Exportações de leite em pó crescem 927% e setor lácteo brasileiro mostra sinais de recuperação em plena entressafra.
As exportações brasileiras de lácteos voltaram a ganhar fôlego em maio de 2025, surpreendendo o mercado com uma alta de 63,12% no volume total embarcado em equivalente leite, que alcançou 6,55 milhões de litros.
Ainda que não tenha sido o maior volume do ano, o mês foi responsável pela maior receita até agora: US$ 7,81 milhões, segundo análise divulgada pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
O dado que mais chama atenção é o salto impressionante das exportações de leite em pó, que cresceram 927,45% em relação a abril. O produto respondeu sozinho por 23,27% do total exportado no mês e consolida-se como uma das principais apostas do Brasil para ampliar sua presença no comércio global de lácteos.
Queijos, iogurtes e manteiga também impulsionam os embarques
Além do leite em pó, queijos (+30,28%) e a categoria que inclui iogurtes, cremes e manteiga (+27,11%) também contribuíram significativamente para o desempenho do setor. Juntas, essas categorias representaram mais de 93% de tudo o que o Brasil exportou em lácteos no mês de maio.
Esse avanço ocorre em um período tipicamente desfavorável, a chamada entressafra, quando a produção de leite tende a cair na maior parte dos estados.
No entanto, a melhora nas condições climáticas, aliada a uma oferta interna mais estável, parece ter permitido não apenas o abastecimento do mercado doméstico, mas também a abertura de espaço para exportações mais robustas.
Importações crescem, mas seguem em ritmo moderado
Por outro lado, as importações brasileiras de lácteos também registraram alta, ainda que mais modesta: +8,39% em relação a abril, atingindo 171,77 milhões de litros em equivalente leite e um valor total de US$ 85,11 milhões. A alta interrompe uma sequência de dois meses de retração, mas ainda não recupera os volumes observados no primeiro trimestre do ano.
A balança comercial de lácteos brasileira, portanto, segue deficitária, mas com um sinal de alerta: se o ritmo das exportações continuar a subir — especialmente com foco em produtos de maior valor agregado, como queijos e leite em pó —, é possível enxergar uma leve reversão na tendência.
Para onde vai o leite brasileiro?
Os principais destinos dos lácteos brasileiros em 2025 têm incluído Argélia, Emirados Árabes Unidos, Venezuela e Rússia, mercados onde o Brasil vem consolidando acordos sanitários e estratégias de penetração comercial.
O crescimento do leite em pó, por exemplo, está diretamente ligado à demanda crescente de países que enfrentam dificuldades de produção interna ou querem diversificar fornecedores frente às instabilidades geopolíticas.
Segundo dados da Secex e da Embrapa Gado de Leite, o Brasil ainda exporta menos de 2% de sua produção de leite, mas a capacidade de crescimento é real — e está diretamente ligada à competitividade da indústria, ao câmbio favorável e à construção de marcas confiáveis no exterior.
O que isso significa para o setor?
Para o produtor brasileiro, a notícia pode ser vista com otimismo cauteloso. O aumento das exportações, principalmente em um cenário de alta dos custos de produção, pode ajudar a aliviar os estoques da indústria e melhorar a remuneração ao produtor em médio prazo.
Porém, isso só se sustentará se houver previsibilidade regulatória, estabilidade no fornecimento e apoio à inovação tecnológica.
No cenário atual, o Brasil começa a entender que não basta produzir leite — é preciso saber colocá-lo no mundo com valor, qualidade e estratégia.