A cadeia produtiva do leite começou este mês apreensiva com um anúncio do governo federal, que previa isentar de taxação o leite em pó importado da União Europeia (14,8%) e da Nova Zelândia (3,8%). Nos últimos dias, no entanto, diante da forte pressão e da mobilização de entidades agrícolas, o governo voltou atrás, em parte, na decisão. De acordo com o agricultor familiar Pedrinho Signori, secretário-geral da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/RS), a expectativa é de que a nova posição se concretize o mais breve possível.
“A primeira medida foi irracional e irresponsável”, dispara. Para o dirigente, o fim das taxações certamente provocaria uma avalanche de leite em pó no mercado nacional, prejudicando diretamente os pequenos produtores, que nos últimos meses já vêm enfrentando dificuldades em relação à oscilação nos preços do litro do produto. “Muitas famílias estão, literalmente, pagando para produzir”, lamenta. Segundo Signori, a medida ainda poderia motivar que mais agricultores desistissem da atividade leiteira, tanto no Estado quanto em outras partes do País.
Após a mobilização de deputados e líderes sindicais dos trabalhadores rurais em Brasília, pela manutenção da tarifa sobre a importação do leite em pó, o governo assumiu o compromisso de elaborar um decreto taxando em 14,8% o produto oriundo da União Europeia, incidindo sobre os 28% já existentes (taxa normal de importação), atingindo 42%. “A União Europeia é a maior preocupação em razão do grande volume de leite em pó estocado”, destaca Signori. Apesar do alento, a isenção da taxação da Nova Zelândia ficou de fora, o que ainda causa apreensão na cadeia produtiva do leite.
Reação dos preços
Os produtores de leite vivem a expectativa de aumento nos preços, inicialmente em função do verão, que baixou a produção no campo com a redução das pastagens. Além disso, a volta às aulas deve aumentar a demanda por leite, aquecendo o mercado. Para o secretário-geral da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/ RS), Pedrinho Signori, a grande angústia de quem produz é a oscilação nos preços e o valor dos insumos. “As famílias nunca sabem o quanto vão ganhar. Infelizmente, muitas vezes as notas não cobrem os custos de produção e muitos trabalham no vermelho.”
Outra preocupação é com o excesso de leite no Estado, provocado pelas importações de países do Mercosul. “Este ano a Fetag vai brigar para que o governo do Estado não conceda incentivo fiscal para as indústrias que importam leite e promovem um desserviço para a economia.” Segundo Signori, a produção do Rio Grande do Sul, de 12 milhões de litros por dia, é suficiente para atender à demanda interna. Somente no ano passado, 65,2 mil agricultores gaúchos produziram 4,5 bilhões de litros de leite – a segunda maior produção nacional. Isso representa uma importância econômica para o Estado de R$ 4,6 bilhões ao ano.
Alternativa é investir em qualidade para reagir à crise
Em Linha Júlio de Castilhos, no interior de Santa Cruz do Sul, o produtor Jair Paulo Breunig, de 37 anos, aposta na qualidade para aumentar os ganhos da família na produção leiteira. Ao lado da esposa Sandra Beatriz Theisen Breunig, de 32, conduz a atividade desde 2012. Após seis anos fora do interior, o casal retornou para suas origens e, desde então, traça o caminho que tornou a propriedade uma referência no segmento, com certificação de qualidade conferida pela cooperativa. A dedicação possibilitou, em 2018, a produção de 152 mil litros de leite, com média de 420 litros ao dia. Hoje, esse diferencial faz com que os produtores vendam o leite a R$ 1,18 o litro – bem acima do preço médio do mercado.
“Acredito que o caminho para o produtor é trabalhar em cima da qualidade, o que muda positivamente a margem de lucro. Atuamos com alimento e não podemos desleixar no aspecto sanitário”, argumenta. Outra questão estratégica, na visão do agricultor, é baixar os custos produtivos, agregando valor ao litro do leite. “Atualmente, o produtor encontra no mercado todas as ferramentas de que precisa, mas é preciso ir atrás. Tanto faz ser pequeno ou grande, o importante é buscar aperfeiçoamento constante”, orienta.
Na propriedade de 14,9 hectares, o rebanho conta com 48 cabeças, predominantemente da raça holandesa, sendo 28 em lactação, sete novilhas inseminadas, seis terneiras e mais os animais para consumo.