O Selo Cepea nasce como um novo marco de transparência e corresponsabilidade no setor lácteo brasileiro.
Criado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP), o selo busca reconhecer publicamente as empresas que colaboram com qualidade, frequência e rastreabilidade na coleta de dados usados para o cálculo do Indicador do preço do leite ao produtor — uma das principais referências do mercado.
Nas últimas duas décadas, o sistema agroindustrial do leite no Brasil passou por transformações profundas. A modernização das instruções normativas, o aumento da produtividade e da escala, além da concentração de mercado, alteraram a forma como cooperativas, laticínios e produtores negociam o leite cru.
Esses movimentos mudaram as estruturas de governança e a coordenação entre os agentes da cadeia — um fator essencial para a competitividade do setor.
No contexto da cadeia produtiva, coordenação significa a forma como as informações e estímulos circulam entre produtores, cooperativas e indústrias. Quanto mais eficiente for essa circulação, mais alinhadas estarão as decisões. Quando há falhas nesse fluxo, aumentam os riscos de descompasso e perda de eficiência.
Por isso, a informação de preço é muito mais do que um número: é uma infraestrutura de coordenação, que permite avaliar desempenho, oferta, demanda e estratégias de negócio.
Há quase quatro décadas, o Cepea realiza um trabalho sistemático de coleta e validação de dados sobre o preço do leite pago ao produtor.
O Indicador Cepea de leite busca refletir o valor médio efetivamente negociado entre produtores e indústrias, captando o ambiente competitivo real, independentemente da forma de contrato. Essa informação ajuda a reduzir assimetrias e fortalecer a coordenação dentro da cadeia — um passo fundamental para aumentar a eficiência e a competitividade do setor.
A pesquisa de preços do Cepea existe desde 1986. Durante 32 anos, o trabalho foi conduzido sem apoio direto do setor. Mas, desde 2018, o projeto passou a contar com parceria institucional e financeira da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) e da Viva Lácteos – Associação Brasileira de Laticínios.
Entre 2018 e 2024, o foco esteve em três frentes principais: evolução metodológica, ampliação da amostra e aprimoramento da divulgação dos dados.
Para 2025, o Cepea tem metas ambiciosas. A principal é a automação da coleta de dados via API, garantindo rastreabilidade, padronização e periodicidade das informações. Isso permitirá maior velocidade, qualidade e governança sem abrir mão da confidencialidade dos dados — um requisito essencial para manter a credibilidade do Indicador.
É nesse cenário que surge o Selo de Colaboração Transparente Cepea, um mecanismo de incentivo positivo que valoriza comportamentos éticos e comprometidos com a qualidade da informação.
O selo tem o objetivo de reconhecer publicamente as empresas que participam com regularidade, respeitam prazos, aderem à automação da coleta e asseguram a rastreabilidade e a integridade dos dados enviados.
A primeira concessão do selo está prevista para dezembro de 2025, após a avaliação de desempenho dos participantes ao longo do ano. O reconhecimento será dividido em três níveis — ouro, prata e bronze — conforme o grau de comprometimento de cada agente com o processo.
Os benefícios são amplos. Para o próprio Indicador, o selo garante rastreabilidade e fluxo contínuo de informações auditáveis. Para as empresas, representa visibilidade, reputação e reconhecimento público do compromisso com a transparência.
E para o setor como um todo, reforça a coordenação e a confiança mútua — pilares indispensáveis para a competitividade da cadeia láctea.
“Um Indicador de preços é uma construção social, um ativo coletivo do setor”, destaca o Cepea. Isso significa que a responsabilidade é compartilhada: cabe ao Cepea projetar metodologias e validar dados; aos laticínios e cooperativas, enviar informações corretas e rastreáveis; e aos parceiros financiadores, sustentar financeiramente a execução e a inovação.
Quando essa corresponsabilidade se consolida, o Indicador cumpre seu papel: refletir o preço médio efetivamente praticado no mercado, captando com fidelidade o ambiente competitivo.
O Selo Cepea nasce exatamente para organizar incentivos, reconhecer boas práticas e garantir a qualidade informacional de um ativo que pertence, em última instância, a todo o setor lácteo brasileiro.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de CEPEA-Esalq/USP
