O soro de leite vem ganhando cada vez mais espaço no setor lácteo norte-americano e já representa uma parcela importante da renda das indústrias.
Em Wisconsin, o estado com maior produção de queijo dos Estados Unidos, a transformação desse subproduto em fonte de lucro vem mudando o equilíbrio econômico das queijarias familiares.
De acordo com a Wisconsin Public Radio (WPR), o caso da Nasonville Dairy, localizada em Marshfield, é um exemplo emblemático dessa virada.
A planta processa diariamente cerca de 185 mil libras de queijo e, surpreendentemente, 23% da receita da empresa hoje vem do soro de leite — um subproduto que, há algumas décadas, era considerado apenas um resíduo sem valor comercial.
De desperdício a oportunidade bilionária
Durante boa parte do século XX, o soro era tratado como um problema ambiental. Muitos produtores o espalhavam nas plantações ou usavam como ração para suínos. “Quando compramos a planta, o soro não tinha valor algum.
Era um subproduto que precisávamos descartar”, recorda Ken Heiman, atual mestre queijeiro e coproprietário da Nasonville Dairy, em entrevista à WPR.
O cenário começou a mudar com o crescimento global da demanda por proteínas de alto valor biológico. Hoje, o soro está presente em suplementos esportivos, bebidas funcionais e até em tratamentos médicos voltados à obesidade e à perda de massa muscular.
Segundo uma análise publicada pelo The New York Times, baseada em dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção de soro de leite em pó de alta proteína saltou de 8 milhões de libras em janeiro de 2003 para 48 milhões de libras em maio deste ano — um aumento de 500% em pouco mais de duas décadas.
Um negócio de até US$ 10 bilhões anuais
De acordo com o jornalista Kevin Draper, correspondente do The New York Times especializado em agronegócio, o mercado do soro movimenta atualmente entre US$ 5 e US$ 10 bilhões por ano e deve duplicar nos próximos dez anos.
“O setor cresce a uma taxa de 10% ao ano e não há sinais de desaceleração”, afirmou Draper ao programa “Wisconsin Today”, da WPR.
Entre os fatores que impulsionam esse crescimento estão o avanço tecnológico na concentração de proteínas e a popularização de dietas com alto teor proteico.
Além disso, o uso de medicamentos para emagrecimento, como o Ozempic, também tem influenciado a demanda. Segundo Draper, pacientes em tratamento com esses fármacos tendem a perder massa muscular, o que leva médicos a recomendar maior ingestão de proteínas — e o soro se tornou uma das principais fontes.
Efeito direto na renda dos produtores de leite
Embora o lucro principal ainda venha do queijo, o soro já é responsável por uma fatia crescente do pagamento do leite aos produtores.
“Há alguns anos, representava 5% ou 6% do cheque do leite. Agora, chega a 10%, 11% ou até 12% em alguns meses”, explicou Draper. “Não é que os produtores estejam enriquecendo, mas o soro tem sido o que mantém muitos deles em operação.”
O sistema de precificação do leite nos EUA é complexo e depende de fatores como teor de gordura, proteína e demanda industrial. Assim, o crescimento do mercado de soro melhora as margens da cadeia produtiva e garante uma fonte adicional de estabilidade econômica para o setor.
Conexões globais e o futuro da indústria
Mesmo com oscilações no mercado internacional, especialmente no comércio com a China, o soro de leite continua sendo um produto de alto valor. “Os compradores chineses reduziram a compra de queijo, mas seguem adquirindo soro de leite porque ainda é rentável para eles”, disse Heiman.
Para ele, o futuro da empresa familiar — e possivelmente de toda a indústria láctea — passa por esse produto. “Não há dúvida de que o soro será a base da transição para a próxima geração. Ele representa uma parte cada vez maior do nosso negócio e é onde está o futuro”, afirmou.
A Nasonville Dairy, administrada pela família Heiman há mais de 60 anos, tornou-se exemplo de como a inovação e a diversificação podem transformar a economia rural de regiões tradicionais. O soro de leite, antes descartado, hoje é o “ouro líquido” que ajuda a sustentar o setor lácteo norte-americano.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Wisconsin State Farmers