A oferta de leite deve continuar reduzida em 2021, principalmente no primeiro trimestre. Isso tende a acirrar a competição entre laticínios pela compra do produto para repor estoques, o que pode sustentar os preços do leite ao produtor

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Foto: Alcides Okubo Filho/Embrapa

 

A oferta de leite deve continuar reduzida em 2021, principalmente no primeiro trimestre. Isso tende a acirrar a competição entre laticínios pela compra do produto para repor estoques, o que pode sustentar os preços do leite ao produtor, pelo menos nestes primeiros meses do ano. É o que informa o Boletim do Leite de Janeiro do Cepea/Esalq/USP, divulgado nesta segunda-feira 18.

Ainda de acordo com a publicação, os custos de produção também devem seguir pressionando a pecuária leiteira, diante da forte valorização dos concentrados, do farelo de soja e do milho. No acumulado de 2020, a alta dos custos de produção foi de 23,24% nos principais estados produtores. Em dezembro, o aumento foi de 1,13% na “média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP).

Leia, abaixo, as análises da Equipe Leite do Cepea sobre o mercado leiteiro em 2021 e os custos de produção do setor.

“Perspectiva de 2021: Baixa oferta deve manter acirrada disputa por matéria-prima”

Por Natália Grigol/Do Cepea

“A disponibilidade de matéria-prima deve permanecer limitada em 2021, especialmente no primeiro trimestre do ano, com volumes de leite abaixo da média registrada para o mesmo período de 2020. Esse cenário se deve ao clima desfavorável no ano passado (tempo seco e temperaturas elevadas, que prejudicaram as pastagens) e ao aumento contínuo nos custos de produção (os valores dos dois principais componentes da ração, o milho e o farelo de soja, atingiram patamares recordes).

Do lado da demanda, a limitação na oferta deve manter elevada a competição entre laticínios na compra de leite para repor estoques. Nesse cenário, os preços do leite pagos aos produtores, ao menos no primeiro trimestre de 2021, podem se manter firmes e, portanto, bem acima dos verificados no mesmo período de 2020 (quando a média foi de R$ 1,4655/litro, em termos reais – os valores foram deflacionados pelo IPCA de dezembro/20). Vale lembrar que, em dezembro/20, o preço do leite pago ao produtor pela matéria-prima entregue em novembro foi de R$ 2,1262/litros na “Média Brasil” líquida, em valores reais.

Olhando para a ponta final da cadeia produtiva, a redução da demanda agregada e a perda do poder de consumo do brasileiro – devido à pandemia, ao fim do auxílio emergencial e à alta do desemprego – devem continuar desacelerando o consumo de lácteos. Esse cenário, por sua vez, tende a pressionar as indústrias a diminuírem os patamares médios anuais de preços do leite pagos aos produtores.

Contudo, no encerramento de 2020, as cotações dos derivados lácteos ainda registraram médias elevadas em comparação com o mesmo período de 2019. Em dezembro/20, o preço médio do leite longa vida atingiu R$ 3,23/litro, 28% acima do registrado em dezembro/19, em termos reais.

Custos de produção

Por mais um ano, os custos de produção devem ser um grande gargalo ao pecuarista leiteiro. Isso porque os preços do milho e do farelo de soja devem se manter altos em 2021, sustentados pelas aquecidas demandas interna e externa por esses grãos. Diante disso, o poder de compra de pecuaristas frente a esses insumos de alimentação pode cair e dificultar possíveis incrementos na produção.”

“Concentrados são o principal fator de aumento dos custos em 2020”

Por Rodolfo Jordão/Do Cepea

“O Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira registrou aumento de 1,13% em dezembro de 2020 na “média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP). No acumulado do ano, a alta, nos principais estados produtores foi de 23,24%. O fator que mais influenciou a elevação dos custos foi a valorização das rações e concentrados e dos suplementos minerais. No acumulado de 2020, o aumento nos preços deste grupo de insumos foi de 44,13% na “média Brasil”. Os suplementos minerais, insumo indispensável para nutrição dos rebanhos, também se valorizaram em dezembro, registrando aumento de 1,19% no mês e de 13,24% no acumulado do ano.

Os preços dos alimentos concentrados subiram 2,34% em dezembro, apesar das desvalorizações das matérias primas utilizadas na produção.

O Indicador ESALQ/BM&FBOVESPA Paranaguá da soja recuou 7,53% de novembro para dezembro, e o Indicador ESALQ/BM&FBOVESPA do milho, 6,2% no mesmo período. Os estados que registraram os maiores aumentos nos custos do concentrado em dezembro foram Minas Gerais (5,09%) e Goiás (1,71%). A suplementação mineral teve alta de 1,19% em dezembro na “média Brasil”, com destaque para São Paulo e Paraná, onde as elevações foram de 2,22% e de 1,93%, respectivamente.

Diante do aumento de 4,05% no preço do leite na “média Brasil” e da desvalorização do milho em dezembro, a relação de troca entre esses produtos se tornou mais favorável ao produtor no último mês do ano, após dois meses seguidos de perda no poder de compra. Em dezembro, uma saca de 60 kg de milho valia 35,43 litros de leite, contra 39,30 litros por saca em novembro.

No ano de 2020 a média dos doze meses para a relação de troca foi de 34,34 litros de leite para a aquisição de uma saca de milho de 60kg, 21,82% maior que em relação ao ano de 2019 demonstrando a perda do poder de compra do produtor frente ao milho durante esse período. Essa redução do poder aquisitivo por parte dos pecuaristas se deu diante do aumento do preço, do milho em 48,79% na média de 2020 em relação à média de 2019 (Indicador ESALQ/BM&FBOVESPA do milho) apesar da elevação de 22,60% no preço do leite líquido pago ao produtor (CEPEA/ESALQ (R$/l) no mesmo período.

Após um 1º semestre de pouca variação nos preços de sementes forrageiras em 2020 (+2,61%), as cotações tiveram aumento significativo na segunda metade do ano, de 32,54%. Além das sementes, os valores dos fertilizantes utilizados na implementação e no cultivo das pastagens e das lavouras de milho para silagem subiram 12,62% no segundo semestre de 2020. Com a elevação dos custos da dieta devido ao aumento nos preços dos concentrados e na produção do volumoso, é indispensável que os produtores continuem primando pela eficiência técnica de suas propriedades para garantir margens positivas na atividade leiteira em 2021.”

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A relação entre segurança alimentar e negócios tem ganhado força, já que um descompasso do lado da oferta afeta negativamente a demanda.

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