As exportações agrícolas dos Estados Unidos voltaram ao centro do debate político e econômico, após uma nova ofensiva das principais coalizões do agro para pressionar a futura administração a exigir que a China cumpra, sem mais adiamentos, os compromissos de compra assinados em acordos comerciais anteriores.
A articulação ganhou força nesta semana e vem acompanhada de relatos de crescente frustração entre produtores, processadores e exportadores que dependem de mercados estáveis para garantir fluxo de caixa e previsibilidade.
Segundo lideranças do setor ouvidas por entidades americanas, a cobrança não tem caráter simbólico: trata-se de recuperar bilhões de dólares em compras de commodities — de grãos a proteínas e lácteos — que Pequim se comprometeu a realizar, mas não concretizou integralmente. Esses volumes, argumentam as coalizões, são vitais para restabelecer preços internos, desafogar estoques e reduzir volatilidade, especialmente em segmentos altamente sensíveis às variações de exportação, como o leite em pó e o soro lácteo.
Fontes próximas às associações afirmam que a pressão ocorre em um momento político estratégico. Com a transição presidencial em andamento, os grupos enxergam uma chance rara de influenciar a linha de ação do novo governo, deixando claro que qualquer hesitação pode prolongar a instabilidade que marcou boa parte dos últimos anos no comércio agrícola internacional. Para essas entidades, o recado é simples: é hora de aplicar integralmente as ferramentas diplomáticas e econômicas disponíveis para garantir a execução do chamado Acordo da Fase 1.
No setor lácteo, o clima é igualmente tenso. Analistas especializados apontam que a ausência das compras chinesas — tradicionalmente robustas em ingredientes lácteos — manteve pressão baixista sobre os preços de derivados como leite em pó desnatado, soro de leite e alguns queijos industriais. A recomposição desse fluxo, avaliam os consultores, poderia reduzir rapidamente estoques e criar um ambiente mais favorável para valores de exportação e para a renda do produtor.
Além disso, cooperativas e processadoras ressaltam que as exportações para a China têm efeito cascata em toda a cadeia. Quando a demanda externa cresce, a oferta interna se ajusta, fortalecendo margens industriais e ajudando a equilibrar a renda no campo. O contrário — como se observa agora — resulta em compressão de preços, adiamento de investimentos e redução da liquidez entre pecuaristas de leite e agricultores de base ampla.
Para as organizações que lideram o movimento, o que está em jogo extrapola o curto prazo. Elas argumentam que o cumprimento rigoroso dos compromissos comerciais é essencial para restaurar a confiança internacional na capacidade de execução de acordos por parte dos Estados Unidos e de seus parceiros. Em outras palavras, garantir que a China compre o que foi pactuado não é apenas recuperar receita, mas consolidar um padrão de previsibilidade que influenciará futuras negociações.
A ofensiva também funciona como teste político para o novo governo. Lideranças rurais afirmam que observarão atentamente se a administração demonstrará firmeza suficiente para enfrentar a diplomacia chinesa. Esse posicionamento, afirmam, será interpretado como indicador da prioridade que o agro terá na agenda federal nos próximos quatro anos.
Ainda não há sinal claro de qual será a resposta oficial de Washington, mas fontes próximas à equipe de transição sugerem que o tema deve ganhar espaço já nos primeiros atos diplomáticos. Enquanto isso, o clima de urgência permanece. Sem avanços concretos, a expectativa é de que produtores e exportadores intensifiquem ainda mais sua articulação política, buscando garantir que as exportações agrícolas recebam atenção preferencial na formulação das primeiras medidas da nova administração.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de eDairyNews English






