ESPMEXENGBRAIND
2 dez 2025
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📉 Crescimento populacional e baixa produtividade colocam em xeque o modelo que manteve o mercado de lácteos da Índia isolado por 20 anos.
🌍 A disputa comercial com os EUA e limites produtivos reacendem o debate sobre a abertura do mercado de lácteos da Índia.
🌍 A disputa comercial com os EUA e limites produtivos reacendem o debate sobre a abertura do mercado de lácteos da Índia.

O mercado de lácteos da Índia volta ao centro do debate global após duas décadas de isolamento quase absoluto.

Fontes do setor e analistas internacionais ressaltam que o país asiático, hoje o maior produtor de leite do mundo, enfrenta crescentes pressões externas e internas para revisar a política que mantém fechadas suas importações de lácteos desde o início dos anos 2000.

Esse bloqueio foi sustentado por um conjunto de condições estruturais. Em 2019, a Índia contava com 192,5 milhões de cabeças de gado bovino, além de 148,9 milhões de cabras, 109,9 milhões de búfalos, 74,3 milhões de ovelhas e 9,1 milhões de suínos. Essa base pecuária expressiva permitiu ao país produzir 230,58 milhões de toneladas de leite, garantindo um consumo diário per capita estimado em 459 gramas. Paralelamente, a produção anual ultrapassou 138 bilhões de ovos, compondo um sistema agroalimentar diverso e massivo.

Dois fatores estruturais definem o momento indiano. O primeiro é demográfico: a Índia é o país mais populoso do planeta, com mais de 1,5 bilhão de habitantes. O segundo é produtivo: metade dessa população — cerca de 700 milhões de pessoas — integra a força de trabalho rural. Especialistas ouvidos por analistas internacionais afirmam que a produtividade desse contingente é, em muitos casos, estagnada ou negativa, evidenciando a dificuldade do país em competir nos mercados globais.

O setor lácteo indiano cumpre um papel central nesse cenário. Para milhões de pequenos produtores, a atividade representa renda complementar e um importante amortecedor econômico. Foi nesse contexto que, em 1965, o estado de Gujarat criou a Agência Nacional de Desenvolvimento Lácteo, com a missão de organizar, promover e integrar cooperativas leiteiras. Segundo documentos institucionais consultados por analistas, o avanço foi notável: mais de 63 mil cooperativas e 7,5 milhões de membros estavam ativos no início dos anos 1990.

A expansão cooperativista alimentou a chamada “Onda Branca”, lançada pelo governo de Nova Délhi em 1970. Esse programa transformou a Índia, em apenas duas décadas, de um país deficitário em leite para o maior produtor mundial, superando inclusive os Estados Unidos. Hoje, o país responde por mais de 24% da produção global, com um rebanho leiteiro de 304 milhões de vacas e búfalos.

No entanto, a mesma arquitetura que garantiu volume e protagonismo também consolidou um modelo altamente protecionista. A produção organiza-se em estruturas de baixo investimento tecnológico, forte fragmentação e produtividade limitada. Esse conjunto de fatores manteve a Índia afastada da competição internacional — tanto como exportadora quanto como importadora.

A tensão aumentou quando, durante seu governo, Donald Trump aplicou uma tarifa especial de 50% sobre produtos indianos, argumentando que os Estados Unidos não conseguiam acessar o mercado indiano com seus agroalimentos. Segundo o ex-presidente, o sistema agrícola do país asiático estaria “blindado” por práticas protecionistas incompatíveis com a concorrência global.

A resposta do governo de Narendra Modi manteve a linha histórica de defesa do mercado interno. Ainda assim, interlocutores do setor reconhecem que o país enfrenta limites estruturais. A produtividade rural permanece abaixo dos padrões globais, e a pressão demográfica amplia as exigências sobre o sistema agroalimentar.

Ao mesmo tempo, a Índia aparece como candidata a se tornar a terceira maior economia do mundo nos próximos dois anos, segundo diversas projeções internacionais. Para especialistas, alcançar esse patamar de forma sustentável exigirá modernização profunda, especialmente no agro. Incentivos à inovação, redução de custos e flexibilização de controles burocráticos são apontados como eixos indispensáveis para que o país eleve sua competitividade.

Diante desse cenário, analistas destacam que a abertura gradual do mercado de lácteos pode deixar de ser apenas uma discussão comercial e se tornar uma condição estratégica para o futuro econômico da Índia. Caso contrário, alertam, o país corre o risco de perder relevância global nos próximos 10 a 15 anos em um sistema competitivo cada vez mais dinâmico.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de Clarín

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