Em tempos em que o mundo voltou os olhos para o sistema imunológico, uma proteína do leite bovino voltou a ganhar destaque na comunidade científica: a lactoferrina.
Presente naturalmente no leite de vaca e em outros mamíferos, essa glicoproteína tem despertado o interesse de pesquisadores por sua capacidade de reforçar as defesas do corpo e atuar contra infecções respiratórias — incluindo o SARS-CoV-2, vírus causador da COVID-19.
O estudo, publicado no Journal of Dairy Science e divulgado no Brasil pela equipe da Redação Nutritotal, avaliou o comportamento de diferentes produtos lácteos e compostos ricos em lactoferrina frente a várias cepas do SARS-CoV-2, como as variantes WA1 (tipo selvagem), B.1.1.7 (Reino Unido), B.1.351 (África do Sul), P.1 (Brasil) e Delta (Índia).
🧫 O poder do leite em laboratório
A pesquisa utilizou nove tipos de produtos lácteos e amostras purificadas de lactoferrina, entre eles isolados e concentrados de proteína do soro do leite (whey protein) e versões comerciais de alta pureza, como a Bioferrina 2000. Em laboratório, essas amostras foram testadas em células pulmonares humanas (H1437) previamente infectadas com as cepas do coronavírus.
Os resultados mostraram uma diferença importante: nem todo produto lácteo apresentou efeito antiviral, mas a eficácia estava diretamente associada à concentração de lactoferrina. Ou seja, quanto maior o teor dessa proteína, mais relevante foi a resposta imunológica observada.
💡 Lactoferrina: o ingrediente-chave
Nos produtos analisados, a lactoferrina continha entre 15 e 18 mg de ferro por 100 g de pó, um fator que contribui para sua ação biológica, já que a proteína atua sequestrando ferro e impedindo o crescimento de bactérias e vírus. Segundo os pesquisadores, a amostra Bioferrina 2000, com mais de 90% de pureza, apresentou os melhores resultados, inibindo a replicação viral de todas as variantes testadas.
Além disso, o grupo de pesquisa desenvolveu um comprimido mastigável experimental composto por 25% de lactoferrina, combinado com dextrose e sorbitol. Essa formulação apresentou resultados clínicos promissores no combate e na prevenção das infecções por SARS-CoV-2.
🦠 Ciência, leite e prevenção
A lactoferrina é conhecida por seu papel no sistema imunológico inato, a primeira barreira de defesa do organismo. Ela age ligando-se ao ferro e dificultando o acesso do mineral por microrganismos patogênicos, além de apresentar propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. Essas características explicam seu uso crescente em suplementos nutricionais e produtos funcionais voltados para a saúde intestinal e respiratória.
Nos ensaios conduzidos, os isolados de whey protein e outros derivados do leite não mostraram eficácia antiviral significativa por si só. No entanto, quando enriquecidos com lactoferrina, passaram a apresentar resultados positivos. Essa observação reforça que a atividade antiviral está concentrada na glicoproteína e não nos demais componentes proteicos do leite.
🌍 Do campo à farmacologia
Ainda que o estudo tenha sido realizado em ambiente laboratorial, os resultados abrem caminho para novas aplicações terapêuticas dos derivados lácteos. Pesquisadores apontam que, além do potencial contra o coronavírus, a lactoferrina também demonstrou eficácia contra vírus da influenza e da gripe aviária A, ampliando seu espectro de ação imunológica.
Para o setor lácteo, esse tipo de descoberta reforça a imagem do leite como alimento funcional e estratégico — não apenas como fonte de proteína, mas como matéria-prima de compostos bioativos com alto valor agregado. A convergência entre ciência, nutrição e indústria pode gerar novas oportunidades em mercados voltados à saúde e bem-estar, segmentos que crescem a dois dígitos no Brasil e no mundo.
🔍 Conclusão
O estudo concluiu que a lactoferrina bovina isolada é eficaz contra todas as cepas testadas do SARS-CoV-2, e que o comprimido formulado com ela apresentou significância clínica. Embora mais pesquisas sejam necessárias para confirmar os efeitos em humanos, os resultados reforçam o potencial da proteína como aliada natural do sistema imunológico.
Entre vacas, vírus e ciência, a mensagem é clara: o leite continua surpreendendo — agora, não apenas por nutrir, mas também por proteger.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Ciência do Leite






