Incentivo ao leite é o eixo central do projeto de lei que o prefeito de Deodápolis, Jean Gomes, enviará nesta segunda-feira à Câmara Municipal.
A proposta consolida uma política pública que não apenas cria demanda estável para os produtores locais, como também posiciona o município como referência potencial para outras regiões leiteiras do país.
A iniciativa combina compras públicas estratégicas, segurança alimentar, estímulo produtivo e uma visão de longo prazo que, segundo lideranças do setor, é incomum no cenário brasileiro.
A medida foi desenhada em meio ao período mais desafiador dos últimos anos para os produtores de leite de Mato Grosso do Sul.
Pressionados por custos elevados, margens comprimidas e o receio constante de retração na demanda industrial, os produtores de Deodápolis vinham insistindo na necessidade de políticas que assegurassem previsibilidade. Segundo dados citados pelo prefeito, os produtores do município entregam cerca de 71 mil litros mensais ao laticínio instalado na cidade.
Ao garantir a absorção inicial de 4 mil litros mensais diretamente pelo poder público, a gestão cria um colchão mínimo de estabilidade que não existia até então.
O texto do projeto estabelece que esse volume será destinado ao Programa Mais Proteína, além da aquisição regular de mussarela produzida no próprio município. Os produtos abastecerão a rede pública de ensino e programas sociais, articulando política agrícola e segurança alimentar.
Assessores da prefeitura explicaram que a prioridade do Executivo é transformar o leite local em instrumento social, nutricional e econômico, ampliando seu papel nos equipamentos públicos e valorizando a cadeia produtiva como ativo estratégico.
Para representantes do setor ouvidos pela reportagem, a iniciativa tem potencial de se tornar modelo replicável em municípios de pequeno e médio porte. Isso porque as compras públicas — quando estruturadas com metas claras, critérios transparentes e compromisso de longo prazo — funcionam como um mecanismo eficiente de estímulo produtivo.
Em muitas regiões leiteiras do país, a dependência quase total das indústrias e cooperativas cria vulnerabilidades que se intensificam em períodos de crise. A política proposta por Deodápolis não substitui a indústria, mas cria uma camada adicional de estabilidade.
A atenção nacional que o projeto recebeu nas últimas semanas reforça esse caráter inovador. Em um áudio enviado ao prefeito, o presidente de um sindicato ligado ao setor industrial afirmou não conhecer medida semelhante adotada por outro município ou estado brasileiro.
Ele destacou que, em grupos de discussão que reúnem líderes sindicais de todas as unidades da federação, nunca apareceu um projeto com esse desenho.
“Na realidade, o primeiro prefeito está fazendo um trabalho desse voltado para o leite. Até agora, em Mato Grosso do Sul, eu não conheço nenhum. Aliás, nem fora. Eu faço parte de um grupo dos presidentes de sindicatos de cada estado do país, está todo mundo lá.
E a gente tem conversado bastante. Até agora eu não vi nenhum projeto como este, não”, declarou o dirigente, classificando a proposta como “totalmente fora da curva”.
O Executivo municipal explica que o envio do texto ao Legislativo tem como objetivo formalizar as ações que já haviam sido anunciadas e criar um marco legal permanente para a política de incentivo. A prefeitura também mantém diálogo com o Governo do Estado, que avalia formas complementares de apoio à cadeia produtiva em Mato Grosso do Sul.
Integrantes da equipe estadual afirmam que iniciativas municipais como a de Deodápolis contribuem para fortalecer argumentos internos sobre a necessidade de políticas diferenciadas para o leite.
A gestão de Jean Gomes reconhece que o volume inicial — 4 mil litros mensais — não resolve todos os desafios enfrentados pelos produtores, mas ressalta que o programa tem espaço para expansão conforme a capacidade orçamentária do município.
A projeção é que, ao consolidar a política como instrumento permanente, o município ganhe margem para aumentar as compras de acordo com a resposta da cadeia produtiva e a demanda dos programas sociais.
O projeto também reforça a estratégia do município de ampliar a presença do leite local na merenda escolar, considerando que o consumo regular de lácteos melhora indicadores nutricionais e cria vínculos entre produção rural e políticas públicas.
Para técnicos da prefeitura, esse tipo de integração é essencial para que os pequenos e médios produtores se mantenham competitivos e encontrem novas oportunidades de renda.
Com o movimento de formalizar o incentivo ao leite e usar as compras públicas como indutor de desenvolvimento, Deodápolis tenta demonstrar que municípios com orçamento limitado também podem construir soluções estruturantes para suas cadeias produtivas.
A experiência, se bem-sucedida, pode ganhar espaço em debates regionais e inspirar gestores de outras localidades.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Impacto News






