O consumo per capita de queijo nos EUA mais que dobrou desde que o governo local começou a monitorar o setor, em 1975, segundo reportagem publicada pela Bloomberg Businessweek.
Atualmente, cada norte-americano é responsável, em média, pelo consumo de 42 libras (quase 20 quilos) de queijo por ano — mais do que toda a demanda individual de manteiga, sorvete e iogurte juntos.
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As instalações locais para produzir queijos respondem hoje por mais da metade dos US$ 8 bilhões em projetos de laticínios dos EUA programados para entrar em operação entre 2023 a 2026, de acordo com dados da International Dairy Foods Association.
O texto da Bloomberg relata que a Great Lakes Cheese Co. está gastando mais de US$ 700 milhões em uma fábrica em Nova York para dobrar a produção de leite da empresa.
Enquanto isso, a Lactalis USA está fazendo um “grande investimento” para iniciar a produção de queijo feta (de origem de grega) em sua unidade na Califórnia, de olho no crescimento da demanda por este tipo de produto.
Por sua vez, a Sargento Foods Inc. acaba de formar uma parceria com a Mondelēz International Inc. para embalar queijo do tamanho de um biscoito. “Seria difícil andar por qualquer uma de nossas instalações e não tropeçar em uma placa de ‘Em construção’”, disse à Bloomberg o chefe de inovação da Sargento Foods, Rod Hogan.
Na era das dietas de baixa gordura que explodiram no início dos anos 1990, houve uma “guerra nutricional contra as gorduras saturadas”, recordou Corey Geiger, economista-chefe de laticínios do CoBank.
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Muitos norte-americanos optaram por produtos como leite desnatado e iogurte light, até que a crescente popularidade de dietas de baixo carboidrato, como Atkins e South Beach, deu um impulso ao queijo na virada do milênio. Nos anos seguintes, a demanda crescente por alimentos ricos em proteínas colocou o queijo novamente no menu, diz a reportagem.
Além disso, a pandemia (da Covid-19) acelerou a ascensão do queijo. Quando os restaurantes fecharam, recorda o texto da Bloomberg, os próprios norte-americanos tentaram recriar seus pratos favoritos, completos com pilhas de queijo.
Os queijos mais tradicionais têm apenas quatro ingredientes — leite, sal, culturas e uma enzima — uma simplicidade que aumenta seu apelo. “‘Gordura’ não é uma palavra tão ruim quanto antes, mas ‘ultraprocessado’ é”, comparou Michael Burdeny, presidente da Challenge Dairy Products Inc., uma produtora de manteiga da Califórnia.
A Agri-Mark Inc., proprietária da Cabot Creamery Cooperative, faz quadrados de queijo projetados como biscoitos, degustados sem necessidade de faca. A linha de cortes da empresa, que começou em 2017 com seis variedades, agora tem uma dúzia.
A Cabot produz mais de 140 produtos de queijo, com novos lançamentos superando as outras categorias de laticínios da empresa, de acordo com Sarah Healy, vice-presidente sênior de marketing da companhia. “O queijo deixou de ser um lanche pelo qual os consumidores se sentiam um pouco culpados”, disse Sarah, à Bloomberg.
Alívio ao setor de lácteos
Os investimentos em queijo serão um alívio bem-vindo para uma indústria norte-americana de laticínios, há décadas prejudicada pela queda na demanda por um copo alto de leite frio, relembrou a reportagem.
Parte deste declínio pode ser atribuída ao consumo de produtos vegetais alternativos, como leite de amêndoa e aveia — uma preocupação que não afeta diretamente o queijo. “Queijos vegetais existem, mas não decolaram muito porque não conseguem igualar a textura, consistência e derretimento do produto real”, observou o texto.
No entanto, alertou a reportagem, especialistas do setor nos EUA alertam sobre potencial excesso de oferta de queijos no país, já que as dietas tendem a mudar.
“Suspeitamos que essa onda de investimento, particularmente em queijo, levará a uma situação de excesso de oferta, pelo menos no curto prazo”, disse Erica Maedke, vice-presidente da pesquisadora Ever.Ag Insights.
Um potencial excesso de queijo pode significar boas notícias para os consumidores dos EUA, que viram os preços do produto atingirem níveis recordes há dois anos, embora tenham caído um pouco desde então.
Preços mais baixos também ajudariam os exportadores norte-americanos a conquistar uma fatia maior dos mercados internacionais, seguriu a reportagem, acrescentando: “Embora os EUA tenham importado um recorde de US$ 1,8 bilhão em queijo no ano passado, o país é um exportador líquido deste alimento”.
Segundo a analista Cara Murphy, da HighGround Dairy, se a demanda por queijo não se mantiver ao longo dos próximos anos, outros produtos lácteos — iogurte, creme ou proteína de soro de leite em pó — podem ajudar a amortecer a indústria, embora o leite comum não seja mais o motor de crescimento que já foi.
“Queijo e manteiga são o ‘pão com manteiga’ dos laticínios americanos”, disse a analista, que completou: “A beleza desta indústria é que os laticínios são muito adaptáveis.”