História e tradição do queijo artesanal
Liderando o crescimento do turismo brasileiro em 2023, ao receber mais de 31 milhões de visitantes no ano, o Governo de Estado de Minas Gerais, lançou sua campanha Inverno em Minas, promovendo diversos percursos turísticos, repletos da culinária típica e cultura mineira. A convite da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, o M&E esteve presente na tradicional rota da Serra da Canastra, berço do famoso queijo artesanal da Canastra.
O roteiro incluiu paradas em São Roque de Minas, Vargem Bonita e São João Batista do Glória, passando por restaurantes locais, queijarias e apiários, onde além de maravilhosa comida mineira, ofereceu a oportunidade de aprender a história da região e de seu mais premiado produto, que alcança os entusiastas do queijo do mundo todo, participando e ganhando medalhas em concursos na Europa.
Roteiro gastronômico
Durante o roteiro em São João Batista do Glória, o grupo visitou o restaurante Cantinho de Minas, onde foram servidos torresmo de barriga de porco, feijão tropeiro e a carne de lata do Barão, apelido por qual é conhecido Luiz Fabiano, dono do restaurante e produtor da famosa carne.
Estado reconhece requeijão moreno como queijo artesanal de Minas Gerais – eDairyNews-BR
No decorrer dos dias o itinerário visitou ainda cinco queijarias: Tradição Vilela, Quintal do Glória, Queijo K-nastra, Queijaria do Reinaldo e Roça da Cidade, cujo dono João Carlos Leite, ex-presidente da APROCAN (Associação dos Produtores de Queijo Canastra), compartilhou informações sobre todo o processo de produção e a complexa e política história do produto, que já passou por regulamentações rígidas, o tornando praticamente ilegal durante mais de 50 anos, mas que vem sendo flexibilizada em tempos recentes.
Apiários, fazendas de lúpulo, mais restaurantes e estradas de terra vermelha compuseram uma viagem única e uma experiência essencial para quem busca uma verdadeira imersão mineira, além de ótimas pousadas que oferecem o tom intimista e caseiro que um Inverno em Minas pode oferecer aos turistas.
Regulação de 1950 até sua flexibilização
A primeira legislação que regulamentou a produção de queijos no Brasil foi sancionada em 1950 pelo presidente Eurico Gaspar Dutra e regulamentada em 1952, já sob o governo de Getúlio Vargas. De acordo com a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), a Lei 1.283 autorizava a produção e comercialização do queijo minas artesanal, desde que fosse maturado por no mínimo 60 dias e recebesse o Selo de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura.
Na prática, o que houve foi quase uma proibição da comercialização, já que o processo de obtenção do selo era quase impossível para os pequenos produtores locais. Já a grande indústria do queijo de leite pasteurizado, como muçarela e outros que são facilmente encontrados em mercados, foi muito beneficiada.
Com a ajuda de representantes da produção de queijos da França, que já haviam sido conquistados pelo produto mineiro, em 2002 foi aprovada na Assembleia Legislativa a Lei 14.185, primeira lei estadual que autoriza a produção do queijo de leite cru no estado de Minas Gerais.
“Por que podemos importar queijos de leite cru da Europa e vender no Brasil e nós não podemos produzir na nossa terra e vender aqui?” – João Carlos Leite, dono da queijaria Roça da Cidade e ex-presidente da APROCAN.
Já em 2018, o presidente Michel Temer sancionou uma lei que modifica a Lei nº 1.283, de 1950, para regulamentar a fiscalização de produtos alimentícios artesanais de origem animal. A nova legislação, chamada de selo ARTE, permite a comercialização interestadual desses produtos, desde que sigam boas práticas agropecuárias e de fabricação, e sejam fiscalizados por órgãos de saúde pública.
Graças a essa flexibilização, cada vez mais produtores da região da Serra da Canastra estão conseguindo suas certificações em níveis municipais, estaduais e federais, podendo assim comercializar seus queijos, já com maior qualidade e segurança para seus clientes.