A Alvoar, uma das maiores indústrias de lácteos do Brasil e dona de marcas Betânia, Embaré e Camponesa, anunciou que deve dar remuneração extra para os produtores cearenses que fornecem leite com maior percentual proteico.
A medida deve movimentar cerca de R$ 3 milhões por mês. A iniciativa vai começar pelo Ceará e deve ser expandida para os outros estados onde a empresa está presente posteriormente.
Armindo Neto, diretor-executivo de captação da Alvoar Lácteos, falou sobre a medida em entrevista ao Diário do Nordeste durante a PEC Nordeste 2025.
Os produtores cearenses devem receber até R$ 0,20 a mais por litro de leite que consiga atingir determinados índices de proteína. A análise deve ser realizada em laboratório.
Mais detalhes, como os parâmetros a serem atingidos, devem ser informados aos cerca de 1.500 fornecedores cearenses no mês de julho. O pagamento da remuneração extra pela Alvoar deve iniciar entre agosto e setembro.
“Deve ser uma média de R$ 0,10 a mais. Para um produtor que produz milhares de litros por dia, no fim do mês é uma quantidade de dinheiro bastante significativa. É uma média de R$ 3 milhões por mês no Ceará, obviamente dependendo do quanto os produtores vão responder”, aponta.
O objetivo da Arvoar é ofertar leite e seus derivados com um teor maior de proteína – macronutriente que está sendo cada vez mais valorizado pelos brasileiros.
MAIOR QUALIDADE É EXIGÊNCIA DO CONSUMIDOR
Bruno Girão, CEO da Alvoar, destaca que a empresa tem buscado receber leites de cada vez mais qualidade. A ‘premiação’ pelo produto mais proteico surge como forma de incentivar a bacia leiteira.
“Não é só a quantidade, a qualidade também é muito importante. Isso é mais exigido pelo consumidor e dá mais rendimento industrial”, defende.
Uma prática semelhante já era realizada em Minas Gerais, mas havia dificuldade de aplicar no Ceará por ser uma produção mais distribuída.
A base leiteira cearense tem mais produtores com um volume de fabricação menor, geralmente com tanques de leite compartilhados.
Bruno Girão ressalta a necessidade de tratar melhor aqueles produtores que investem em um leite de qualidade superior.
“A Alvoar tem um compromisso muito grande para que nossa cadeia seja próspera. É um valor muito inegociável. Só é um bom negócio se for um bom negócio para todo mundo”, afirma.
MELHORAMENTO GENÉTICO E ALIMENTAÇÃO DO GADO LEITEIRO
Para fornecer um leite com mais proteína, os produtores precisam refinar a alimentação do gado leiteiro. Há também técnica de melhoramento genético, a partir seleção e reprodução de animais com características desejadas.
Armindo Neto reconhece que os criadores precisam de incentivo para conseguirem aprimorar seus sistemas de criação. O diretor avalia que o melhoramento da bacia leiteira cearense, concentrada no Sertão Central, Vale do Jaguaribe e Cariri, é importante para a economia das regiões.

“São regiões onde o produtor muitas vezes tem dificuldade de ter outras atividades agropecuárias. O leite é a principal atividade e tem um impacto muito importante para essas regiões. Eles têm que ser bem remunerados para conseguir reinvestir e ter condições melhores, inclusive para passar isso para os filhos”, afirma.
O apoio é fundamental sobretudo para os produtores de menor porte, que ainda não chegaram a escala de produção necessária para tornar o negócio rentável, acrescenta Bruno Girão.
“O produtor precisa passar muito rápido de pequeno para médio. A gente entende que a partir de 300 litros por fazenda já é médio, já é o suficiente para uma renda de R$ 5 mil e viver da atividade com dignidade. O que precisa é incentivo para os pequenos prosperarem, e nesse meio do caminho muito mão conseguem”, comenta.
O CEO da Alvoar projeta que o Ceará deve acompanhar o cenário mundial de diminuição do número de produtores. Há uma tendência de que alguns produtores deixem a atividade, ao mesmo tempo que os que fiquem aumentem sua produção.
ALVOAR INVESTE EM APRIMORAR PARQUE DE PRODUÇÃO CEARENSE
A Alvoar deve investir R$ 15 milhões em sua operação no Ceará nos próximos doze meses. Uma das áreas a ser aprimorada é a de tanques de refrigeração, para diminuir o intervalo entre a ordenha do leite e o resfriamento.
A fábrica de iogurtes de Morada Nova foi ampliada e modernizada recentemente. A empresa láctea também avalia novos empreendimentos em regiões que se tornarão estratégicas com a Transnordestina.
Segundo Bruno Girão, a empresa foi procurada pelos municípios de Iguatu e Quixeramobim para a construção de uma fábrica de rações. As cidades devem ter portos secos – pontos logísticos conectados com a ferrovia.
“A ração representa cerca de 20% do custo de produção. Então, se você tem ração mais em conta, trazendo ela de trem em um volume maior, você torna a produção de leite muito mais competitiva”, explica.
O executivo ressalta que a empresa tem demanda suficiente para receber um possível crescimento da bacia leiteira cearense. No Nordeste, a produção precisa crescer para que os estados se tornem autossuficiente.
“Não interessa a quantidade de leite que o produtor venha a produzir, a gente tem capacidade de comprar o leite que ele produz. Já foi um gargalo a falta de indústrias capazes de suprir esse crescimento. Nos últimos cinco anos a gente faz plantas de leite em pó, leite condensado, estamos ampliando a de iogurte. Nos preparamos para que venha mais leite”, afirmou.