Estudo realizado pela Embrapa Caprinos e Ovinos constatou que bactérias causadoras da mastite caprina (inflamação nas tetas das fêmeas) estão apresentando resistência aos antibióticos mais utilizados contra a doença. Testes realizados por quatro anos com micro-organismos isolados mostraram, em alguns casos, resistência de até 100% para alguns medicamentos, o que pode estar sendo causado pela aplicação indiscriminada de antibióticos nos animais, diz a pesquisa. A mastite pode causar queda na produção de leite de caprinos.
De acordo com a médica veterinária Viviane de Souza, “essa resistência pode estar associada à administração indiscriminada de antibióticos, sem a prescrição de um médico veterinário, proporcionando, com isso, a resistência a drogas antibacterianas”, alerta. A pesquisadora da Embrapa e integrante da equipe que conduziu os testes com o rebanho, também acredita que o êxito na terapia das mastites vem sendo prejudicado pelo crescente número de cepas resistentes.
Laboratório
A mastite se caracteriza por uma inflamação da glândula mamária, na maioria das vezes, de origem infecciosa, como ocorre com bactérias, fungos e leveduras. A enfermidade determina uma série de alterações no leite, como sua composição, além de diminuir sua quantidade, comprometendo, assim, a qualidade. Ao longo dos testes, foram isoladas amostras da bactéria Staphylococcus aureus, uma das principais causadoras da doença, além de intoxicação alimentar. O material foi obtido a partir de 160 amostras de leite de cabras com mastite subclínica, que é a manifestação com alterações na composição do leite.
Ela só pode ser diagnosticada pela utilização de testes auxiliares, pois alguns dos principais sintomas não são visíveis a olho nu. O material foi coletado de 40 cabras das raças Saanen e Anglo Nubiana, do rebanho da Embrapa. As cepas foram submetidas aos testes de sensibilidade (antibiogramas) para os 11 antibióticos mais utilizados nos tratamentos contra a mastite.
Resistência
Para cada um dos medicamentos, as amostras foram classificadas como sensíveis (quando há eficácia do medicamento contra o micro-organismo testado), resistentes (o medicamento testado não se mostra eficaz) ou intermediárias (o medicamento poderá não apresentar eficácia no controle dessa doença ou cepa). Para a Penicilina G e Rifampicina, foi encontrada resistência de 100%, por parte dos micro-organismos. Para Eritromicina e Tetraciclina, foi encontrado percentual de resistência de 75%. Os demais variaram entre 25 e 50%. Somente o Cloranfenicol não encontrou indicadores de resistência. No Ceará, as pesquisas foram realizadas durante quatro meses na região de Sobral. O trabalho se estendeu aos estados da Paraíba, Pernambuco, Minas Gerais e São Paulo. “Ainda não fechamos os dados da pesquisa, mas confirmamos uma perda significativa na produção do leite desses rebanhos”, reforça Viviane.
Prevenção
Ainda segundo a avaliação da pesquisadora, as dificuldades no controle e tratamento da mastite, a partir de uma realidade maior de resistência dos agentes causadores, preocupa o setor produtivo, principalmente porque há perda de qualidade do leite nas cabras acometidas e a possibilidade de contaminação para consumo humano, o que pode ocorrer, inclusive, durante períodos de tratamento, quando o leite não deve ser aproveitado. “Os laticínios remuneram produtores pela qualidade. Esse mercado penaliza quem não produz leite com as características desejadas”, afirma a cientista, além de reforçar a prevenção, por parte do produtor, pois os indicadores de resistência suscitam a preocupação com o controle da mastite nos rebanhos brasileiros, explica a médica veterinária.
“O ordenhador deve ficar atento à limpeza das mãos, das unhas, e do cabelo, usar solução de iodo a 0,5% para limpeza das tetas dos animais e secá-las com um papel toalha. É recomendável fornecer alimento, ao fim da ordenha, para evitar que animal fique deitado”, observa Viviane.