O cenário brasileiro para o mercado de leite e derivados registrou uma ligeira piora ao longo de abril e maio de 2025, refletindo a desaceleração da demanda interna.
A inflação mais elevada e ligeira piora nos indicadores do mercado de trabalho, somado ao maior endividamento das famílias, têm freado o consumo. Após três anos consecutivos de crescimento do PIB acima de 3% ao ano, as projeções para 2025 indicam algo próximo de 2%. Portanto, o ambiente macroeconômico está um pouco pior.
Esse movimento tem levado a uma queda nos preços dos derivados lácteos no atacado e, consequentemente, recuo nos preços pagos aos produtores, mesmo em plena entressafra. A situação é agravada por margens reduzidas para a indústria de laticínios nos principais derivados lácteos: leite UHT, leite em pó e queijo muçarela.
Se pelo lado da demanda houve ligeira desaceleração, pelo lado da oferta o crescimento tem sido robusto. A produção de leite inspecionado no Brasil apresentou aumento de 3,1% no primeiro trimestre, fechando com nove trimestres seguidos de alta.
Se ajustado pelo número de dias, considerando que o ano passado foi bissexto, o crescimento da produção diária no primeiro trimestre de 2025 atingiu 4,25%, em relação ao mesmo período do ano passado.
Neste contexto de oferta crescendo e demanda mais fraca, o cenário de preços ao produtor teve ligeira piora, mas ainda em um patamar que permite uma boa remuneração para fazendas eficientes e bem gerenciadas. Para os próximos meses, é importante acompanhar três indicadores que irão ajudar a monitorar este mercado.
Preços internacionais: O mercado internacional está com preços mais firmes, com baixo crescimento da produção mundial. A União Europeia, por exemplo, está com produção recuando neste início de 2025. Da mesma forma, a China também tem apresentado produção mais fraca, com importações subindo novamente.
Os preços de leite em pó integral, no último leilão GDT, atingiram US$ 4.300 por tonelada. Caso estes preços se mantenham mais altos, espera-se uma maior sustentação nos preços também no mercado brasileiro, já que reduz a competitividade das importações.
Importações: Nos últimos anos, as importações passaram a representar uma parcela significativa da oferta doméstica, chegando a 9% do leite inspecionado. O volume importado de leite equivalente nos meses de março, abril e início de maio, indica um pequeno recuo.
O cenário não é de queda acentuada, mas alguma desaceleração poderá ocorrer, sustentada por um relativo encarecimento dos custos e melhoria da demanda na Argentina e recuo nos preços no mercado brasileiro.
Demanda interna: Este é o principal driver para os preços no mercado de leite brasileiro, já que não somos exportadores.
Ainda que o cenário de consumo das famílias seja pior em 2025, algumas medidas fiscais de expansão de gastos do governo e de créditos, a exemplo do crédito consignado para trabalhadores CLT do setor privado, podem ajudar na demanda.
Portanto, estes três indicadores serão relevantes no monitoramento do cenário de preços para os próximos meses, colocando as cotações para o segundo semestre de 2025 mais próximas de 2023 ou de 2024 (Figura 1).
Para os produtores de leite, no entanto, é importante uma atenção especial aos seus custos e à gestão da propriedade.
Afinal, trata-se de variáveis sob controle direto do produtor e observa-se que fazendas bem gerenciadas têm apresentado uma boa competitividade, mesmo em comparações internacionais.
