Os cientistas do painel concluíram que a adulteração alimentar provocou alterações no perfil sensorial dos clientes, que consideram que os produtos transformados têm o sabor “original”, enquanto que os produtos naturais são rejeitados devido ao seu forte sabor, como no caso do queijo.
No encontro organizado pelo Instituto de Investigação Económica da Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM), o especialista em Ciência Alimentar da Universidade Tecnológica Nacional do México, Aarón Fernando González Córdova, advertiu que as pessoas estão a perder a percepção sensorial dos alimentos devido ao consumo de alimentos adulterados, cuja produção se tornou mais sofisticada.
González Córdova observou que no caso dos queijos comerciais, estes são fabricados através de formulações industriais que “enganam o consumidor” porque praticamente não necessitam de lactose, e as empresas não reportam os verdadeiros ingredientes na sua rotulagem.
Contudo, observou que embora o avanço da adulteração seja notável, os métodos de análise para a detectar também foram aperfeiçoados. “Esta é uma corrida contra o tempo, as estratégias que são utilizadas para falsificar alimentos estão a avançar, mas também o são os métodos pelos quais podemos detectar essas alterações”, disse ele ao evento.
ROTULAGEM DE AVISO
A rotulagem de aviso foi uma decisão tomada por organizações internacionais de saúde, devido à epidemia de excesso de peso, obesidade e diabetes no México e no mundo, que está relacionada com o elevado consumo de alimentos adulterados, disse Katia Yetzani García Maldonado.
A rotulagem apenas considera os nutrientes artificialmente adicionados, e não os contidos nos próprios alimentos. Por exemplo, no caso dos queijos, se forem genuínos, não necessitam de rótulos de gordura saturada.
Em Outubro de 2025, entrará em vigor a terceira fase da rotulagem, onde será aplicado um perfil completo dos nutrientes que fazem parte do alimento enquanto tal, bem como os nutrientes adicionados. “A razão pela qual isto foi feito deve-se aos riscos para a saúde devido ao consumo excessivo de certos nutrientes críticos, tais como gorduras saturadas e sódio”, disse o professor da UNAM.
Neste sentido, os queijos que são 100% leite ou queijos artesanais não devem ser rotulados com carimbos indicando um excesso de gorduras saturadas.
OS REGULAMENTOS DISCRIMINAM OS PEQUENOS PRODUTORES
Neste sentido, a regulamentação mexicana não incorpora a produção artesanal no mercado, uma vez que está limitada ao sector industrial.
Esteban Barragán López, um académico do El Colegio de Michoacán, explicou que antes da rotulagem dos alimentos, havia falhas internacionais no que diz respeito à denominação de origem, como no caso do queijo parmesão, que é para toda a vida e deve ser respeitado em todo o mundo; no entanto, tal não é o caso, e a sua venda noutros países é uma violação dos acordos e tratados internacionais.
Mas no caso das feiras de queijo artesanal no México, chamou-lhes “mostruários para a indústria”, “onde há verdadeiros impostores que cometem o crime de imitar marcas protegidas por lei para fins de especulação comercial, como acontece com a comercialização da Cotija, que não é da região de origem”.
Embora o objectivo seja controlar estes abusos através da rotulagem frontal, os produtores artesanais não podem permitir-se, porque o custo de incluir certas características ou informações nutricionais é de cerca de oito mil pesos, e são cobrados montantes semelhantes por cada modificação do rótulo, disse Barragán López.
Por esta razão, assegurou que os regulamentos em geral, e a rotulagem em particular, continuarão a ser dispositivos que excluem os queijos artesanais do mercado formal, e o seu lugar será ocupado por imitação ou produtos análogos.