As pesquisas de opinião mostram que a alta da inflação é um dos principais motivos para queda de aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Empresas. Inflação. Produtos farmacêuticos e alimentos puxaram o índice.
Puxada pelos produtos farmacêuticos e alimentos, a inflação acelerou para 0,38% na passagem de março para abril. A gasolina ficou mais cara no mês e também contribuiu para o avanço do indicador.

O resultado veio acima do esperado pelos analistas, de 0,35%, segundo Valor Data. Ainda assim, é a menor taxa para o mês de abril desde 2021, quando variou 0,31%.

Apesar de os analistas avaliarem que o resultado do IPCA traz sinais positivos, com desaceleração dos preços dos serviços, economistas estão atentos a altas dos alimentos com as cheias no Rio Grande do Sul. Esse é um ponto de atenção para o governo.

As pesquisas de opinião mostram que a alta da inflação é um dos principais motivos para queda de aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pesquisa da Genial/Quaest, divulgada na última quarta-feira, mostrou que 67% dos entrevistados relataram que o poder de compra dos brasileiros diminuiu nos últimos 12 meses, enquanto 19% acham que aumentou.

O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do país, além de importante produtor de soja e milho. São alimentos que fazem parte da cesta de compras do brasileiro e têm impacto sobre outros produtos. Soja e milho são usados como ração e problemas na oferta acabam tendo impacto no preço das carnes, além de itens como óleo de soja e farinha.

Adriano Valladão, economista do Santander, afirma que, por causa das enchentes, a tendência é de impacto na produção local e, consequentemente, nos preços. O Santander prevê que a alimentação no domicílio vai ficar 3,9% mais cara este ano, ante estimativa de 3,3%:

— Começamos a ver os principais impactos nas nossas coletas no atacado, principalmente nos preços da batata. Ficamos preocupados com a produção de arroz. Esse foi um dos principais motivos para a gente subir a previsão do IPCA no ano de 3,3% para 3,4%.

Valladão vê impacto na cadeia de proteínas, de aves, suínos e carne bovina:

—À medida que for acontecendo, vamos conseguir entender qual vai ser a dinâmica e o impacto na inflação.

Outro ponto no radar do analista é a seca no Centro-Oeste, que está prejudicando a lavoura de milho. O clima seco pode afetar níveis dos reservatórios e mexer nos preços de energia, diz Valladão.

A alimentação no domicílio ficou mais cara, com os preços acelerando de 0,59% em março para 0,81% em abril. O mamão chegou a ficar 22,7% mais caro, seguido da cebola, com alta de 15%; o tomate, 14%; e o café, com alta de 3%.

Segundo o IBGE, a menor oferta dos produtos por causa dos fenômenos climáticos no fim do ano passado e início desse ano explica o aumento. Já a alimentação fora do domicílio variou 0,39%, semelhante à alta de março (0,35%).

— As questões climáticas, com um El Niño mais intenso do que em outros anos e que aumentou as chuvas em regiões produtoras, além das ondas de calor… Tudo isso acabou prejudicando a oferta de alimentos, principalmente os mais sensíveis ao clima, e isso acaba se refletindo nos preços — explica André Almeida, gerente da pesquisa do IBGE.

Luís Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, considerou ruim a aceleração da inflação de alimentos já em abril. Ele lembra que a alta de 0,81% ainda não considera os impactos das chuvas na Região Sul:

— A tendência, daqui pra frente, é (alimento) aumentar ainda mais. O impacto vai ser próximo de 0,2 ponto percentual (no IPCA do ano). E que deve se concentrar em maio e junho. Ainda não vi impacto desse choque agrícola nos preços das coletas do varejo, mas vai impactar.

A provável alta dos alimentos se mostra um fator adicional para o Banco Central manter a postura de cautela em relação à queda dos juros, avaliam economistas. A mudança da meta fiscal no Brasil e a perspectiva de juros altos nos EUA por mais tempo são fatores que corroboram para uma visão mais comedida.

O Santander está em processo de revisão da Selic, mas Valladão adianta que deve subir a expectativa para a Selic no fim do ano. No último Boletim Focus, do Banco Central, o mercado estima que os juros cheguem a 9,6% em dezembro.

Alta concentrada

Para Leal, o resultado do IPCA foi uma boa notícia em meio a uma “semana de muito ruído entre os membros do Copom (Comitê de Política Monetária)”. Ele avalia que, apesar da divergência entre os membros do Comitê (que votou dividido no corte de 0,25 ponto percentual), o BC indicou que não será tolerante com aumento de preços.

E a divulgação do IPCA mostrou que a inflação de serviços continuou caindo, confirmando a trajetória de desaceleração dos preços:

— A inflação de serviços dá certo alívio ao BC de que os juros podem cair mais 0,25 ponto — avalia Leal, que projeta Selic a 9,25% até o fim do ano caso o BC americano corte juros em setembro.

Já Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, prevê queda da Selic até 9,75% em setembro, quando o BC deve parar de reduzir juros até voltar a subir a taxa, para 10,5%, em 2025.

Em abril, sete dos nove grupos de produtos e serviços tiveram alta. Os dois maiores impactos vieram dos grupos Saúde e cuidados pessoais (1,16%) e Alimentação e bebidas (0,70%). Juntos, contribuíram com 0,3 ponto percentual do IPCA, ou 79% do índice.

A inflação de serviços continuou desacelerando em abril. O índice em 12 meses caiu de 5,09% em março para 4,60% e atingiu o menor nível desde setembro de 2021, quando foi de 4,41%.

— Tem uma trajetória de desaceleração na inflação de serviços como um todo já consolidada ao longo do ano passado e que permanece em 2024 — diz Almeida, do IBGE.

 

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