanda por carne ovina a preços elevados permanece relativamente bem distribuída entre União Europeia, Reino Unido, América do Norte e Oriente Médio. A China continua absorvendo volumes expressivos, sobretudo de cortes de menor valor, ajudando a equilibrar o mercado.
No caso da carne bovina, o cenário é ainda mais firme. Barber aponta que a competição estratégica entre Estados Unidos e China sustenta uma demanda consistente, mesmo em patamares elevados de preço. A redução cíclica do rebanho americano gerou uma escassez que deve persistir por vários anos. Esse desequilíbrio já levou à reversão de tarifas impostas no início do ano, em um reconhecimento pragmático da importância do abastecimento interno.
“O consumo de hambúrgueres nos Estados Unidos fala mais alto do que disputas comerciais”, observa o analista, destacando que a recuperação do rebanho bovino americano será lenta. Até lá, a expectativa é de manutenção de preços firmes e demanda aquecida.
A situação do setor ovino nos Estados Unidos, no entanto, é mais complexa. Produtores locais, em minoria, enfrentam dificuldades há anos devido à baixa demanda interna e à concorrência de importações, principalmente da Austrália e da Nova Zelândia. Entidades representativas da Oceania defendem que o produto importado é complementar à oferta doméstica e essencial para manter a carne ovina presente no mercado americano.
Mesmo assim, produtores dos EUA pressionam por tarifas mais altas sobre importações, acreditando que isso estimularia a produção local. Barber demonstra ceticismo quanto à eficácia dessa estratégia e considera improvável que a Nova Zelândia consiga a remoção de tarifas adicionais no curto prazo.
Para o setor de carne ovina, o avanço mais favorável seria a conclusão de um acordo de livre comércio com a Índia. Embora haja sinais de interesse mútuo, o analista aponta entraves relevantes, como a proteção política ao setor lácteo indiano e demandas relacionadas a vistos migratórios e estudantis, temas sensíveis no cenário político neozelandês.
Ao ampliar o olhar para o contexto internacional, Barber compara a situação da agricultura da Nova Zelândia com a do Reino Unido, onde produtores enfrentam um ambiente mais hostil. A introdução do Family Farm Tax, a partir de abril, prevê um imposto sucessório de 20% sobre ativos acima de um milhão de libras, medida que ameaça a viabilidade de fazendas familiares multigeracionais e já motivou protestos em Londres.
Diante desse conjunto de fatores, Allan Barber conclui que 2025 foi um ano excepcional para a agricultura, resultado de uma convergência rara entre preços, política e comércio. Justamente por isso, avalia que repetir esse desempenho nos próximos anos será um desafio considerável.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de interest.co.nz






